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terça-feira, 17 de abril de 2012

Gigantes e Pigmeus no Espelho da História

Mário Maestri*
Gigantes e Pigmeus no Espelho da História. 16885.jpegOs líderes do chamando mundo cristão-ocidental receberam a notícia como presente esperado há 74 anos. Na noite de natal de 1991, Mikhail Gorbatchov anunciava melancolicamente sua renúncia à presidência da União Soviética, em dissolução terminal. Nesse então, o governo da República da Rússia encontrava-se nas mãos de seu opositor, Boris Ieltsin, paladino da restauração capitalista sem restrições, apoiado firmemente pelo capital mundial. O ano de 1992 daria-se já sob o signo da reconstrução da ordem capitalista nas ex-repúblicas socialistas.
Iniciada em 1917 com a vitória dos trabalhadores, a construção da URSS dera-se nas mais difíceis condições, devido às enormes destruições da guerra civil e da terrível intervenção militar internacional. A revolução fora comandada e realizada sob a direção de dezenas de gigantes como Lênin, Trotsky, Kamenev, Zinoviev, Krupskaya, etc. Homens e mulheres que marcaram e ainda marcam a humanidade pelo que fizeram, pelo que disseram e pelo modo como viveram, mesmo quando engolidos pelos avanços e tropeços daquele memorável evento histórico.
 
Não foi mera ironia da história que a destruição da URSS deu-se sob a direção de personagens literalmente fantasmagóricas, como Mikhail Gorbatchov e Boris Ieltsin, que, após prestarem os serviços para os quais foram destacados, eclipsaram-se inexoravelmente, esquecidos e rejeitados pela população russa e mundial, por mais que a mídia e a intelligentsia mundiais tenham se eforçado em transformá-los em protagonistas históricos referenciais. Também nesses casos, a real dimensão e a natureza da obra realizada espelharam-se na qualidade dos obreiros.
De origem rural, Mikhail Gorbatchov, o principal propositor e impulsionador da restauração capitalista da URSS sob controle, foi guindado ao poder máximo em 1985-91, após longa militância no Partido Comunista, no qual ingressou muito jovem. Após defenestrado do governo em 1991, foi inapelavelmente rejeitado pela população russa na sua tentativa de seguir na vida política. Em 1996, obteve vergonhoso 0,5% dos votos nas eleições para a presidência da Federação Russa.
Tentando dar vida ao espectro em que se transformara, sempre regiamente remunerado, Gorbatchov criou fundação; escreveu memórias; ministrou palestras; participou de filmes; criou partidos, etc., tudo sem resultados e repercussão. Levantamento recente apontou-o como um dos personagens do século 20 mais rejeitados pela população russa. Em indiscutível metáfora entre o que prometera e o que construíra, por soma milionária, em 1997, serviu de garoto propaganda de clip da Pizza Hut, multinacional estadunidense.
Boris Ieltsin, de raízes operárias, presidiu a Rússia de 1991 a 1999, enquanto o país sangrava, sob a ação das forças privatizadoras nacionais e mundiais. Sua gestão caracterizou-se pelo populismo, pelo oportunismo, pela violência e pela desbragada corrupção. Durante seu governo, sob a orientação do FMI, a produção industrial caiu pela metade, a inflação disparou em flecha, cortaram-se na carne direitos e conquistas sociais. Imensas parcelas da população soçobraram no desemprego, na pobreza e na literal indigência, enquanto os novos milionários canibalizavam os bens públicos.
É enorme o esforço da grande mídia para que a memória da população mundial retenha Boris Ieltsin como líder destemido, encarapitado em tanque militar, em 20 de outobro de 1991, arengando valentemente às tropas golpistas que, nos fatos, já haviam registrado sua neutralidade diante dos sucessos. Entretanto, a lembrança dominante de Ieltin é indiscutivelmente a de líder mundial apalhaçado, deprimido e alcoolizado, eternamente escorado pelos acessores, após frequentes porres homéricos.
Ao igual que Gorbatchov, seu grande desafeto, Boris Ieltsin renunciou ingloriamente ao governo em 31 de dezembro de 1999, deixando como herdeiro e primeiro-ministro Vladimir Putin. Este lhe assegurou que ele, sua família e próximos não seriam levados à justiça por saque dos bens e riquezas públicas. Boris Ieltsin morreu em 23 de abril 2007, aos 76 anos. As exéquias do presidente beberrão foram celebradas feericamente pelo novo Estado. Enquanto a população russa registrava enorme despreocupação com o falecimento, acorreram ao enterro líderes mundiais como George Bush, Bill Clinton, Lech Wałęsa, John Major e Giulio Andreotti. Como "Diz-me quem chora por ti, que te direi quem és!"
Mário Maestri, 63, é professor do Curso e do PPG em História da UPF, RS. E-mail: maestri@via-rs. net


Fonte: Pravda.ru

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