Pela primeira vez após o pouso no Planeta Vermelho, em agosto passado, o veículo explorador Curiosity procedeu ao cumprimento da missão principal – o exame químico do solo. O manipulador mecânico da sonda tirou a primeira amostra do vale, situado na gigantesca cratera marciana Galle. Em seguida, um punhado de areia vermelha foi submetido à análise no laboratório de bordo.
Boris Pavlischev
De acordo com a equipe terrestre do Curiosity,
o primeiro teste deu bons resultados – foram obtidos múltiplos dados
que devem ser processados em breve. As informações prestadas foram
intrigantes, frisando ser necessário tomar novas amostras para
"compreender melhor o que acabamos de saber". Não foram adiantados mais
pormenores.
A areia foi examinada por dois
instrumentos. O primeiro e o mais importante estacionado na sonda é o
analisador de amostras (SAM) que, constituindo metade de todos os
equipamentos científicos, se destina a revelar a presença de compostos
orgânicos e funciona aliado ao dispositivo CheMin que estuda a composição química e mineralógica.
Os
cientistas advertem que a eventual descoberta de sustâncias orgânicas
em Marte não apontaria necessariamente para sinais de vida no planeta.
Segundo ressalta a respeito a bióloga da Universidade Estatal de Moscou,
Elena Vorobiova, as moléculas orgânicas foram descobertas pela análise
espectral também em Plutão:
"Existem várias
substancias orgânicas, uma das quais não têm nada a ver com a vida. São
combinações aromáticas, por exemplo, que se encontram no espaço cósmico.
Há moléculas orgânicas específicas ligadas à vida. Por isso, a
composição elementar não nos dá a resposta definitiva. Na sonda estão
instalados aparelhos espectrais, capazes de fazer a análise dos
elementos e dos seus compostos. Se os exames levados a cabo indicam a
presença da vida, então podem ser qualificados como animadores."
Os
compostos orgânicos de origem biogênica, embora integrando seis
elementos conhecidos, têm suas características próprias. Mas custa muito
distingui-los de moléculas não biogênicas, afirma o vice-diretor do
Instituto de Pesquisas Espaciais, Oleg Korabliov.
"É
uma questão complicada. Em princípio, existem métodos que permitem
definir a assimetria de moléculas (chirality em inglês) em substancias
orgânicas que, alias, ainda não foram descobertas em Marte."
Convém frisar que a sonda Curiosity
não anda à procura de sinais de vida, segundo apontam erroneamente as
agencias noticiosas. O veículo marcial tem por objetivo fazer pesquisas e
revelar se em Marte tinham existido as condições propícias para a vida
de microorganismos, sendo necessário esclarecer ainda que papel
desempenhava a água nesse processo. Importa precisar como é que em Marte
surgiu o metano, presente na atmosfera marciana em pequenas
quantidades, prossegue Elena Vorobiova.
"É um dos
marcadores biológicos: o metano se forma no processo de vida, podendo
formar-se fora da vida ou por outras vias. Por isso, não podem haver
garantias de 100%, se o metano for descoberto. Todavia, tal seria um bom
resultado que permitisse enviar no futuro para Marte uma missão
astro-biológica mais concreta."
Tal missão foi executada em meados dos anos 70 do século passado. As sondas Viking
buscavam sinais de vida e obtiveram resultados controversos que, até
hoje, têm originado debates nos círculos científicos. Segundo uma
versão, os sensores foram "induzidos em erro" pelo peróxido de
hidrogênio na presença do qual vivem hipotéticas bactérias locais. O
peróxido ajuda-os a não congelar em clima frio.
Nas palavras de Elena Vorobiova, quando a situação das sondas Viking
era modelada no laboratório da Universidade Estatal de Moscou, os
microorganismos sobreviveram num ambiente com elevada concentração de
peróxidos. Por isso, os resultados obtidos há 35 anos têm vindo a
assumir uma nova interpretação científica a comprovar a hipótese da vida
no solo marciano. Convém apenas estudar, de forma mais escrupulosa e
eficiente, a sua composição, sendo essa uma das tarefas incumbidas ao
rover explorador Curiosity. A sonda tem 23 meses para desvendar "mistérios químicos" de Marte que podem ter surgido há dois bilhões de anos.
ruvr.ru
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