Neste contexto, ao processo de normalização devem ser
atraídos todos os jogadores principais da região. Por isso, realizar a
conferência de paz "Genebra 2" sem a participação do Irã parece
estranho. O assunto foi abordado pelo chefe da diplomacia russa, Serguei
Lavrov, entrevistado por jornalistas em Moscou.
A
Rússia se mostra interessada em normalizar, o mais depressa possível, a
situação na Ucrânia, razão pela qual Moscou se prontifica a fazer os
possíveis a fim de prevenir a cisão do país vizinho. Em virtude disso, a
Rússia poderia desempenhar um papel de mediador nas conversações entre
as partes em conflito. Mas, até hoje, não foram feitas tais propostas
nem pelas autoridades, nem pela oposição ucraniana. Sob este pano de
fundo, a postura e as ações de alguns políticos do Ocidente parecem
irresponsáveis, apontou Lavrov:
"Os problemas internos
de qualquer Estado, inclusive da Ucrânia, devem ser solucionados através
do diálogo, dentro no campo jurídico institucional e sem a intervenção
externa. Não sei quem e por que razão na União Europeia se manifesta
descontente com a nossa avaliação dos acontecimentos na Ucrânia.
Gostaríamos que alguns colegas europeus não agissem assim, sem
cerimónias, em face de uma crise durante a qual, sem convites oficiais,
os membros de alguns governos europeus vieram participar de
manifestações antigovernamentais ocorridas num Estado com que eles
mantêm relações diplomáticas. É simplesmente indecente comportar-se
assim. É isto que vem agravando a situação”.
Ao mesmo
tempo, o conflito na Síria que se prolonga há 3 anos, constitui mais um
tema internacional candente, mencionado pelo ministro das Relações
Exteriores da Rússia. Para o dia 22 de janeiro está agendada a
conferência "Genebra 2". Segundo assinalou Lavrov, um dos temas será a
neutralização dos grupos terroristas que atuam na Síria e, antes de
mais, dos que tem a conexão com a Al-Qaeda. Um papel importante no fórum
poderia ser desempenhado pelo Irã, mas, como se soube, Ban Ki-moon,
cancelou o convite enviado a seus representantes.
Na
ótica do chanceler russo, tal decisão é errada. Com isso, o
secretário-geral usou de astúcia ao afirmar que Teerã não partilha os
princípios do Comunicado de Genebra de 2012, ou seja, não considera a
demissão de Bashar Assad como uma condição indispensável para a
regularização da crise síria. Conforme tal lógica de raciocínio,
adiantou Lavrov, a Rússia também não deverá participar, dado que não
insiste na demissão de Assad, sendo da opinião que as negociações de paz
devem iniciar-se sem quaisquer condições prévias. Dito de outra
maneira, a razão para cancelar o convite do Irã parece artificial e a
composição de seus participantes está longe de ser completa:
"Trata-se
de um evento de um dia para o qual foram convidados 40 ministros das
Relações Exteriores, incluindo ministros de regiões distantes: América
Latina e Ásia Oriental. Apesar de carácter oficial desta conferência, a
ausência do Irã na lista de 40 convidados não deixa de suscitar muitas
dúvidas, tanto mais que em todas as etapas do nosso trabalho conjunto
com a parte norte-americana, John Kerry reconheceu mais de uma vez em
público que o Irã deveria desempenhar um importante papel na busca de
vias de regularização da crise na Síria."
Enquanto isso,
na véspera, o Irã e o Ocidente procederam à implementação dos acordos
alcançados em Genebra entre representantes da República Islâmica e o
"sexteto" de mediadores. No âmbito desse acordo, Teerã cessou o
enriquecimento do urânio até ao nível de 20%. Em contrapartida, os EUA e
a UE levantaram uma parte das sanções. Em particular, foi cancelada a
proibição de exportação de derivados de petróleo. Os EUA se
disponibilizam a descongelar uma parte dos ativos num valor superior a 4
bilhões de dólares.
Importa acrescentar terem sido
levantadas as sanções no setor iraniano de transportes, o que permitirá
modernizar o antigo parque aéreo. Todavia, realçou Lavrov, este será o
primeiro passo na solução do problema nuclear iraniano. Os passos
seguintes serão discutidos por Teerã e o "sexteto" nas próximas semanas,
asseverou Serguei Lavrov.
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