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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Tensas as relações Rússia-Estados Unidos


Escrito por Camila Carduz de Prensa Latina

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Moscou (Prensa Latina) O caso do ex-analista da CIA Edward Snowden marcou um ponto na trajetória descendente das já complicadas relações russo-estadunidenses, apesar de inumeráveis gestos diplomáticos empenhados em uma aproximação.
Vale esclarecer que antes da chegada de Snowden ao aeroporto moscovita de Sheremetevo, a 23 de junho, as contradições acumuladas na agenda bilateral, só neste ano, eram suficientes para não crer no fim da retórica de confrontação.

Desde a volta do presidente Barack Obama à Casa Branca (janeiro de 2013), e da reeleição de seu par russo, Vladimir Putin, em março de 2012, as duas potências não conseguiram arrimar posições a questões estratégicas de segurança e o controle armamentista, para citar exemplos.

Existe coincidência entre especialistas russos em que a outorga de refúgio temporário a Snowden, o autor das filtragens do programa secreto da Agência de Segurança Nacional (ANS) para espiar clientes de Internet, foi só uma bolha na tormenta de desavenças.

Para surpresa de Moscou, Obama anunciou à ocasião de um encontro ministerial bilateral que cancelava a visita à capital russa para seu encontro com Putin, a inícios de setembro.

O encontro, preparado antecipadamente pelo chanceler Serguei Lavrov e o secretário norte-americano de Estado, John Kerry, apontava a esclarecer problemas pendentes na agenda, como o escudo antimísseis na Europa, que tanto irrita a Rússia por considerar uma ameaça a seu potencial nuclear e à segurança do território da Federação.

Segundo um artigo do site Global Research, existem outras razões de fundo e peso que impulsionaram Obama para essa abrupta decisão.

E é que parece que o político democrata está disposto a encarar os custos de uma deterioração dos laços russo-norte-americanos e satisfazer as exigências do setor ultrarradical dos neoconservadores.

Dentro do Congresso os senadores Bob Corker -republicano- e Eliot Engel (democrata) têm renovado a campanha para reviver o escudo, ignorando as preocupações de Moscou sobre a dispersão de mísseis balísticos para perto das fronteiras ocidentais da Rússia.

"Acho que o episódio mais recente (Snowden) soma-se a um número de discrepâncias surgidas nos últimos meses (...) e possivelmente seja adequado que façamos uma pausa, que reavaliemos para onde vai Rússia, quais são nossos interesses centrais e calibremos as relações", expôs Obama na roda de imprensa.

Advertiu que "ninguém deve esperar acordos ao cem por cento" e as diferenças não podem ser disfarçadas totalmente.

O comparecimento de Obama ocorreu no meio das conversas em Washington, no formato "2+2", entre Lavrov, Ferry, e os titulares de Defesa, Sergei Shoigu e Chuck Hagel. O pronunciamento do governante não deixou dúvidas sobre um improvável acordo em torno do escudo, ainda que tanto Lavrov como Shoigu asseguraram que a reunião foi construtiva, e o mais importante, não há rupturas, nem retórica de "Guerra Fria", afirmou o chefe da diplomacia russa.

As críticas de Obama em seu discurso à situação dos direitos humanos na Rússia, em particular no âmbito dos homossexuais, seguiram a espiral de confrontação, desde que o Congresso -com sua aprovação- sancionou a lei Magnitsky, em dezembro de 2012.

Por iniciativa conservadora, o regulamento impôs a proibição de rendimento a território norte-americano de servidores públicos russos, supostamente envolvidos em casos de violações de direitos humanos, sobretudo aqueles implicados no processo contra Serguei Magnitsky, acusado de evasão de imposto e morto em prisão, em 2009.

Em similar resposta, a Duma estatal aprovou a lei Dima Yakovlev, que proíbe a adoção de meninos russos por estadunidenses, unido a restrições de visto e outras medidas de pulso.

Para o vice-titular de Relações Internacionais do Conselho da Federação (senado), de Rússia, Andrei Klimov, a atitude de Obama resulta tremendamente estranha, em razão de que foi o mandatário quem proclamou o "reinício" das relações entre Rússia e Estados Unidos.

Obama viajou a Moscou no verão de 2009 com a missão de dar uma volta no relógio das deterioradas relações que deixou o ex-presidente George W. Bush.

O pronunciamento de Obama em relação a Rússia, afirmou Klimov, corrobora uma vez mais sua posição como "refém da situação política interna" e as tentativas de Estados Unidos de erigir-se como o único centro de poder no universo.

A julgamento do assessor presidencial de Putin, Yuri Ushakov, a situação constata que "Estados Unidos não está pronto para desenvolver uma relação com Rússia de igual a igual", como assim o proclamou naquele tempo o ocupante do Escritório Oval.

Ainda que se minimize, não cabem dúvidas que a concessão do refúgio temporário ao autor da revelação do escandaloso programa da NSA para espiar a milhões de usuários, governos e firmas estrangeiras, provocou uma mudança brusca no cronograma de intercâmbios.

Não só ficou adiado o diálogo entre os presidentes, senão a assinatura de importantes acordos relativos ao comércio e os investimentos; a cooperação na luta contra o narcotráfico e o terrorismo internacional, além dos assuntos pendentes no tema do desarmamento nuclear.

Fontes oficiosas de ambas partes asseguraram, no entanto, que os contatos prosseguirão entre os ministros e chefes negociadores.

Ao mesmo tempo, Obama aclarou que irá à cúpula de líderes do G-20, programada nos dias 5 e 6 de setembro em São Petersburgo.

Após reviver os encontros "2+2", suspendidos durante a era Bush, o divórcio em temas de maior envergadura na política internacional e das relações bilaterais faz improvável um giro no declive dos laços russo-estadunidenses.

Como seja, segundo o senador Klimov, os Estados Unidos se verão obrigados a cooperar com a Rússia em temas da atualidade mundial, que exigem decisões mutuamente coordenadas, como é o Conselho de Segurança da ONU, onde as duas potências nucleares têm direito ao veto.

*Chefe corresponsável da Prensa Latina na Rússia.

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