O combustível que alimenta as manipulações nas passeatas
por Luís Nassif
Há um combustível eficiente para dar gás às manobras da direita: as movimentações da esquerda.
O
esquema de provocação é simples de entender. Há um mal-estar
generalizado no ar, contra tudo e contra todos. As redes sociais
potencializaram esse sentimento, que acabou transbordando para as ruas.
Nas
ruas, constatou-se o que lideranças lúcidas do PT já tinham percebido
desde os tempos do mensalão: é mais fácil a classe média tomar as ruas
do que os movimentos populares. A velha mídia tentou criar essa
mobilização no julgamento do mensalão. Quase conseguiu. Agora pegou
carona nos movimentos do Passe Livre.
Ocorre
que ficou claro a existência das bandeiras difusas, a falta de uma voz
centralizada de comando, como limalhas jogadas em uma placa, sem um imã
para juntá-las.
Quais
as bandeiras da direita? O casamento gay, certamente não. A PEC 37,
apenas um slogan para a maioria dos participantes. A redução do preço da
passagem, de modo algum. Os ataques `a Globo e Veja?
O
que os provocadores fazem é potencializar alguns sentimentos difusos,
manobrando-os para seu lado. E aí conseguiram a extraordinária
contribuição da esquerda. Por exemplo, havia o sentimento disseminado de
que a manifestação deveria ser apartidária. Aí o presidente do PT São
Paulo decide que as ruas são do PT e coloca manifestantes com a camiseta
e as bandeiras do partido.
Entregou de bandeja para os provocadores do tal Movimento Nacionalista, que transformaram o sentimento em ação violenta.
Agora,
organizações de esquerda planejam uma grande movimentação esta semana,
para mostrar a capacidade de mobilização das esquerdas.
Há
a necessidade de um mínimo de bom senso. Qualquer movimentação de rua,
neste momento, servirá apenas para prolongar a catarse e servir como
massa de manobra para provocadores.
Assim
como a violência policial incendiou o movimento, a disputa
esquerda-direita jogará combustível em um fenômeno que começa a ceder.
Deixem esvaziar o movimento de ruas e confinem as disputas apenas às redes sociais.
As
últimas cenas violentas de rua começam a afastar a classe média. Não há
consenso nem entre os grandes grupos de mídia. A Globo está empenhada
em mostrar o caráter pacífico e difuso do movimento, com receio de que
derive para uma ação contra a Copa do Mundo que prejudique seu negócio
da década. Por aí entende-se o editorial do jornal, pedindo o fim das
manifestações.
O
Estadão não tem interesse em dar corda contra Dilma, para não trazer de
volta Lula. Veja parece um desses canhões de navio que ficam soltos no
convés, destruindo tudo ao seu redor.
Pretender
disputar a rua, neste momento, significará apenas dar forma e
substância ao que é, hoje em dia, apenas a exploração oportunista de
sentimentos difusos.
Façam
uma pausa, recolham as armas, dêem tempo para os diversos governos -
federal, estaduais e municipais - respirarem e pensarem nas respostas
objetivas às demandas da população.
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