Enviado por: Miguel Gonçalves Trujillo Filho
Por Joao Pedro Stedile
No dia 17 de
abril de 1996, sendo presidente Fernando Henrique Cardoso, as tropas da policia
militar autorizadas pelo Governador Almir Gabriel(PSDB-Para), e financiadas pela
empresa VALE DO RIO DOCE (como
denunciou mais tarde no processo o advogado dos policiais..), atacaram uma
marcha pacífica de mais de mil familias de sem terras que saíram de Eldorado dos
Carajás rumo a Belém.
O resultado
do massacre todos sabem, até as
pedras. 19
sem-terras assassinados, alguns com requintes de crueldade, depois de
algemados, foram mortos a coronhadas.
Outros dois morreram alguns meses depois, e mais de 60 sofreram seqüelas
até hoje, impossibilitados para o trabalho agrícola.
A sociedade
brasileira ficou estarrecida. A
ONU, os bispos, o Papa e os orixás clamaram por justiça. Os movimentos camponeses de todo mundo
escolheram então o dia 17 de abril, como dia mundial da luta camponesa, em
homenagem àqueles mártires.
Seguiu-se um
lento processo na Justiça paraense, que chegou a um Júri Popular,em
2002, que condenou os dois principais comandantes militares a penas de mais
de 200 anos de cadeia.
Os comandantes recorreram. O
poder judiciário os acolheu. E silenciou.
Passados 16 anos do massacre, nenhum responsável direta ou indiretamente
foi preso, punido ou sofreu qualquer restrição por parte da “justiça” brasileira !
Por essas e
outras é que o povo brasileiro, de longe, considera o poder judiciário, o mais
injustro, o mais anti-democratico, o mais corporativo, o mais servil aos
interesses da burguesia. Como
diz o ditado popular, cadeia no Brasil, é feita para pobres e pretos!!.
Mas algum
dia teremos uma reforma do poder
judiciário, para estancar a vergonha das injustiças, dos salários imorais, das
vantagens e das infiltrações denunciadas até pelo Conselho Nacional de
Justiça.
Felizmente,
os sobreviventes foram assentados num latinfudio de 50 mil hectares, que até
então o Incra dizia ser “produtiva” e hoje se constituem na mais produtiva e progressista comunidade rural do
município de Eldorado dos Carajás, o distrito de 17 de abril!.
Enquanto isso, cadê a reforma
agrária?
O capital
agrário e as corporações transnacionais estão “nadando de braçada” na
agricultura brasileira.
Depois da crise do capitalismo internacional, os preços médios das
commodities agrícolas dobraram.
Isso representou uma enorme aumento na taxa de lucro, e uma corrida dos capitalistas
de todo mundo, para comprar terras no Brasil, América Latina e controlar a produção das mercadorias
agrícolas.
Resultado: O Brasil
sofreu nos últimos anos, o maior índice de concentração de terras de todos os
tempos. Está em curso uma enorme
concentração da produção agrícola, que destina 85% de todas as terras agrícolas
apenas para quatro produtos: soja, milho, cana e pecuária de corte. A economia brasileira de
volta aos tempos coloniais, virou
agro-exportadora, enquanto a industria caiu para apenas 15% do PIB.
O
agronegocio concentra terras e produção.
Aumenta sua dependência dos fertilizantes importados que esse ano atingiu
a marca de 28 milhões de toneladas.
Transforma o Brasil no maior consumidor mundial de venenos agrícolas, que
contamina o solo, as águas,e até a atmosfera, matam seres vegetais, animais, e
proliferam o câncer em mais de um milhão de brasileiros por ano. Sendo que segundo o Instituto Nacional
do Câncer, somente 40% escparão com vida!
Desequilibra
o meio ambiente com seus desmatamentos e destruição da biodiversidade. Altera o
clima. Mas segue ganhando muito
dinheiro.
Tudo isso é
saudado pela imprensa burguesa como o sucesso do progresso!
E o governo ?
Bem, o governo ainda não tomou posse na área
agrária, e quando se manifesta é para dizer besteira, como essa repetição burra,
de que reforma agrária não é
distribuir terras, que primeiro temos que melhorar a qualidade dos
assentamentos.
Seria a
mesma coisa de dizer aos 10 milhões
de famílias brasileiras que vivem em moradias precárias, que o governo não vai
mais construir casas, que antes prefere
reformar as casas dos que já tem.
Senhores
governantes : procurem no dicionário da educação do campo, recém editado pela
Fiocruz, ou no Aurélio. Reforma agrária é um programa
governamental, em que o estado desapropria as grandes propriedades, os
latifundios e os distribui entre os agricultores sem- terra, promovendo a democratização da
propriedade rural no país.
Todos os
países do hemisfério norte, todas
as democracias contemporâneas realizaram reformas agrárias, democratizaram o
acesso a terra, como base para construção de sociedades mais democráticas. Afinal, a terra é um bem da natureza, e
todos os cidadãos tem os mesmos direitos sobre elas, assim como tem direito a
alimentação, a emprego, moradia
digna e a educação.
Como não
querem fazer uma verdadeira reforma agrária , ficam inventando subterfúgios de
ocasião. Sejam mais sinceros, pelo
menos! E menos burros,
porque os grandes proprietários de terra, as empresas transnacionais e o
agronegocio sempre fizeram campanha e financiaram os candidatos neoliberais e
contrários ao governo Lula e Dilma.
João Pedro Stedile, da coord. Nacional do MST e da via campesina Brasil
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