A
intransigência da bancada ruralista na Comissão Mista que analisa a
Medida Provisória 571 (do Código Florestal), impõe que se faça um alerta
à sociedade brasileira: mantido este comportamento, não haverá outro
caminho, senão a defesa de um novo veto presidencial. Contudo, uma nova
Medida Provisória só poderá ser editada no ano que vem. Assim, neste
interregno, teremos um vazio jurídico. É o pior dos mundos. Mas é nele
que apostam os ruralistas. Uma legislação débil, cheia de brechas
levaria o confronto para o âmbito dos tribunais onde os ruralistas têm
sobradas razões para acreditar que prevalecerá a força do poder
econômico e dos seus advogados caríssimos. Mas e os milhões de
agricultores familiares que a MP de Dilma protege, mas que poderão ficar
sem regras justas e claras para recomporem suas áreas de preservação
permanente e reservas legais? E que poderão ficar alijados dos avanços
estruturais que a nova lei poderá propiciar?...
Sim, o momento requer urgente mobilização social. Só isto será capaz de brecar a insaciabilidade do ruralismo brasileiro.
Na
sessão do último dia 8 de agosto, a Comissão Mista iniciou o processo
de votação dos destaques dos deputados e senadores ao texto da MP.
Depois de muito diálogo, conseguimos reduzir de 343 para 38 o número de
destaques. Nesta primeira sessão, votamos apenas cinco e, destes, pelo
menos dois aprovaram conteúdos extremamente danosos ao meio ambiente.
O
primeiro, desobriga a manutenção das proteções vegetais dos rios e
cursos d’agua naturais que são intermitentes, ou seja, aqueles que não
tem água corrente o ano todo. Ora, boa parte dos rios do Nordeste e dos
igarapés da Amazônia são intermitentes, daí que aprovou-se uma
autorização para a retirada das matas ciliares o que promove mais
desmatamento e afeta a proteção das águas. No cerrado brasileiro, onde
nascem os rios que formarão as bacias do Araguaia e do Tocantins e
outros que ajudam na formação dos principais rios nordestinos, como o
São Francisco, estão inúmeros rios intermitentes. O que foi aprovado nos
autoriza afirmar: a seca, tragédia que marca a história de milhares de
brasileiros, especialmente no Nordeste, ceifará ainda mais vidas. Pobre
“velho Chico”...
O
segundo destaque, de novo proposto e aprovado pela bancada ruralista,
autoriza a supressão do conceito de área abandonada, subutilizada ou
utilizada de forma inadequada. Uma propriedade, para cumprir com sua
função social, precisa, além de atender aos índices de produtividade,
que as terras sejam exploradas de forma racional e adequada. O artigo 28
da lei 12.651 impede novos desmatamentos para propriedades que
contenham áreas abandonadas. Acabar com o conceito é garantir que se
poderá desmatar tranquilamente novas áreas, mesmo que na propriedade, se
utilize outras de forma inadequada e irracional !
Assim,
a suspensão da reunião da Comissão Mista, decisão que tomei após quase
dez horas de debates, apenas estancou um rito de votações que têm pela
frente outras propostas dos ruralistas e que, igualmente, agridem o meio
ambiente, afetam a proteção dos mananciais e promovem a anistia das
multas já aplicadas. Tome-se, por exemplo, o destaque que propõe alterar
o conceito de veredas, que são mananciais de água e de ocorrência de
vegetação própria. Nas veredas estão resguardadas parte da produção de
água que irão alimentar os rios. Mas não é só isso; outro destaque
propõe a instalação de reservatórios para irrigação e aquicultura nas
áreas de preservação permanente, promovendo mais desmatamento. E ainda
mais: há destaque para anistia de multas já aplicadas aos desmatadores e
que tornam inválidos os termos de ajustamento de conduta firmados com
os órgãos ambientais, sob a mediação do Ministério Público. Por fim,
querem suprimir os mecanismos de controle e fiscalização da origem dos
produtos florestais, como a madeira e o carvão.
Sinto
que devo alertar a sociedade brasileira na tentativa de conter o
“liberou geral” que os ruralistas desejam, afrontando a lei,
colocando-se contrários às medidas promovidas pela presidenta Dilma e
avançando sobre o meio ambiente com voracidade. Temos pouco tempo. No
dia 28 de agosto retomaremos as votações.
Deputado Federal (PT/RS), presidente da Comissão Mista para análise da MP 571 e vice-líder da bancada do PT.
Por Elvino Bohn Gass
A intransigência da bancada ruralista na
Comissão Mista que analisa a Medida Provisória 571 (do Código
Florestal), impõe que se faça um alerta à sociedade brasileira: mantido
este comportamento, não haverá outro caminho, senão a defesa de um novo
veto presidencial. Contudo, uma nova Medida Provisória só poderá ser
editada no ano que vem. Assim, neste interregno, teremos um vazio
jurídico. É o pior dos mundos. Mas é nele que apostam os ruralistas. Uma
legislação débil, cheia de brechas levaria o confronto para o âmbito
dos tribunais onde os ruralistas têm sobradas razões para acreditar que
prevalecerá a força do poder econômico e dos seus advogados caríssimos.
Mas e os milhões de agricultores familiares que a MP de Dilma protege,
mas que poderão ficar sem regras justas e claras para recomporem suas
áreas de preservação permanente e reservas legais? E que poderão ficar
alijados dos avanços estruturais que a nova lei poderá propiciar?...
Sim, o momento requer urgente mobilização social. Só isto será capaz de brecar a insaciabilidade do ruralismo brasileiro.
Na sessão do último dia 8 de agosto, a
Comissão Mista iniciou o processo de votação dos destaques dos deputados
e senadores ao texto da MP. Depois de muito diálogo, conseguimos
reduzir de 343 para 38 o número de destaques. Nesta primeira sessão,
votamos apenas cinco e, destes, pelo menos dois aprovaram conteúdos
extremamente danosos ao meio ambiente.
O primeiro, desobriga a manutenção das
proteções vegetais dos rios e cursos d’agua naturais que são
intermitentes, ou seja, aqueles que não tem água corrente o ano todo.
Ora, boa parte dos rios do Nordeste e dos igarapés da Amazônia são
intermitentes, daí que aprovou-se uma autorização para a retirada das
matas ciliares o que promove mais desmatamento e afeta a proteção das
águas. No cerrado brasileiro, onde nascem os rios que formarão as bacias
do Araguaia e do Tocantins e outros que ajudam na formação dos
principais rios nordestinos, como o São Francisco, estão inúmeros rios
intermitentes. O que foi aprovado nos autoriza afirmar: a seca, tragédia
que marca a história de milhares de brasileiros, especialmente no
Nordeste, ceifará ainda mais vidas. Pobre “velho Chico”...
O segundo destaque, de novo proposto e
aprovado pela bancada ruralista, autoriza a supressão do conceito de
área abandonada, subutilizada ou utilizada de forma inadequada. Uma
propriedade, para cumprir com sua função social, precisa, além de
atender aos índices de produtividade, que as terras sejam exploradas de
forma racional e adequada. O artigo 28 da lei 12.651 impede novos
desmatamentos para propriedades que contenham áreas abandonadas. Acabar
com o conceito é garantir que se poderá desmatar tranquilamente novas
áreas, mesmo que na propriedade, se utilize outras de forma inadequada e
irracional !
Assim, a suspensão da reunião da
Comissão Mista, decisão que tomei após quase dez horas de debates,
apenas estancou um rito de votações que têm pela frente outras propostas
dos ruralistas e que, igualmente, agridem o meio ambiente, afetam a
proteção dos mananciais e promovem a anistia das multas já aplicadas.
Tome-se, por exemplo, o destaque que propõe alterar o conceito de
veredas, que são mananciais de água e de ocorrência de vegetação
própria. Nas veredas estão resguardadas parte da produção de água que
irão alimentar os rios. Mas não é só isso; outro destaque propõe a
instalação de reservatórios para irrigação e aquicultura nas áreas de
preservação permanente, promovendo mais desmatamento. E ainda mais: há
destaque para anistia de multas já aplicadas aos desmatadores e que
tornam inválidos os termos de ajustamento de conduta firmados com os
órgãos ambientais, sob a mediação do Ministério Público. Por fim, querem
suprimir os mecanismos de controle e fiscalização da origem dos
produtos florestais, como a madeira e o carvão.
Sinto que devo alertar a sociedade
brasileira na tentativa de conter o “liberou geral” que os ruralistas
desejam, afrontando a lei, colocando-se contrários às medidas promovidas
pela presidenta Dilma e avançando sobre o meio ambiente com voracidade.
Temos pouco tempo. No dia 28 de agosto retomaremos as votações.
* Elvino Bohn Gass é Deputado
Federal (PT/RS), presidente da Comissão Mista para análise da MP 571 e
vice-líder da bancada do PT.
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