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quarta-feira, 14 de agosto de 2013

A moto do Zé Dirceu, o “Caso Siemens” e o discreto charme da hipocrisia

Do QTMD?

LONGO-3Por Raul Longo(*)

“Há que considerar a investigação com dupla cautela. Os detalhes ainda são nebulosos, mas o que transpirou até aqui indica um conluio entre fornecedores para repartir encomendas e elevar seus preços de 10% a 30, sem provas de envolvimento das autoridades.” – editorial da Folha de São Paulo de 03/08/2013 sobre desvios de verbas públicas pelos governos do PSDB na construção do Metrô de São Paulo, denunciadas pela Siemens. (vide aqui)
Freud demonstrou que mesmo inconscientemente somos todos hipócritas. Cada um esconde a realidade de si próprio e isto chega a ser saudável, pois não suportaríamos a verdade de nós mesmos. Não saberíamos lidar com os segredos de nosso subconsciente. No entanto, o indivíduo incapaz de distinguir o que é real do que é delírio é caso de distúrbio mental, doença.
Doença que prejudica a terceiros quando o mentiroso é um hipócrita consciente, intencional e movido por interesses escusos ou confessos. Nesse caso, a hipocrisia é um distúrbio de caráter que pode provocar disfunção mental e o desvio de personalidade em quem nela acredita. Esses desenvolvem dependência viciosa no irreal e impossibilidade de compreensão dos fatos.
A vítima da hipocrisia chega a cometer atos insanos, drásticos ou depressivos. Há casos de automutilação e até de morte, como ocorreu à enfermeira que se medicou contra inexistente epidemia de febre amarela.
Outro psicanalista alemão, Erick Fromm, demonstrou que distúrbios provenientes da sistematização da hipocrisia podem se tornar pandêmicos, envolvendo toda uma sociedade e até a humanidade em geral. Um exemplo clássico ocorreu na própria Alemanha quando a sistematização da hipocrisia por um grupo político promoveu distúrbio mental em toda a sociedade que passivamente permitiu o extermínio de milhões de pessoas.
Talvez pela lamentável experiência com esse tipo de procedimento é que outra instituição germânica, a Siemens Aktiengeselischaft, (Siemens AG), o maior conglomerado de engenharia da Europa, resolveu denunciar o processo de corrupção de sua diretoria no Brasil, envolvendo três sucessivos governadores de São Paulo: Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra, todos do PSDB. (vide aqui)
Apesar de a importância superar centenas de milhões do que se supõe ter sido operado pelo que foi chamado por um dos mais afamados corruptos do Brasil como o “maior esquema de corrupção da história política do país”, a existência do esquema de desvio de verbas públicas denunciado pela Siemens não é novidade.  Em 2008, um ano depois da morte de Antonio Carlos Magalhães, já havia o que se tornou mundialmente conhecido como “Escândalo do Caso Alstom”.
O caso, envolvendo os mesmos políticos do PSDB e os fornecedores das obras do Metrô da capital de São Paulo em milionários desvios de verbas públicas entre os anos 1997 e 2001, chocou a imprensa internacional. (vide aqui)
Mas, então envolvida na indução de preconceitos ao governo e à pessoa do Presidente Luís Ignácio Lula da Silva, a mídia brasileira não dispôs de muito espaço para o caso.
A Alstom foi condenada pela justiça suíça ao pagamento de U$ 43,5 milhões pelo conluio com os corruptos do PSDB brasileiro. (vide aqui) Mas no Brasil os envolvidos continuam impunes e hipocritamente se pronunciam sobre como deveria ser presidido o país, sempre com grande divulgação e apoio da mídia nacional. É o que ocorre, por exemplo, com Fernando Henrique Cardoso, sogro de David Zylberztajn que, então presidente da Eletropaulo, foi um dos principais envolvidos no Caso Alstom.
Entre outros, esses desfalques do patrimônio público nacional identificam e justificam parte dos motivos que levaram o então Ministro da Economia a, na mesma época, dirigir um pedido ao Fundo Monetário Internacional:
Brasília 13 de novembro de 1998
Prezado Sr. Camdessus
O memorando de política anexo descreve as políticas econômicas e objetivos do Governo do Brasil para o período 1998-2001 para apoio das quais o Governo solicita do Fundo uma quantia equivalente a SDR 13.025 (US$ 18.023.210) na forma de um acordo stand-by por um período de 36 meses. 
Michel Camdessus era então o Diretor Gerente do Fundo Monetário Internacional, mas seu sucessor, Horst Köhler, recebeu outra carta assinada pelo mesmo Ministro Pedro Sampaio Malan:
Brasília 23 de agosto de 2001
Sr. Horst Köhler- Diretor Gerente Fundo Monetário Internacional
Prezado Sr. Köhler:
O memorando anexo descreve as políticas econômicas e os objetivos do Governo do Brasil para o restante de 2001 e para 2002 e em apoio às referidas políticas e objetivos o Governo solicita um Arranjo Stand-By junto ao Fundo para um período de 15 meses no valor de DES 12 144.4 milhões (equivalente a cerca de US$ 15 650 milhões).
E um ano e seis dias depois, o Ministro de Fernando Henrique Cardoso, remeteu uma terceira carta ao Sr. Köhler:
Brasília, 29 de agosto de 2002
Exmo. Sr.Horst Köhler
Diretor-Geral do Fundo Monetário Internacional
Washington, DC 20431 — EUA
Senhor Diretor-Geral:
No Memorando de Política Econômica (MPE) anexo, descrevem-se as políticas e objetivos estabelecidos pelo Governo do Brasil para os meses restantes de 2002 e para 2003. Em apoio a essas políticas e objetivos, o Governo do Brasil vem solicitar um Acordo Stand-by com o Fundo, com prazo de 15 meses, no valor de DES 22 821 milhões, montante equivalente a cerca de US$ 30 bilhões, dos quais US$ 10 bilhões seriam desembolsados no âmbito do Programa de Financiamento de Reserva Suplementar.
Para quem tem interesse, esses documentos podem ser lidos na integra por este endereço (vide aqui) onde se inclui também o pronunciamento do então Presidente Fernando Henrique Cardoso sobre as medidas de contenção econômica e aumento de impostos à população, em atendimento as exigências do FMI para a liberação dos empréstimos que jamais resultaram em qualquer benefício à população em saúde, educação, mobilidade urbana, melhoria de estradas ou qualquer outra aplicação em infraestrutura. E ao final daquele governo a população também teve de cobrir o prejuízo R$ 42,5 bilhões do apagão energético.
Apesar da continuidade do congelamento de salários e o aprofundamento do alarmante índice de desemprego, as medidas e o pronunciamento de FHC foram efusivamente enaltecidos pela mídia brasileira. Desde a campanha à presidência de Collor de Melo a população brasileira não era tão exortada à admiração de uma personalidade política através dos meios de comunicação.
Em contrapartida, ao sucessor de FHC se rendeu o maior esforço de degradação de imagem pública de que se tem notícia da história da política internacional. Nunca um governo sofreu tão sistemático, intenso e coeso ataque da mídia. Nem mesmo Getúlio Vargas foi tão denegrido pela imprensa e sofreu tanto opróbrio de seu arquirrival, o jornalista Carlos Lacerda. Até mesmo Hugo Chávez, um dos presidentes mais duramente atacados pelos veículos de comunicação de seu país, em visita ao Brasil espantou-se com o empastelamento à imagem de Lula da Silva pela mídia brasileira.
Por outro lado, se pelo que fizeram por seus povos Mahatma Gandhi e Nelson Mandela foram reverenciados internacionalmente como até então nenhum outro político do mundo, nas manchetes dos mais significativos veículos de imprensa do hemisfério norte e pelos títulos e honrarias concedidas pelas mais tradicionais e respeitadas instituições da Comunidade das Nações, foram superados por Lula da Silva, como demonstrado nesta listagem, ainda que incompleta (vide aqui)
Entre o Estadista Global de Davos (Suíça) e o bêbado que com uma caneca de chope brindou a abertura da Orktoberfest de Blumenau; o Homem do Ano do Le Monde e a anta de um colunista da revista Veja; o Prêmio Chatam House do Reino Unido e o “apedeuta”;  o brasileiro comum foi colocado em traumático embate de compreensibilidade que afetaria a capacidade cognitiva de qualquer ser humano, por mais preparado que fosse.
Dessa forma os chamados formadores de opinião pública se confirmam como meros difusores de estupidez, ignorância, racismo e demais preconceitos deformadores do caráter, da percepção e da sensibilidade coletiva. Como resultado, mesmo daqueles de que se espera maior capacidade de discernimento se observa total desinformação e alijamento de senso crítico sobre os temas distribuídos pela correios eletrônicos. É o que acontece com os que postam campanhas corporativas contra as propostas para expansão do atendimento médico à população, onde se alega ausência de investimento governamental na infraestrutura de saúde.
Ignoram que entre as justificativas da maior evolução do Índice de Desenvolvimento Humano apresentado pelo Brasil em uma década, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, aponta: No caso brasileiro, esta evolução do IDH do ano passado para este ano contou com um impulso maior da dimensão saúde – medida pela expectativa de vida –, responsável por 40% da alta” (vide aqui)
O embotamento de raciocínio promovido pela degradante mídia brasileira impede não somente a capacidade perceptiva como também a dedução associativa e aqueles que tiveram de financiar uma das maiores dívidas externas do mundo ainda não conseguem relacionar as décadas de desarticulação e sucateamento das redes de prestação de serviços públicos, e o abandono de qualquer infraestrutura dos mais diversos setores com consequente e calamitoso estado deficitário desses serviços por todo o país. Deficiências que vem sendo recuperadas através de medidas emergenciais como a contratação de médicos estrangeiros que justifiquem investimentos consequentes e produtivos e não mera demagogia eleitoral ou para desvio de verbas públicas como o exemplificado em (vide aqui).
Viciado em deglutir mentiras regurgitadas pela mídia, e obstruído em sua natural curiosidade humana, o lamentável brasileiro comum não consegue distinguir na origem do que recebe e distribui pela internet aqueles que os estão lesando e enganando hoje porque antes já o lesaram e enganaram inúmeras vezes, como é o caso de Barjas Negri, citado na denúncia do link anterior e condenado pelo TCE de São Paulo por irregularidades em 102 contratos enquanto presidiu o CDHU – Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano de São Paulo no primeiro governo de Geraldo Alckmin. Hoje, ao lado de José Serra, ambos do PSDB e ex-Ministros da Saúde, é um dos líderes da oposição ao programa “Mais Médicos”, conforme se pode ler (vide aqui). 
De raciocínios inutilizados pela sistemática bestificação promovida pelos meios de comunicação, apesar de meros e incógnitos pontos de distribuição de preconceitos e ignorâncias esses solitários reprodutores de desinformação e difusão de mentiras são os inoculadores de perigosa doença que, como ocorreu há poucas semanas, pode se manifestar como surto psicótico coletivo sem que os próprios surtados tenham a menor noção de serem portadores de um desajuste, como no caso das lamentáveis vítimas documentadas nessas imagens (vide aqui).
No entanto, se repetidores e distribuidores de mentiras e preconceitos são apenas os “mulas” da ampla rede de tráfico de estupidez e boçalidade revelada nos meses de junho e julho, qual o foco desta praga mental que se alastrou pelo país surpreendendo o mundo?
Conforme se pode ler (vide aqui).
Nem todo o mundo ficou tão surpreso, mas os financiadores de golpes internacionais dependem de focos internos que disseminem a histeria para justificar suas intervenções através de contratados corretores de potenciais econômicos nacionais de um país. E quando um grupo de corretores pode ser atingido pelo próprio anunciante de um foco dessa infecção que assola o Brasil, o cartel da falácia se põe em alerta e recomenda “dupla cautela”.
Assim se revela o discreto charme da hipocrisia que não ocorreu aqui:
“A Folha cometeu dois erros na edição do dia 5 de abril, ao publicar a reprodução de uma ficha criminal relatando a participação da hoje ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) no planejamento ou na execução de ações armadas contra a ditadura militar (1964-85). O primeiro erro foi afirmar na Primeira Página que a origem da ficha era do arquivo [do] Dops. Na verdade, o jornal recebeu a imagem por e-mail.” – Folha de São Paulo – edição de 25 de abril de 2009.
Nem no que é demonstrado (vide aqui)
E também (vide aqui)
Tampouco teve qualquer cautela para o que é reportado (vide aqui)
Ou a respeito da publicação da foto-montagem que ilustra este texto e que apenas provocou uma transferência da responsabilidade de um crime, como se lê adiante:
“Errei. Devo desculpas a José Dirceu. Na semana passada, reproduzi neste espaço uma informação -assinada por um colega com quem já trabalhei e que julgava ser um jornalista responsável-, dizendo que o ex-deputado teria comprado uma moto Harley-Davidson V-Rod, no valor de R$ 90 mil. Dirceu não comprou a Harley e não sabe dirigir motos” – Barbara Gancia na Folha de São Paulo.
Os “mulas” da rede de tráfico de mentiras e vetores de inseminação de distúrbios psicóticos coletivos se distribuem Brasil afora às centenas, e a Folha de São Paulo também não é o único  centro de difusão da doença que degrada parte da população brasileira e neste inverno contaminou os jovens que, com 20 anos de idade em média, não foram imunizados pela realidade de décadas anteriores e daí apresentarem degenerações típicas de velhice mental precoce.
Além da Folha, alguns outros grupos empresariais e suas subsidiárias também promoveram e promovem demência, alienação, perda de memória, e neurose coletiva; forjando uma sociedade caquética, depressiva e autodestrutiva.
Tem-se falado bastante da bilionária sonegação de impostos por um desses notáveis grupos familiares com discreto charme de hipocrisia, no entanto muito mais preocupante do que os prejuízos econômicos, culturais ou comportamentais que provocam entre nossa sociedade, são os prejuízos à sanidade mental e ao caráter do povo brasileiro.
Recomendável que com esses focos da epidemia que ameaça a população do Brasil se tenha tripla cautela e nenhum charme ou discrição na formulação de imediata regulamentação de suas perniciosas e insalubres atividades. Ou no futuro se terá de recorrer a psicólogos estrangeiros para garantir alguma saúde mental para a sociedade desse país.

*Raul Longo é jornalista, escritor e poeta. Mora em Florianópolis e é colaborador do “Quem tem medo da democracia?”, onde mantém a coluna “Pouso Longo”.

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