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sábado, 1 de dezembro de 2012

Gaza: A pedra no sapato de Israel



       
 
Cairo (Prensa Latina) Fumegante ainda pelos impactos dos mísseis, das bombas e das balas de canhão disparadas pelo Exército israelense, Gaza segue sendo apesar dos mortos e da devastação, uma pedra no sapato de Tel Aviv.
Uma escalada de ataques de oito dias, ainda que os combates tenham começado a se gestar três semanas atrás, deixou profundas feridas na faixa costeira palestina, mas, como costuma ocorrer, significou a ruptura de um estado de coisas insustentável para os 1,7 milhão de pessoas residentes no território, um dos mais pobres e superpovoados do planeta.

Tanques israelenses postados nas bordas com a faixa realizavam desde então disparos esporádicos contra zonas residenciais e aviões não tripulados atacavam membros da infraestrutura do Hamas (Fervor, árabe), a organização islâmica que governa na zona.

Mas bem analisado, a ofensiva tinha começado muito antes, no começo de setembro, quando o ministro da Defesa israelense, Ehud Barak, declarou à imprensa que o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu estava considerando a possibilidade de ocupar Gaza.

O cenário era propício, já que o titular fez as formulações depois de dar uma conferência sobre a Operação Chumbo Fundido, a série de ataques em massa contra Gaza entre fins de 2008 e princípios de 2009 durante a qual morreram mil 400 palestinos, e milhares sofreram feridas.

Apesar do número de vítimas e a devastação da infraestrutura do território, Gaza seguiu de pé e, em outubro passado, recebeu o Emir do Catar, Hamad Bin Jalifa al Thani, quem anunciou a criação de um fundo de 400 milhões de dólares para estancar as feridas da operação israelense de terra arrasada.

Hoje derrubamos o muro do bloqueio (israelense) graças a esta visita histórica e bendita, disse o primeiro-ministro de Gaza, Ismail Haniyeh, em alusão ao cerco de quase seis anos sustentado por Tel Aviv em torno da faixa para asfixiar seus habitantes.

E essa é uma possibilidade que Netanyahu não estava disposto a admitir, muito menos no contexto político interno de seu país, marcado pela convocação de eleições antecipadas, projetadas para completar o superobjetivo de liquidar qualquer possibilidade de reinício das negociações com os palestinos, suspensas há mais de dois anos.

Ademais, no curso do que tem se chamado a segunda guerra de Gaza, surgiram revelações sobre a existência na costa desse território de importantes jazidas de gás, cuja exploração liberaria a Israel da dependência exterior e pouparia somas importantes a sua atribulada economia.

Sobretudo isso, esta é a intenção explícita dos setores mais sionistas de Israel, representados pela coalizão Likud e seu novo integrante, o partido Yisrael Beitenu, do chanceler Avidor Lieberman: deslocar os palestinos à vizinha Península do Sinai, no Egito, e apoderar-se de facto da faixa, para satisfazer sua necessidade de espaço vital.

O indício mais evidente a este respeito foi a preparação no meio do paroxismo dos ataques de uma ofensiva terrestre para a qual foram mobilizados dezenas de milhares de reservistas e meios blindados que foram concentrados nos limites de Gaza, à espera só da ordem de avançar.

Outro fator importante em toda esta paisagem é a iniciativa da Autoridade Nacional Palestina (ANP) de solicitar na ONU a elevação de seu estatuto de entidade observadora a de país não membro, cuja importância está dada pelo grau de oposição que acordou em Estados Unidos, o principal sustente de Israel.

O apoio manifestado pelo Hamas à proposta, difundido no meio de esforços conciliadores entre ambas organizações, acrescenta um elemento favorável à tese segundo a qual a unidade palestina só prejudica seus inimigos.

Uma solução final impunha-se, e essa foi a operação que se estava preparando há muito tempo e que estourou a 21 de novembro pelo disparo de um míssil que matou ao chefe militar de Hamas, Ahmed Jabari, e seu filho menor. O resto é conhecido: uma vez mais Israel tomou Gaza como um polígono de exercícios militares, uma espécie de caça com seres humanos inermes como alvos vivos.

Agora, decorridos os primeiros dias do acordo de fim das hostilidades, no qual Washington teve uma participação essencial, ainda que discreta, é óbvio que a operação tem como resultado o clássico tiro pela culatra.

As possíveis pressões de Washington sobre Tel Aviv evidenciam as apreensões no seio da diplomacia estadunidense por sua imagem entre os países árabes, que foram categóricos ao recusar os ataques israelenses e em criticar as declarações estadunidenses que colocavam agredidos e agressores no mesmo plano.

O acordo de trégua firmou as críticas nos meios mais belicistas israelenses, aos quais não falta razão quando alegam que o texto favorece os palestinos e que a ofensiva significou uma despesa de recursos que não justifica os benefícios.

E assiste-os a razão: dos quatro pontos do acordo, um dos quais especifica que o Egito é a garantia de seu cumprimento, dois respondem a demandas palestinas de longa data, a saber, fim dos assassinatos seletivos de dirigentes do Hamas e flexibilização do bloqueio contra a faixa.

No interesse de Tel Aviv conta-se o fim dos disparos de foguetes palestinos, que na realidade são o efeito e de modo algum a causa do conflito.

É aqui onde jaz a certeza dos palestinos de que, apesar do crescente número de vítimas e o grau de destruição, compreensível dada a assimetria de forças, saíram vencedores da conflagração.

*Corresponsável da Prensa Latina no Egito.

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