AS LEIS DA DIALÉTICA
Continuação...
SEGUNDA LEI: A ação recíproca.
·
O
encadeamento dos processos.
Sabemos que de um sistema
econômico: o capitalismo. Sabemos que a divisão da sociedade em
classes, a luta de classes, não nasceu, como o pretendem os nossos adversários,
do marxismo, mas, pelo contrário, que este constata a existência de tal
luta, e colhe a sua força no proletariado já existente.
Portanto, de processo em
processo, chegamos ao exame das condições de existência do capitalismo. Temos,
assim, um encadeamento de processos, que nos demonstra que tudo influi sobre
tudo. É a lei da ação recíproca.
Vemos, portanto, que, contrariamente ao metafísico, que concebe o mundo
como um conjunto de coisas congeladas, o dialético verá o mundo como um
conjunto de processos. E, se o ponto de vista dialético é verdadeiro para a
natureza e para as ciências, é-o, também, para a sociedade.
“O antigo método de pesquisa e de pensamento, a que Hegel chama o
método metafísico, e que se ocupava, de preferência, do estudo das coisas
consideradas na qualidade da objetos fixos dados... tinha, então, a sua grande
justificação histórica”.(Engels: “Ludwig Feuerbach”)
Por conseguinte, estudavam-se,
nessa época, todas as coisas e a sociedade como um conjunto de «objetos
fixos dados», que não só não mudam, mas, particularmente para a
sociedade, não estão destinados a desaparecer.
Engels assinala a importância
capital da dialética, “essa grande ideia fundamental segundo a qual o mundo
não deve ser considerado como um complexo de coisas acabadas, mas como um
complexo de processos em que as coisas, na aparência estáveis, do mesmo modo
que os seus reflexos intelectuais no nosso cérebro, as ideias, passam
por uma mudança ininterrupta de devir e decadência, em que, finalmente, apesar
de todos os insucessos aparentes e retrocessos momentâneos, um desenvolvimento
progressivo acaba por se fazer hoje”.(Engels:”Ludwug Feuerbach”)
O que constatamos atualmente é a
existência, em todas as coisas, do encadeamento de processos que se produzem
pela força interna daquelas (o autodinamismo). É que, para a dialética,
insistimos nisso, nada está acabado. É necessário considerar o
desenvolvimento das coisas como não tendo nunca cena final. No fim de uma peça
de teatro do mundo, começa o primeiro ato de uma outra. Para dizer a verdade,
ele começa já no último da peça precedente...
·
As grandes descobertas do século XX.
O que determinou o abandono do
método metafísico foram as três grandes descobertas do século XX:
1.
Descoberta da célula viva e do seu
desenvolvimento;
Antes
desta descoberta, tomava-se como raciocínio o “fixismo”. Depois desta
descoberta foi possível precisar a “evolução”. Ela
permite compreender que a vida é feita de uma sucessão de mortes e nascimentos,
e que todo o ser vivo é uma associação de células. Pelo que esta constatação
não deixa subsistir qualquer fronteira entre animais e plantas, e, assim,
afasta a concepção metafísica.
2.
A descoberta da transformação da energia;
Outrora, a
ciência acreditava que o som, o calor, a luz, por exemplo, eram completamente
estranhos uns aos outros. Ora, descobre-se que todos esses fenômenos se podem
transformar uns nos outros, que há encadeamentos de processos, tanto na matéria
inerte como na natureza viva.
3.
D descoberta da evolução no homem e nos
animais.
Darwin, disse
Engels, demonstra que todos os produtos da natureza são o resultado de um longo
processo de desenvolvimento de pequenos germes, unicelulares na origem: tudo é
o produto de um longo processo, tendo por origem a célula.
E
Engels conclui que, graças a essas três grandes descobertas, podemos seguir o
encadeamento de todos os fenômenos da natureza, não só no interior dos
diferentes domínios, mas, também, entre eles.
Foram,
pois, as ciências que permitiram o enunciado desta segunda lei da ação
recíproca. Devemos, portanto, fixar que: a ciência, a natureza, a sociedade devem
ser vistas como um encadeamento de processos, e o motor que trabalha para
desenvolver tal encadeamento é o autodinumismo.
·
O desenvolvimento histórico ou em espiral.
Se examinarmos mais de perto o
processo que começamos a conhecer, vemos que a maçã é o resultado de um
encadeamento de processos. De onde vem à maçã? Vem da árvore. De onde vem à
árvore?
Da maçã. Podemos, portanto,
pensar que temos um círculo vicioso, no qual acabamos por voltar sempre ao mesmo
ponto. Árvore, maçã. Maçã, árvore. O mesmo acontecerá se tomarmos o exemplo do
ovo e da galinha. De onde vem o ovo? Da galinha. De onde vem a galinha? Do ovo.
Se considerássemos as coisas
assim, tal não seria um processo, mas um círculo, e essa aparência deu mesmo a
ideia do «retorno ao eterno». Isto é, voltaríamos sempre ao mesmo ponto, ao de
partida.
Mas, vejamos exatamente como se
põe o problema:
1. Eis uma maçã.
2. Esta, decompondo-se, dá
origem a uma ou mais árvores.
3. Cada árvore não dá uma maçã,
mas várias.
Não voltamos, portanto, ao mesmo
ponto de partida; voltamos à maçã, mas num outro plano.
Do mesmo modo, se partirmos da
árvore, teremos:
1. Uma árvore que dá
2. maçãs, e maçãs que darão
3. árvores.
Também aqui voltamos à árvore,
mas num outro plano. O ponto de vista ampliou-se.
Não temos, pois, um círculo,
como as aparências poderiam fazer pensar, mas um processo de desenvolvimento, a
que chamaremos desenvolvimento histórico. A história mostra que o tempo
não passa sem deixar marca. Passa, mas os desenvolvimentos que ocorrem não são
os mesmos. O mundo, a natureza, a sociedade constituem um desenvolvimento que é
histórico, e, em linguagem filosófica, se chama «em espiral».
Servimo-nos desta imagem para
fixar as ideias. É uma comparação para ilustrar o fato de que as ciências evoluem
segundo um processo circular, mas não voltam ao ponto de partida; voltam um
pouco acima, num outro plano, e assim sucessivamente, o que dá uma espiral
ascendente.
Por conseguinte, o mundo, a
natureza, a sociedade têm um desenvolvimento histórico (em espiral), que é movido,
não o esqueçamos, pelo autodinamismo.
·
Conclusão.
Acabamos de estudar nestes
primeiros capítulos sobre a dialética, as duas primeiras leis: a da mudança e a
da ação recíproca. Isto era indispensável para poder abordar o estudo da lei da
contradição, porque é ela que nos vai permitir compreender a força que move «a
mudança dialética», o autodinamismo.
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