Durante a elaboração do Terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos, os movimentos sociais propuseram e aprovaram a criação da Comissão de Verdade e Justiça, para investigar e julgar os crimes cometidos pela Ditadura Militar no Brasil. Hoje, finalmente está sendo formada essa comissão, agora apenas Comissão da Verdade, pois o povo brasileiro ainda terá que lutar mais tempo para conquistar a justiça.
Muitos são os ataques feitos a essa comissão. São ataques que vem de lugares certos: dos setores atrasados da igreja que apoiaram a ditadura, dos latifundiários, empresários e banqueiros que financiaram e enriqueceram com a ditadura, e é claro dos próprios militares que temem que a terrível verdade venha à tona. Uma das ‘justificativas’ dos implacáveis ocultadores da verdade é a de que foram cometidos crimes não só pelos militares, mas também pelos brasileiros que lutaram pela reposição do presidente eleito democraticamente, pelo fim da ditadura e redemocratização do país, e por um país mais justo e igualitário, diferente do Brasil de hoje, o país mais desigual da América Latina.
Esses combatentes, heróis nacionais, sofreram torturas, foram separados de seus filhos, viram seus entes mais queridos serem estuprados e assassinados na sua frente, tiveram os seios arrancados, foram seviciados com cassetetes, foram para o pau de arara, foram assassinados, jogados em valas comuns ou no mar, sem direito a qualquer tipo de julgamento. Suas famílias até hoje procuram seus corpos e a verdade a respeito de seu ‘desaparecimento’. Esses heróis são chamados pela corja da mentira de ‘terroristas’, maneira pela qual parece ter se encantado a burguesia em chamar os revolucionários em todo mundo, como o Che Guevara e as Farc na Colômbia.
Muitas vezes, mais que caluniar os revolucionários através da mídia, a direita tenta de fato transformar movimentos armados em terroristas, corrompendo elementos e manipulando as informações. É o que aconteceu com os Panteras Negras, movimento armado em defesa dos negros nos EUA nos anos 60, que foi difamado pelo governo que infiltrou drogas e traficantes nas comunidades negras.
É por isso que antes de aceitarmos que os jovens que lutaram contra a Ditadura Militar no país, ditadura que censurou a imprensa e a educação, que mais que duplicou nossa dívida externa e nossa dependência dos EUA, que impôs o medo a vários brasileiros, que impedia a livre expressão e atuação política, que freou os avanços sociais do Governo Jango e acabou com as Reformas de Base fortalecendo a desigualdade social no Brasil, antes de aceitarmos que eles sejam chamados de terroristas é importante lembrarmos o papel da luta armada em toda a história do Brasil.
A História do Brasil é a história da resistência do povo brasileiro. Na época da Colônia foram as revoltas dos índios contra a exploração portuguesa e até de outros países da Europa que vigoraram. Como a Confederação dos Tamoios (1555-1567), a Guerra dos Aimorés na Bahia (1555-1673) e a Guerra dos Potiguares na Paraíba e no Rio Grande do Norte (1586-1599). Depois começaram as resistências às entradas e bandeiras, expedições bandeirantes e bugreiras de exploração e captura de indígenas no interior do Brasil que duraram até o séc. XVII.
É quando, por não conseguir dominar a maioria dos índios e adequá-los à escravidão, os portugueses trazem mais escravos da África e mesmo com todo o esforço para impedir a organização dos negros que eram separados de seus familiares e tribos para não poderem se comunicar, quase imediatamente começam a existir os Quilombos e finalmente acontece a Guerra dos Palmares. Os quilombos foram formados no Brasil até o século XVIII e ainda hoje existem diversas comunidades negras e quilombolas no país que sofrem nas mãos das armas policiais.
Durante quatro anos, de 1617 a 1621 ocorreu o Levante dos Tupinambás, numa brava resitência aos portugueses que abrangeu o estado do Espirito Santo e a Bahia e na mesma época a primeira Insurreição Pernambucana, a Guerra da Luz Divina. Em São Paulo teve a Revolta de Amador Bueno, insurreição popular de 1641. Em 1666 o Motim do Nosso Pai em Pernambuco e a Revolução de Beckman ou revolta de comerciantes no Maranhão de 1684 a 1685. E continuam as revoltas indígenas com a Confederação dos Cariris na Paraíba e no Ceará (1686-1692) e com a Guerrilha dos Muras já no século XVIII. Houve também a Guerra dos Emboabas entre bandeirantes e mineiros, em São Paulo e Minas Gerais no início de 1700.
E aí se iniciam as Revoltas contra as altas taxas e impostos como a Revolta do Sal em Santos (1710), a Guerra dos Mascates entre comerciantes e canavieiros em Pernambuco (1710-1711), os Motins do Maneta, sublevações ocorridas em Salvador contra o monopólio do sal e aumento de impostos (1711) e a Revolta de Felipe dos Santos, revolta de mineradores contra a política fiscal em Minas Gerais (1720).
E é claro, com a ampliação do controle português sobre o território brasileiro continuam as resistências indígenas desta vez no Amazonas, a Guerra dos Manaus (1723-1728) e a Resistência Guaicuru no Mato Grosso do Sul (1725-1744). E até os jesuítas se unem aos índios catequizados em luta contra Portugal e Espanha na Guerra Guaranítica no Sul (1751-1757).
Até que chegamos as Revoltas pela Independência do Brasil, a famosa Inconfidência Mineira republicana (1789), a Conjuração Carioca (1794-1795) e a Conjuração Baiana ou Revolução dos Alfaiates (1798), revolta independentista e abolicionista, a única das três que não foi abortada. E já no século XIX a Conspiração dos Suassunas em Pernambuco (1801) onde também houve a Revolução Pernambucana em 1817, a Revolução Liberal de 1821 na Bahia e no Pará, a Independência da Bahia (1821-1823) e finalmente a Guerra da independência do Brasil contra militares legalistas portugueses, que abrangeu Bahia, Piauí, Maranhão, Pará e Uruguai (1822-1823).
Após tantas revoltas, nosso Brasil ganha o título de Império e com ele mais revoltas, a Confederação do Equador, revolta separatista no Nordeste (1823-1824), a Revolta dos Mercenários contra o Império do Brasil no Rio de Janeiro (1828), onde também ocorreu a Noite das Garrafadas, insurreição popular e confronto entre brasileiros e portugueses em abril de 1831 e a famosa Cabanada, insurreição popular em Pernambuco e Alagoas (1832-1835).
Aí volta, cada vez mais forte o desejo pela república, como na Federação do Guanais na Bahia (1832) e a Rusga que foi uma revolta entre conservadores (que queriam manter o império) e republicanos no Mato Grosso (1834). Teve a também famosa Cabanagem, insurreição popular no Pará (1834-1840), a Revolta dos Malês na Bahia (1835), a Revolução Farroupilha no Rio Grande do Sul (1835-1845), a Sabinada, insurreição popular na Bahia (1837-1838), a Balaiada, insurreição popular no Maranhão (1838-1841) e as Revoltas Liberais de São Paulo e Minas Gerais (1842) e Revolta dos Lisos em Alagoas (1844).
Em Pernambuco teve o Motim do Fecha-Fecha (1844), o Motim do Mata-Mata (1847-1848) e a Insurreição Praieira, revolta socialista de 1848 a 1850. A Revolta do Ronco de Abelha no Nordeste (1851-1854), o Levante dos Marimbondos em Pernambuco (1852), a Revolta da Fazenda Ibicaba em São Paulo (1857), o Motim da Carne sem Osso, insurreição popular na Bahia (1858), a Revolta dos Muckers, insurreição popular-messiânica no Rio Grande do Sul (1868-1874), a Revolta do Quebra-Quilos, insurreição popular no Nordeste (1874-1875), a Guerra das Mulheres, uma insurreição popular no Nordeste (1875-1876) que mostra que as mulheres nunca foram passíveis na história, a Revolta do Vintém, insurreição popular no Rio de Janeiro (1880) e Curitiba (1883) e finalmente a Proclamação da República em 1889.
Na verdade, quando os poderosos no Brasil veem que não vão conseguir parar as revoltas populares, eles vão e fazem as mudanças por eles mesmos para dar algumas concessões ao povo sem perder o poder, mas com isso as revoltas não param, pois o povo quer uma mudança real que beneficie a todos e transforme a sociedade. E na República teve a Revolução Federalista no Rio Grande do Sul (1893-1894), a República de Cunani, insurreição popular-separatista no Amapá (1895-1900) e a famosa Guerra de Canudos, insurreição popular-messiânica na Bahia (1896-1897).
Já no século XX, teve a Revolução Acreana, insurreição popular-separatista no Acre (1900-1903), a Revolta da Vacina, insurreição popular no Rio de Janeiro (1903), a Revolta da Chibata no Rio de Janeiro (1910), a Guerra do Contestado, insurreição popular-messiânica em Santa Catarina e Paraná (1912-1916), a Sedição de Juazeiro, insurreição política no Ceará (1914), a Revolta dos 18 do Forte no Rio de Janeiro (1922) e finalmente a Coluna Prestes, insurreição militar de fama internacional (1923-1925) que aderiu a Revolta Paulista de 1924.
Já no século XX, teve a Revolução Acreana, insurreição popular-separatista no Acre (1900-1903), a Revolta da Vacina, insurreição popular no Rio de Janeiro (1903), a Revolta da Chibata no Rio de Janeiro (1910), a Guerra do Contestado, insurreição popular-messiânica em Santa Catarina e Paraná (1912-1916), a Sedição de Juazeiro, insurreição política no Ceará (1914), a Revolta dos 18 do Forte no Rio de Janeiro (1922) e finalmente a Coluna Prestes, insurreição militar de fama internacional (1923-1925) que aderiu a Revolta Paulista de 1924.
Por conta destes movimentos (o último deles com forte influência socialista), o Governo pensou: “Façamos a Revolução antes que o povo a faça.” E aí veio a Revolução de 1930, golpe de Estado civil-militar e a Revolução Constitucionalista de 1932, revolta político-militar e guerra civil em São Paulo e finalmente a Intentona Comunista, insurreição comunista no Rio de Janeiro, Pernambuco e Rio Grande do Norte (1935) e a Intentona Integralista, insurreição integralista no Rio de Janeiro (1938). Até na Segunda Guerra Mundial teve mais de 23.000 soldados brasileiros lutando para derrotar o nazismo.
E aí vem em 1964 o Golpe Militar fascista, patrocinado pelos poderosos e pelos EUA, para deter os avanços que o povo vinha conseguindo depois de tanto sangue derramado para cada vitória do povo. E como nunca faltou à luta contra as injustiças, filhos do povo brasileiro novamente se armaram na cidade e no campo contra este novo inimigo do avanço da luta popular, o Governo Ditatorial. A Luta armada, as guerrilhas urbanas e rurais de 1965 a 1972, como a Guerrilha do Araguaia, foram terrivelmente reprimidas pelo Regime militar com requintes de crueldade e desumanidade, e por isso os melhores filhos do povo foram barbaramente torturados e assassinados. Mas a luta não parou e por isso hoje, temos nossa “liberdade democrática” que garante por exemplo, a publicação do Jornal A Verdade e a existência do PCR, e é também por fruto desta luta armada e de outras lutas que vieram depois, que este ano poderemos ir as urnas e eleger nossos representantes, direito que não tínhamos na ditadura militar.
É claro que ainda há muito pelo que lutar, e até hoje, filhos do povo são assassinados pela polícia fascista na luta por moradia e terra no país. Mas a luta não vai parar. A polícia pode nos chamar de terroristas, mas somos o povo brasileiro e lutaremos, se for preciso com armas na mão, até que toda desigualdade e exploração seja banida, lutaremos até a construção da sociedade socialista.
Luanna Grammont de Cristo, Belo Horizonte
Fonte: A Verdade
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