247 - A entrevista desastrosa do
ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, à jornalista Mônica
Bergamo, em tese, abre espaço para seu próprio impeachment. Esta
hipótese está prevista no artigo 39 da lei 1.079/50, que tem a seguinte
redação:
Art. 39. São crimes de responsabilidade dos Ministros do Supremo Tribunal Federal:
1- alterar, por qualquer forma, exceto por via de recurso, a decisão ou voto já proferido em sessão do Tribunal;
2 - proferir julgamento, quando, por lei, seja suspeito na causa;
3 - ser patentemente desidioso no cumprimento dos deveres do cargo:
5 - proceder de modo incompatível com a honra dignidade e decoro de suas funções.
A interpretação desta lei se submete ao artigo 52 da
Constituição Federal de 1988, que diz que compete ao Senado Federal
abrir processos de responsabilidade contra ministros do Supremo Tribunal
Federal – o que, na história brasileira, jamais ocorreu, embora uma
ação desse tipo pode ser proposta por qualquer cidadão.
A quebra de decoro, em si, é uma questão subjetiva. Mas, na entrevista à Folha (leia mais
aqui), Fux fez diversas confissões constrangedoras:
1) Procurou um réu que seria julgado por ele – José Dirceu – antes de sua posse, na sua campanha para ser ministro do STF.
2) Procurou outro réu a quem julgaria – João Paulo Cunha – antes e depois de sua posse na suprema corte.
3) Em reuniões com representantes do Partido dos
Trabalhadores, ele admitiu ter usado a expressão "mato no peito", que
foi interpretada como um sinal de que travaria o julgamento da Ação
Penal 470.
4) Valeu-se de uma decisão judicial tomada no Superior
Tribunal de Justiça relativa a créditos de IPI, tomada em favor da
União, para pressionar Antonio Palocci a nomeá-lo.
5) Valeu-se de outra decisão, relacionada a um conflito
entre produtores rurais e o movimento dos sem-terra, para obter uma
recomendação de João Pedro Stédile, do MST.
Ministros do STF sempre fizeram algum tipo de política
para chegar ao degrau máximo do Poder Judiciário. Mas, nunca antes na
história deste país, um representante da suprema corte deixou tão
explícito o jogo de troca de favores e de promessas para se chegar lá.
Na cerimônia de posse de Joaquim Barbosa, o mau humor da
presidente Dilma estava muito mais relacionado com o discurso de Luiz
Fux do que com qualquer constrangimento relacionado ao novo presidente
do STF. Afinal, foi ela quem o indicou. E, ao que tudo indica, está
arrependida.
Brasil247
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