Em Reflexão intitulada “O que Obama sabe”, Fidel Castro adverte o presidente estadunidense Barack Obama e os inimigos da Revolução bolivariana para o perigo de ações contra o poder revolucionário venezuelano no caso de o presidente Hugo Chávez não conseguir superar sua enfermidade: “Um erro de Obama pode ocasionar um rio de sangue na Venezuela. O sangue venezuelano é sangue equatoriano, brasileiro, argentino, boliviano, chileno, uruguaio, centro-americano, dominicano e cubano”. Leia a íntegra.
O
artigo mais demolidor que vi neste momento sobre a América Latina foi
escrito por Renan Vega Cantor, professor titular da Universidade
Pedagógica Nacional de Bogotá e publicado há três dias no sítio da
internet Rebelion, sob o título “Ecos da Cúpula das Américas”.
É curto e não devo fazer versões dele, os estudiosos do tema podem encontrá-lo no sítio indicado.
Em mais de uma oportunidade mencionei o infame acordo que os Estados
Unidos impuseram aos países da América Latina e do Caribe ao criar a
OEA, naquela reunião de chanceleres, que teve lugar na cidade de Bogotá,
no mês de abril de 1948; nessa data, por mero acaso, encontrava-me ali
promovendo um congresso latino-americano de estudantes, cujos objetivos
fundamentais eram a luta contra as colônias europeias e as sangrentas
tiranias impostas pelos Estados Unidos neste hemisfério.
Um dos mais brilhantes líderes políticos da Colômbia, Jorge Eliécer
Gaitan, que com crescente força tinha unido os setores mais
progressistas da Colômbia que se opunham ao engendro ianque e de cuja
próxima vitória eleitoral ninguém duvidava, deu seu apoio ao congresso
estudantil. Foi assassinado traiçoeiramente. Sua morte provocou a
rebelião que prosseguiu ao longo de mais de meio século.
As lutas sociais têm-se prolongado por milênios, quando os seres
humanos, mediante a guerra, dispuseram de um excedente de produção para
satisfazer as necessidades essenciais da vida.
Como se sabe, os anos de escravidão física, a forma mais brutal de
exploração, estenderam-se em alguns países até pouco mais de um século
atrás, como ocorreu em nossa própria Pátria na etapa final do poder
colonial espanhol.
Nos próprios Estados Unidos a escravidão dos descendentes de africanos
se prolongou até a presidência de Abraham Lincoln. A abolição dessa
forma brutal de exploração se produziu apenas 30 anos antes que em Cuba.
Martin Luther King sonhava com a igualdade dos negros nos Estados Unidos
até há apenas 44 anos, quando foi vilmente assassinado, em abril de
1968.
Nossa época se caracteriza pelo avanço acelerado da ciência e da
tecnologia. Estejamos ou não conscientes disso, é o que determina o
futuro da humanidade, trata-se de uma etapa inteiramente nova. A luta
real de nossa espécie por sua própria sobrevivencia é o que prevalece em
todos os rincões do mundo globalizado.
De imediato, todos os latino-americanos e de modo especial nosso país,
serão afetados pelo processo que tem lugar na Venezuela, berço do
Libertador da América.
Não preciso repetir o que vocês sabem: os vínculos estreitos de nosso
povo com o povo venezuelano, com Hugo Chávez, promotor da Revolução
Bolivariana, e com o Partido Socialista Unido criado por ele.
Uma das primeiras atividades promovidas pela Revolução Bolivariana foi a
Cooperação Médica de Cuba, um campo em que nosso país alcançou especial
prestígio, reconhecido hoje pela opinião pública internacional.
Milhares de centros dotados com equipamentos de alta tecnologia que a
indústria mundial especializada fornece, foram criados pelo governo
bolivariano para atender seu povo. Chávez, por sua parte, não selecionou
custosas clínicas privadas para atender a sua própria saúde; pôs esta
em mãos dos serviços médicos que oferecia a seu povo.
Ademais, nossos médicos consagraram uma parte de seu tempo à formação de
médicos venezuelanos em salas de aula devidamente equipadas pelo
governo para essa tarefa. O povo venezuelano, com independência de seus
recursos pessoais, começou a receber os serviços especializados de
nossos médicos, situando-os entre os melhores do mundo e seus
indicadores de saúde começaram a melhorar visivelmente.
O presidente Obama sabe disto perfeitamente bem e comentou sobre isso
com alguns de seus visitantes. A um deles disse com franqueza: “o
problema é que os Estados Unidos enviam soldados e Cuba, diferentemente,
envia médicos”.
Chávez, um líder, que em 12 anos não conheceu um minuto de descanso e
com uma saúde de ferro, viu-se, contudo, afetado por uma inesperada
enfermidade, descoberta e tratada pelo próprio pessoal especializado que
o atendía; não foi fácil persuadi-lo da necessidade de prestar atenção
máxima a sua própria saúde. Desde então, com exemplar conduta, cumpriu
estritamente as medidas pertinentes, sem deixar de cumprir seus deveres
como Chefe de Estado e líder do país.
Atrevo-me a qualificar sua atitude como heroica e disciplinada. De sua
mente não se afastam, nem um minuto sequer, suas obrigações, às vezes
até o esgotamento. Posso dar fé disso porque não deixei de ter contato e
trocar opiniões com ele. Sua fecunda inteligência não parou de
consagrar-se ao estudo e à análise dos problemas do país. Ele se diverte
com a baixeza e as calúnias dos porta-vozes da oligarquia e do império.
Jamais ouvi dele insultos nem baixezas ao falar de seus inimigos. Não é
sua linguagem.
O inimigo conhece as arestas de seu caráter e multiplica seus esfoerços
destinados a caluniar e golpear o Presidente Chávez. De minha parte não
vacilo em afirmar minha modesta opinião ─ emanada de mais de meio século
de luta ─ de que a oligarquia jamais poderia governar de novo esse
país. É, por isso, preocupante que o governo dos Estados Unidos tenha
decidido em tais circunstâncias promover a derrocada do governo
bolivariano.
Por outro lado, insistir na caluniosa campanha de que na alta direção do
governo bolivariano existe uma desesperada luta pelo comando do governo
revolucionário se o Presidente não consegue superar sua enfermidade, é
uma grosseira mentira.
Pelo contrário, tenho podido observar a mais estreita unidade da direção da Revolução Bolivariana.
Em tais circunstancias, um erro de Obama pode ocasionar um rio de sangue
na Venezuela. O sangue venezuelano é sangue equatoriano, brasileiro,
argentino, boliviano, chileno, uruguaio, centro-americano, dominicano e
cubano.
É preciso partir desta realidade, ao analisar a situação política da Venezuela.
Compreende-se por que o hino dos trabalhadores exorta a mudar o mundo afundando o império burguês?
Fidel Castro Ruz
27 de abril de 2012, às 19h59
Fonte: Cubadebate
Tradução: José Reinaldo Carvalho, editor do Vermelho
Fonte: Solidários
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