Há dois anos no poder, Santos enfrenta resistência interna às negociações de paz e não estanca queda no crescimento
O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, completa nesta terça-feira (07/08) dois anos de mandato com a popularidade em queda. Há um ano, 71% dos colombianos tinham uma imagem favorável do presidente. Hoje, são somente 47%. No entanto, o mais preocupante é que o índice daqueles que têm uma imagem negativa dobrou nesse período e conta atualmente 48% da população. As principais causas desse panorama, de acordo com analistas entrevistados por Opera Mundi, são a violência e a economia.
Efe
Santos, acompanhado pela chanceler María Angela Holguín. Política externa é o maior trunfo da atual administração
De fato, 47% de aprovação não se trata de um dado negativo, mas acaba ganhando essa conotação em um país plebiscitário como a Colômbia, onde o ex-presidente Álvaro Uribe se manteve com níveis de aprovação acima dos 70% ao longo de quase todos os oito anos no poder, enquanto seus predecessores tiveram um processo de desgaste muito rápido, em que todos terminaram seus mandatos com entre 10 e 20% de aprovação. Santos teme esse cenário.
O principal problema, na opinião dos analistas, é a economia. Mais recentemente a Colômbia começou a padecer da crise global e seu crescimento caiu de 6% ao ano para menos de 4%. Em seguida vem o tema da insegurança, seja aquela gerada pela criminalidade urbana como pela luta contra as guerrilhas.
Segurança
Já sobre o tema da segurança, o que domina o debate é o ressurgimento dos ataques das guerrilhas das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e ELN (Exército de Libertação Nacional da Colômbia), assim como o surgimento de grupos neo-paramilitares, que afetam a imagem do governo. Tanto que 70% dos colombianos desaprova as políticas do presidente para a segurança pública, e o ministro da Defesa, Juan Carlos Pinzón, tem uma das avaliações mais baixas do Executivo (39%). Santos se defende afirmando que é a percepção da violência foi o que aumentou, mas que, na verdade, o número de crimes diminuiu.
Segundo Clara López, presidente do partido do Pólo Democrático, a deterioração dos temas de segurança é real e vem acontecendo desde antes da chegada de Santos à Presidência: “desde 2008 é constante o aumento dos ataque de guerrilheiros e paramilitares. A política de guerra simplesmente não deu os resultados esperados. Uribe fracassou. Na última etapa de seu mandato já estava claro que a “segurança democrática” não estava funcionando, porém, paradoxalmente, sua popularidade era altíssima. Santos ganhou as eleições montado sobre esse prestígio e agora está pagando o preço.”
Wikicommons
Mas Uribe está longe de reconhecer que esses problemas foram gerados em anos anteriores. Tanto que decidiu, depois de meses de ataques a Santos, formar um grupo político de oposição de olho nas eleições de 2014.
[Pedra no sapato de Santos, Uribe critica frequentemente o atual governo e criou um movimento de oposição de olho nas eleições de 2014]
O movimento, conformado pelos expoentes mais visíveis da extrema-direita colombiana, se chama Puro Centro Democrático e critica abertamente o atual governo, especialmente sobre a insegurança e a vontade de se negociar a paz com as FARC. O PCD propõe também uma reforma constitucional, provavelmente dirigida a eliminar o limite de dois mandato presidenciais.
“Vivemos uma guerra anacrônica. De tempos em tempos chegamos à conclusão de que não há uma saída militar possível. O presidente Santos precisa decidir se vai buscar condições para uma paz política negociada ou se quer seguir com o jogo de Uribe”, opina López.
Avanços
Santos foi o primeiro presidente a ser eleito com a possibilidade de servir por dois mandatos presidenciais, por isso pode planejar políticas de longo prazo e reformas substanciais no estado. Por um lado, ele quis criar um marco legal e institucional para negociar com a guerrilha. A Lei de Vítimas, a lei de Restituição de Terra e o Marco pela Paz, por exemplo, vão nessa direção.
Por outro lado, em somente dois anos, Santos conseguiu avançar em temas muito delicados, como a redistribuição das riquezas entre as regiões; o reposicionamento da Colômbia na América Latina, com a renovação das relações com a Venezuela, o Equador e a integração à Unasul (União de Nações Sul-Americanas); a aprovação de TLCs com os Estados Unidos, Suíça, União Europeia e Coreia do Sul; o enfraquecimento das FARC com importantes baixas no secretariado da guerrilha (Mono Jojoy e Alfonso Cano) e, finalmente, uma abertura de diálogo sobre a paz, com os direitos das vítimas e a restituição de terras. Esses itens deixaram se formar parte de um discurso que polariza o país entre ONGs e governo, para ser uma política de Estado com leis aprovadas e infraestrutura institucional. Mas se tratam de reformas de longo prazo, cujos resultados, se forem alcançados, serão colhidos em alguns anos.
Em um giro pelo país para mostrar as conquistas dos dois primeiros anos de mandato, e para tentar reverter as pesquisas, Santos sublinhou todos esses temas, em particular o das relações internacionais, onde está a maior porcentagem de aprovação. “Conseguimos jogar um papel muito relevante novamente na região, quando antes estávamos isolados, de certa forma encurralados”, disse Santos.
No entanto, apesar de não declarar abertamente, a maior ambição do presidente é assinar um acordo de paz com a guerrilha. Mas Santos sabe que a maior parte do país ainda é uribista e enxerga a negociação como uma debilidade, por isso, prefere abordar o tema com uma linguagem ambígua. A Colômbia deve ser o único país com um conflito armado onde os inimigos querem negociar a paz, mas precisam antes convencer a população civil.
Opera Mundi
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