Enviado por: Miguel Gonçalves Trujillo Filho
É hora de mostrar a todo o povo
quais interesses a revista Veja defende
Editorial ed. 478, Jornal BRASIL DE
FATO,25/04/2012
Desde a
fundação do Estado republicano com a revolução francesa, sempre houve setores da
classe dominante que se utilizam dos cargos públicos, das influências nos
poderes Executivo, Legislativo e Judiciário para se locupletarem e acumularem
com dinheiro público. Na sociologia foram classificados como a fração lumpen-burguesa, que
preferia surrupiar parcela da mais-valia recolhida pelo Estado, e de mais fácil
acesso, a dedicar-se a investimentos na produção e extrair diretamente a
mais-valia da exploração do trabalho da classe
operária.
Aqui no
Brasil não foi diferente. Desde a República velha, setores da burguesia sempre
se locupletaram com recursos públicos, de forma legal e ilegal. Porém, essa
mesma burguesia, muito esperta, nas últimas décadas se apropriou do discurso
ideológico da luta contra a corrupção. Como se a corrupção fosse um mal
genérico, sem nome, classe, ou pior, fossem setores da classe trabalhadora que
tirassem proveito de governos progressistas. O símbolo maior dessa hipocrisia
foi o governador Lacerda, do Rio de Janeiro, na década de 1950 e 1960 e seu
partido União Democrática Nacional (UDN). No fundo, essa forma de transformar a
denúncia da corrupção apenas como uma questão moral, não passa de uma tática da
classe dominante para desviar o debate sobre a verdadeira natureza do Estado
brasileiro, que por si só, na sua lógica de funcionar proporciona a parcelas da
classe dominante que se apropriem dos recursos públicos. Às vezes de forma legal
e outras vezes ilegalmente. Nos casos ilegais se chama de corrupção, e aí seus
beneficiários precisam construir uma ampla rede de “proteção pública” aos seus
atos, que em geral, envolve juristas e advogados famosos, juízes,
desembargadores, senadores, deputados, delegados de polícia e, sobretudo, os
proprietários dos meios de comunicação de massa. Basta lembrar como a televisão
e a Vejatransformaram o
Collor de Mello em caçador de marajás, Demóstenes no senador vestal, Yeda
Crusius a gestora da RBS e tantos outros que foram desmascarados pela
realidade.
Nos anos
recentes, depois da vitória eleitoral do presidente Lula, os setores da
burguesia derrotados se utilizam desse expediente: denuncismo e tentativa de
centrar o debate no combate à corrupção, como uma forma de engessar o governo,
deixá-lo inerte, e impedir que as verdadeiras demandas da classe trabalhadora e
a questão de um projeto para o país seja o centro do
debate.
Assim
surgiu o “mensalão” no governo Lula. Amplificado ao extremo, que quase levou a
um processo de impeachment. Agora, veio à
tona que até o sinistro bicheiro Cachoeira estava por trás dessa manipulação,
junto com a sua Veja.
No
governo Dilma, esses mesmos setores da burguesia - derrotados no seu projeto de
subordinação ao neoliberalismo e aos interesses imperiais - se agarrou na
imprensa e no Judiciário, para deixar o governo refém de seus interesses. Com
isso já derrubaram sete ministros. Independente da natureza ideológica dos
ministros, do seu não compromisso popular, de que tenhamos até gostado das
mudanças ou de culpas reais, o fato é que não houve nenhum processo ou algo
concreto comprovado. Se os interesses da imprensa fossem democráticos e os
ministros tivessem caído culpados pelo desvio de recursos públicos, então eles
deveriam estar na cadeia!
Mas como diz o ditado popular, “o diabo faz panela mas
esquece da
tampa”.
Agora
veio à tona a rede de corrupção montada entre uma quadrilha de jogos ilícitos,
empreiteiras, senadores, desembargadores, governadores e a imprensa de direita,
em especial a revista Veja, com quem o contraventor
Cachoeira discutia com o chefe da sucursal de Brasília as pautas, as denúncias.
Como se eles tivessem o direito de decidir a quem iriam derrubar ou a quem
condenar perante a opinião
pública.
Felizmente os parlamentares tiveram um pouco de coragem e
instalaram a CPMI para investigar esses fatos. A panela está destampada. Agora
será necessário revolver toda a podridão que tem dentro
dela.
Pela
primeira vez as forças populares, representadas por alguns congressistas, terão
a oportunidade de investigar e denunciar os corruptores: as empresas e a grande
mídia que as acobertam. É hora de mostrar a todo o povo quais interesses a
revista Veja defende. Seus bicheiros e
parlamentares. É hora do povo saber as redes que se montam dentro do estado
brasileiro para que meia dúzia de lumpen-burgueses se locupletem e ainda usem a
mascara da legalidade e da defesa dos interesses
públicos.
Essa CPMI
precisa analisar com detalhes tudo e de forma rápida, antes que a ratazana
esconda o queijo e seus
comedores.
Mas não
basta torcer pela coragem de alguns parlamentares. Será necessário que os
movimentos sociais, o movimento estudantil, da juventude, todas as forças
populares possam ir às ruas pressionar. Exigir a investigação e punição de todos
os envolvidos, sejam governadores, empreiteiros, senadores, donos da Veja etc.
A Globo
já começou de novo a campanha do Brasil limpo, da corrupção genérica e de falsos
movimentos de jovens burgueses, que são amplificados na
televisão.
Portanto,
estamos diante de mais um capítulo da luta de classes, travado no campo da
ideologia, no campo das ideias e da gestão do Estado. E a burguesia já se deu
conta que pode sofrer uma grande derrota
ideológica.
Fonte: Brasil de Fato
Fonte: Brasil de Fato
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