Ao contrário do que disse o superintendente da Polícia Federal em São Paulo, Suzana Fairbanks, que coordenou a investigação no MP em conjunto com a PF, diz que não há conversa, nem áudio e nem e-mail entre a ex-chefe de gabinete da Presidência e o ex-presidente da República; "Eu não sei de onde saiu isso"; sobre Dirceu, procuradora diz que "não tem uma relação direta dele" no esquema investigado pela Operação Porto Seguro
247, com Agência Brasil – Ao contrário do que disse nesta quarta-feira o superintendente da Polícia Federal em São Paulo, delegado Roberto Troncon, ao jornal O Globo, a procuradora da República Suzana Fairbanks, que coordenou a investigação no Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo, em conjunto com a PF, negou a existência de áudios entre Rosemary Nóvoa de Noronha, ex-chefe de gabinete da Presidência da República, e o ex-presidente Lula.
Alvo da Operação Porto Seguro e acusada de participar de um esquema criminoso infiltrado em órgãos federais sobre venda de pareceres técnicos, Rosemary foi exonerada do cargo na última segunda-feira pela Casa Civil, que abriu investigação interna sobre o caso. A Polícia Federal e a Procuradoria da República em São Paulo têm 600 páginas com conteúdo da investigação sobre ela, que teve o escritório e sua casa alvos de ação da PF na última sexta.
Apesar da influência da investigada, a procuradora afastou a possibilidade de Rosemary ter negociado com Lula em órgãos públicos. "Conversa dela com o Lula não existe. Nem conversa, nem áudio e nem e-mail. Se tivesse, nós já não estaríamos mais com a investigação aqui". Suzana ainda rebateu a informação de que ocorreram centenas de telefonemas entre a ex-chefe de gabinete e Lula. "Eu não sei de onde saiu isso, porque nunca tive acesso a isso. Vocês podem virar de ponta cabeça o inquérito, em toda a investigação".
Sobre o ex-ministro José Dirceu, Fairbanks disse que, apesar de ele ter sido citado nos e-mails de Rosemary, não há indícios de sua participação no esquema. "Não tem uma relação direta dele [Dirceu] de sociedade [no esquema] ou de eventual lucro", destacou. A procuradora disse que ainda poderá pedir a prisão de Rosemary "de acordo com a necessidade da investigação", que depende da averiguação do material apreendido. Rosemary responde pelos crimes de tráfico de influência e corrupção passiva.
Influência
De acordo com a procuradora, Rosemary tinha acesso a pessoas com "os cargos mais altos" do governo e vendia sua influência. Ela, explica Suzana, é que teria conseguido a nomeação, em maio de 2010, do diretor de Hidrologia da Agência Nacional de Águas (ANA), Paulo Rodrigues Vieira, e do diretor de Infraestrutura Aeroportuária da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Rubens Carlos Vieira. Os irmãos são acusados de chefiar a quadrilha.
"Eles sabiam que ela tinha acesso a gente privilegiada dentro do governo. Tanto que se utilizava desse cargo, e aí é que está o crime, para fazer contatos de interesse deles. Agendamento de reunião com políticos, nomeação deles nas agências reguladoras. Ela ficava lá, pegando no pé do pessoal do alto escalão, porque tinha essa proximidade, tinha proximidade física", disse a procuradora.
"Ela debate muito com eles, 'vou falar com fulano, vou falar com sicrano'. Mas eu não sei exatamente com quem ela conseguiu isso [as nomeações]. O fato é que estava tentando e ela estava veementemente trabalhando nisso", acrescentou. O pagamento pelas nomeações e outros "favores" dela eram feitos, por exemplo, com dinheiro para cirurgias e novas nomeações, agora realizadas pelos irmãos Vieira, em benefício de Rosemary.
"[A nomeação d] a filha dela [Mirelle Nóvoa de Noronha, assessora técnica da Diretoria de Infraestrutura Aeroportuária da Anac], ela enfiou goela abaixo do Rubens [diretor da Anac]. Ele falava: 'ainda vou ter que aguentar essa'. Ele fala isso para o Paulo [Vieira, seu irmão], como um pagamento dos favores dela. Eles ficaram pagando o favor dela dos cargos por mais de ano", ressalta a procuradora. Mirelle foi exonerada nesta terça-feira do cargo.
"De amizade [entre Rosemary e os irmãos Vieira] não tinha nada, porque era uma cobrança mútua e constante, e bem às claras. A prova dos autos comprova tudo isso", acrescenta Suzana.
Brasil 247
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