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terça-feira, 6 de agosto de 2013

O verdadeiro problema da saúde pública no Brasil


Uma das principais reivindicações das grandes manifestações que ocorreram em junho foi acesso a saúde pública de qualidade, um direito básico e que a população brasileira sofre todos os dias pela sua escassez.
Como resposta no inicio do mês de julho o governo federal anunciou o programa Mais Médicos para o Brasil, com o objetivo de resolver o problema do déficit de médicos na saúde pública principalmente nas regiões mais pobres e distantes do país.
O projeto já está sendo alterado no que dizia respeito a aumentar em 2 anos o curso de medicina com o intuito de criar um segundo ciclo de ensino, onde os estudantes teriam que fazer um estágio em atenção básica à saúde e em urgência e emergência no Sistema Único de Saúde – SUS. Esse estágio será substituído pela já conhecida residência médica, onde os estudantes terão essa vivência.
Trabalhar para o SUS deve ser encarado pelos estudantes formados como um retorno social do investimento público em sua educação, afinal cerca de 4 milhões de estudantes ficam de fora das universidades todos os anos, criando o absurdo número de 85% da juventude estar hoje fora das universidades.
Segundo o site do projeto MAIS MÉDICOS PARA O BRASIL o governo federal também pretende criar cerca de 12 mil vagas no ensino em medicina até 2017. Das vagas previstas, 3,6 mil deverão ser criadas em instituições públicas e outras 7,8 mil em escolas privadas.
A expectativa, com essa medida, é melhor distribuir as oportunidades do ensino superior e, consequentemente, a atuação dos profissionais no Brasil, reforçando o compromisso do governo com o financiamento das universidades privadas e não com o ensino público.
Sabemos que enquanto o acesso a cursos como medicina for restrito e encarado como um dom para iluminados, enquanto os investimentos em saúde e educação não alcançarem números maiores, a visão elitizada e mercadológica da profissão de medicina irá fazer com que falte médicos no SUS e se formem cada dia mais especialistas em questões estéticas.
Em sua maioria, são os jovens que não conseguem ingressar nas universidades que precisam ter mais acesso aos serviços públicos como a saúde, o que acontece é que os impostos que essa juventude paga direta ou indiretamente financia uma educação excludente e elitista aos nossos futuros médicos.
Os compromissos econômicos do governo ficam muito claros. Não se pauta em nenhum momento as responsabilidades dos planos de saúde que lucram rios de dinheiro, muitas vezes encaminhando pacientes ao SUS e não dando nenhum retorno social por isso. Os investimentos em saúde e educação também são provas disso. Em 2012, 44% do Orçamento da União foi gasto com pagamento de divida pública a banqueiros e grandes empresários, enquanto os investimentos em saúde e educação ficaram com 4,17% e 3,34%.
Médicos estrangeiros
Outro ponto polêmico do projeto é a vinda de médicos estrangeiros para o Brasil, é fato que sem resolver os problemas de investimento e educação esse problema não será totalmente sanado. Porém, como não defender em um país onde o déficit de médicos chega a 54 mil postos de trabalho, que não tenhamos uma solução emergencial? A vinda de médicos estrangeiros com certeza será saudada pelas populações que não tem acesso aos serviços de saúde e deve ser tratada como uma medida emergencial para um problema que de fato tem muita pressa de ser resolvido, pois a falta de médicos no país tem matado pessoas todos os dias nas filas dos hospitais.
O compromisso com os direitos do povo deve continuar a ser cobrado cotidianamente, como o exemplo dado em junho pela população brasileira que se organizou nas ruas, pois só invertendo a lógica de prioridades do governo poderemos ter acesso a saúde e educação de qualidade. Enquanto o financiamento de banqueiros e grandes empresas forem tratadas como prioridade e as políticas sociais forem reféns disso nossa população continuará sem acesso pleno aos seus direitos.
Ana Gabriela Fontana

Fonte: AVERDADE

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