Por Cauê Seignemartin Ameni
Os sinais de que o ataque químico contra um subúrbio de Damasco, em 21 de agosto, não foi lançado pelo regime de Bashar Assad voltaram a crescer hoje. O jornalista Robert Fisk, conhecido por seu vasto conhecimento sobre o Oriente Médio relata, no The Independent de Londres, os rumores que circulam na região. Baseiam-se em informações coletadas por investigadores russos. Dão conta de que fragmentos das bombas que provocaram a morte de 1,4 mil pessoas em 21/8, não correspondem ao arsenal químico do regime. E vão além: traçam, com base em evidências, o provável caminho das armas. Elas teriam partido da Líbia — um país envolto em caos, após a deposição do governo de Muamar Gaddafi. Além de caírem nas mãos dos “rebeldes” sírios, teriam se espalhado por outras partes do mundo árabe. Seriam, portanto, um sinal de que a intervenção do Ocidente na Líbia está gerando um novo foco de tensões e ameaças.
O regime sírio, explica Fisk, possui arsenais de armas químicas. Foram fornecidas pela então União Soviética (URSS). Cientes da procedência, os russos teriam comparado os fragmentos encontrados em Damasco com as características das armas que Moscou vendeu, no passado. Constataram que não há semelhança. Em contrapartida, encontram evidências de que os destroços de Damasco correspondem às bombas químicas vendidas pela URSS a Yêmen, Egito e… Líbia, em 1967.
Ora, prossegue Fisk, sabe-se que, após a queda de Gaddafi, na Líbia, boa parte do arsenal de seu exército espalhou-se pelo Oriente Médio. Foi contrabandeado, por gurpos filiados à Al Qaeda, para o Mali, Argélia, deserto de Sinai e, muito provavelmente, também para os “rebeldes” sírios. A influência crescente da Al Qaeda sobre elas tornou-se, nos últimos meses, fato reconhecido por todos.
O velho repórter lembra, além disso, que a participação do regime sírio nos ataques químicos já era considerada improvável. Três dias antes (18/08), inspetores da ONU haviam sido autorizados a entrar no país. Estavam a pouco mais de cinco quilômetros das explosões. Qual seria a lógica, pergunta Fisk, de permitir sua entrada e produzir, em seguida, um incidente capaz de provocar uma intervenção internacional no país? Já os “rebeldes” tinham este interesse. Em dificuldades militares há alguns meses, eles desejavam reembaralhar o jogo — o que fatalmente ocorreria com a entrada dos EUA na guerra.
Assad não é inocente; muito menos, os rebeldes. Se os governos ocidentais pretendiam ter maior controle sobre as armas do regime, conseguiram. Se pretendiam destroçar mais um país, como fizeram com a Líbia, para reconstruí-lo conforme suas diretrizes, falharam. Em grande parte devido ao interesse russo de reocupar um lugar de destaque no cenário internacional, encabeçando uma outra via, sem depender necessariamente do eixo EUA-Israel-Europa.
Fonte: OUTRASPALAVRAS
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