O massacre de 16 civis praticado pelo sargento da marinha norte-americana Robert Bales no último dia 11 de março, na vila de Panjwai, no Afeganistão, trouxe de volta às manchetes a discussão sobre a crescente violência no país – mesmo após mais de 10 anos da sua invasão pelas tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) – e sobre as consequências da mais longa guerra imperialista da atualidade.
O caso é emblemático, pois mostra como a população afegã vive refém do medo e da violência impostos pela ocupação militar estadunidense. Segundo a versão do comando do exército dos EUA, o sargento, após uma noite de bebedeira com colegas, deixou a base militar de Zangabad durante a madrugada e dirigiu-se a um bairro próximo, onde praticou o crime. Em apenas uma casa, matou a sangue frio 11 pessoas, incendiando depois seus corpos. “Vi todos os meus parentes mortos, incluindo meus filhos e netos”, disse Haji Samad, um dos poucos sobreviventes. Testemunhas, entretanto, afirmam que o militar não agiu sozinho. “Vários soldados entraram em casa e ficaramem silêncio. Permanecino chão, fingindo estar morto”, disse Jan Agha, que escapou da chacina.
Este é apenas mais um dos muitos atos de violência protagonizados por soldados das tropas norte-americanas contra civis afegãos. Desde o início, em 2001, a ocupação militar do Afeganistão é marcada por inúmeros crimes contra a população e violações dos direitos humanos. Essa prática não vem diminuindo à medida que a ocupação se consolida, mas, ao contrário, não para de crescer, e ganha traços de sadismo. Dois casos exemplificam bem isso: o primeiro se deu em janeiro deste ano, quando soldados urinaram em corpos de militantes do Talibã mortos em combate, e o segundo em fevereiro, ocasião em que militares norte-americanos queimaram cópias do Alcorão – o livro sagrado dos muçulmanos – numa base militar em Bagram, provocando um repúdio maciço contra as tropas da Otan, dentro e fora do país.
Crimes de guerra
Crimes de guerra e desrespeito aos direitos humanos e aos valores de uma população local são comuns nas agressões praticadas pelo imperialismo. No Afeganistão, o primeiro caso do que acabou se tornando uma prática comum no país foi o massacre de Dasht-i-Leili, em dezembro de 2001, apenas dois meses depois da invasão, que provocou a morte de cerca de três mil prisioneiros talibãs, assassinados sumariamente quando eram transportados para a prisão.
Em 2005, cinco soldados norte-americanos promoveram outro massacre, dessa vez na região de Kandahar, que ficou marcado pelo fato de que eles esquartejaram os cadáveres das vítimas e guardaram seus ossos e crânios como “troféus de guerra”. Já no dia 22 de agosto de 2008, na aldeia de Azizabad, província de Herat, um ataque aéreo das forças de ocupação matou mais de 90 civis, a maioria deles crianças. Outros “erros” que ocasionaram a morte de civis também incluem o dia em que soldados franceses bombardearam um ônibus cheio de crianças, em 2008, matando oito; uma ronda feita pelas tropas norte-americanas que matou 15 passageiros e o extermínio de uma vila inteira durante uma festa de casamento, incluindo uma mulher grávida e várias crianças.
A lista de crimes e assassinatos praticados pelas tropas imperialistas é realmente interminável. De acordo com o fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, documentos militares norte-americanos divulgados pelo site trazem evidências contundentes de crimes de guerra cometidos no Afeganistão e revelam episódios muito mais violentos do que aqueles que são anunciados oficialmente pelos militares. “É a continuidade dos pequenos eventos, são as contínuas mortes de crianças e de insurgentes pelas forças aliadas”, afirmou.
Segundo Assange, dezenas de irregularidades cometidas pelos Estados Unidos, tais como assassinatos de civis e operações secretas contra rebeldes, não constam dos relatórios oficiais. Entre as informações divulgadas pelo WikiLeaks estão documentos que afirmam que centenas de civis foram mortos, sem conhecimento público e oficial, pelas tropas norte-americanas e aliadas, planos secretos para exterminar líderes rebeldes, bem como a discussão do suposto envolvimento do Irã e do Paquistão no apoio à resistência.
Número de mortos bate recorde
Nos últimos meses a violência no Afeganistão alcançou seu nível mais intenso desde que os EUA invadiram o país há mais de nove anos. Em 2011, de acordo com a missão da ONU no Afeganistão (Unama), um total de 3.021 civis morreram vítimas de violência no país, um recorde desde o início da invasão. O número de vítimas aumentou 8% na comparação com os 2.790 civis mortos em 2010. Ainda segundo a ONU, 2011 foi o quinto ano consecutivo de alta das mortes de civis no Afeganistão. Ao todo, mais de 12 mil civis morreram durante a invasão, contra um total de 2.753 soldados da Força Internacional de Assistência na Segurança (Isaf) mortos, revelando com clareza a crueldade e a covardia dessa guerra. “Há muito tempo civis afegãos vêm pagando o preço mais alto da guerra”, disse Jan Kubis, representante especial do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
População vive sem água potável
De fato, apesar das inúmeras riquezas que possui – o Afeganistão possui reservas de petróleo estimadas em 1,8 bilhão de barris e é rico em ferro, cobre, cobalto, ouro e metais fundamentais para a indústria, como o lítio – o país foi completamente arrasado pelos anos de guerra e ocupação militar imperialista, e a população condenada à mais absoluta miséria.
O governo do presidente fantoche Hamid Karzai é considerado o terceiro mais corrupto do mundo, atrás apenas dos governos da Somália e de Mianmar. Atualmente, 90% de todo o gasto público do Afeganistão vem hoje de ajuda internacional. Passados mais de 10 anos desde o início da invasão, a expectativa de vida no país diminuiu drasticamente, enquanto que a mortalidade infantil, a pobreza e a desigualdade social estão entre as maiores do mundo: 36% da população vive abaixo da linha da miséria e 35% da população adulta está desempregada.
Tem mais: a maioria da população afegã não tem acesso à água potável e ao saneamento básico, e apenas 10% possuem energia elétrica. O país tem também a segunda pior taxa de mortalidade materna do mundo, atrás apenas de Serra Leoa, fazendo com que, para cada 10 mil nascimentos, 1.600 mulheres morram durante o parto e, segundo relatório da agência da ONU para crimes e drogas, cerca de 1 milhão de afegãos entre 15 e 64 anos são viciados, ou seja, 8% da população.
Essa situação é resultado de uma década de uma guerra injusta e covarde promovida pelas maiores potências do mundo contra um país miserável. Injusta porque se trata de uma guerra imperialista, uma guerra de pilhagem cujo objetivo sempre foi tomar posse das riquezas afegãs e explorar seu povo. E covarde porque estamos falando de uma guerra promovida pelos maiores exércitos do mundo contra um dos países mais atrasados e indefesos do planeta.
O resultado é que hoje o Afeganistão é um país literalmente arrasado, sua economia está praticamente destruída, não há liberdade para o povo e, como vimos, o desemprego, a violência e a pobreza são maiores do que antes da guerra. Se ainda há alguém no mundo que não reconheça a ferocidade e a brutalidade do imperialismo, olhe para o que estão fazendo com o Afeganistão.
Da Redação
Fonte: A VERDADE
Fonte: A VERDADE
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