“Eu
sempre fui o segundo violino”, disse Engels em carta a um amigo (J.
Becker), referindo-se à sua importância quanto à elaboração da teoria do
socialismo científico. Assim era ele: modesto, simples, sempre disposto
a reconhecer o mérito das outras pessoas e a fugir das homenagens.
Com o mesmo nome do pai, Friedrich
Engels, filho de Elizabeth Franziska, nasceu no dia 28 de novembro de
1820, em Barmem, reino da Prússia, que depois comporia a Alemanha
unificada. Dedicou-se aos estudos, e sempre aluno brilhante, queria
cursar Direito e Economia, mas o pai, empresário próspero, tinha outro
plano – queria que ele lhe sucedesse nos negócios e, para isso,
obrigou-o a deixar a escola.
Acusação terrível, descrição brilhante
Encaminhado para uma fábrica da família
em Manchester, Inglaterra, Engels, que já se posicionava a favor da
liberdade, contrário à tirania e à opressão, passou a conviver com a
realidade dos operários. “Abandonei a sociedade, os banquetes e a
champanha da burguesia e dediquei minhas horas livres ao contato com
verdadeiros operários, tratando da vida real”. Essa convivência produziu
A Situação da Classe Operária na Inglaterra, que “constitui uma
terrível acusação contra o capitalismo e a burguesia; é a obra que
melhor representa a situação do proletariado contemporâneo [...] Nem
antes de 1845 nem depois se fez uma descrição tão brilhante e verdadeira
dos sofrimentos da classe operária”. (Lênin)
Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico
Na Inglaterra, Engels conheceu o
movimento autogestionário, participou de reuniões com Robert Owen, seu
maior expoente, e escreveu nos seus jornais, procurando mostrar sempre o
posicionamento dos socialistas utópicos franceses, como Saint Simone
Charles Fourier, entre outros. Lia muito e simpatizava com os artigos de
um jovem alemão, Karl Marx. Este também se entusiasmou ao conhecer um
trabalho de Engels, escrito aos 20 anos, intitulado Esboço de Uma
Crítica da Economia Política.
Em setembro de 1844, os dois se
encontraram em Paris, nascendo uma parceria de importância inigualável
para o proletariado de todo o planeta.“…o proletariado europeu tem o
direito de afirmar que a sua teoria foi criada por dois cientistas e
combatentes cujas relações mútuas superam todas as comoventes lendas
antigas acerca da amizade entre os homens”.
O primeiro trabalho conjunto foi A
Sagrada Família, denominação irônica que deram a dois filósofos
alemães,os irmãos Bauer e seus discípulos. Eles consideravam o
proletariado como massa desprovida de espírito crítico. Engels e Marx
responderam que o proletariado é que conduz em si o futuro e será o
artífice da própria libertação e da libertação de toda a humanidade.
De 1845 a 1847, Engels viveu em Bruxelas e Paris, dedicando-se ao estudo e à militância. Ele e Marx entraram em contato com uma associação secreta denominada Liga dos Comunistas. Os componentes da Liga pediram para que os dois companheiros dessem uma concatenação às idéias esboçadas. Surgiu o célebre Manifesto Comunista, publicado em1848.
De 1845 a 1847, Engels viveu em Bruxelas e Paris, dedicando-se ao estudo e à militância. Ele e Marx entraram em contato com uma associação secreta denominada Liga dos Comunistas. Os componentes da Liga pediram para que os dois companheiros dessem uma concatenação às idéias esboçadas. Surgiu o célebre Manifesto Comunista, publicado em1848.
Nas Barricadas
Em 1848, estoura uma revolução popular
na França, que se espalhou por toda a Europa Ocidental. Marx e Engels
voltaram para a Alemanha, dispostos a pegar em armas. Marx foi logo
preso e expulso e Engels se engajou, combatendo em quatro batalhas.
“Todos que o viram sob o fogo, falam de seu excepcional sangue frio e
absoluto desprezo pelo perigo” (Eleanor Marx).
Com a derrota da insurreição, Engels voltou a trabalhar na fábrica do pai em Manchester, para ajudar os exilados, inclusive a família de Marx. “Foi o seu cativeiro egípcio”, dizia Marx, referindo-se à escravização do povo hebreu no Egito relatada pela Bíblia. No tempo livre, dedicava-se ao estudo das ciências da natureza e da sociedade, ao acompanhamento e análise da conjuntura internacional e escrevia para jornais democráticos e de esquerda de vários países.
Com a derrota da insurreição, Engels voltou a trabalhar na fábrica do pai em Manchester, para ajudar os exilados, inclusive a família de Marx. “Foi o seu cativeiro egípcio”, dizia Marx, referindo-se à escravização do povo hebreu no Egito relatada pela Bíblia. No tempo livre, dedicava-se ao estudo das ciências da natureza e da sociedade, ao acompanhamento e análise da conjuntura internacional e escrevia para jornais democráticos e de esquerda de vários países.
Engels foi o primeiro teórico socialista
a especializar-se em assuntos militares, convencido que era de que o
domínio da estratégia e da tática militares seria de vital importância
para o sucesso da revolução proletária. Trata do assunto em A Guerra dos
Camponeses na Alemanha, O Pó e o Reno (sobre a luta pela unificação da
Itália), A Questão Militar na Prússia e O Partido Operário Alemão, e
Notas sobre a Guerra, em que analisa a experiência da Comuna de Paris.
Depurando a Internacional
Engels libertou-se do “cativeiro
egípcio” no segundo semestre de1870, quando se mudou para Londres e
pouco após sua chegada, 4 de setembro, foi eleito para o Conselho Geral
da Associação Internacional de Trabalhadores ( I Internacional). A
década seguinte foi de intensa luta ideológica. Primeiro, no combate ao
anarquismo no interior da Internacional, que culminou com a expulsão dos
bakuninistas; a seguir,contra o reformismo liderado por Lassalle no
Partido Proletário alemão. No campo do reformismo, E.K. Dühring,
professor da Universidade de Berlim lançou a proposta de “um novo
comunismo”, que se construiria sem luta de classes. O Anti-Dühring,
escrito com a colaboração de Marx, não se limita a responder ao
professor. É uma exposição sistemática do materialismo histórico e
dialético e apresenta um balanço da evolução das ciências da natureza.
Mostra o funcionamento das leis da dialética na natureza e na sociedade.
Todo apoio à Comuna
Março de 1871. O proletariado parisiense
toma o poder e convoca a população para construir a nova sociedade,
anunciando as primeiras medidas nesse caminho. Algumas províncias se
levantam no interior, mas são logo sufocadas. O exército burguês se
reorganiza e se alia com seu arquiinimigo até então, os invasores
alemães, para retomar o domínio econômico e político. Em maio, depois de
heróicos e sangrentos combates, a Comuna é derrotada. Desde o início da
luta, Engels interveio no Conselho Geral da Internacional, no sentido
de dar todo o apoio aos comuneiros dos quais, muitos, inclusive, eram
filiados à organização. O apoio efetivamente aconteceu, tanto no período
da luta como depois, com ajuda aos exilados e denúncia em todo o mundo
da repressão feroz e do genocídio praticado contra os operários de Paris
e suas famílias.
Contribuição Original
Engels deu uma contribuição própria à
teoria do socialismo científico, que foi a de estender à natureza a
concepção materialista da dialética, uma vez que Marx se dedicou ao ser
social. A contribuição engelsiana conferiu ao marxismo o caráter de
filosofia, dada a generalização metodológica e teórica, contendo uma
concepção de mundo, não apenas da sociedade.
Os seus últimos 12 anos de vida, Engels dedicou-os à edição dos segundo e terceiro volumes de O Capital. Ao morrer, no dia 14 de março de 1883, Karl Marx tinha concluído apenas o I volume. Deixou anotações sem ordem, e Engels, o único capaz de empreendimento tão arrojado, dedicou-se a decifrar a letra do companheiro, apreender a essência do seu pensamento, concatenar as idéias e dar uma estrutura lógica, o mais próxima possível do modo de Marx expressá-las.
Os seus últimos 12 anos de vida, Engels dedicou-os à edição dos segundo e terceiro volumes de O Capital. Ao morrer, no dia 14 de março de 1883, Karl Marx tinha concluído apenas o I volume. Deixou anotações sem ordem, e Engels, o único capaz de empreendimento tão arrojado, dedicou-se a decifrar a letra do companheiro, apreender a essência do seu pensamento, concatenar as idéias e dar uma estrutura lógica, o mais próxima possível do modo de Marx expressá-las.
Mas não foi a única tarefa que o velho
amigo deixou. Engels passou a orientar o movimento operário europeu,
respondendo a consultas sobre método, problemas localizados, criticando e
estimulando camaradas.
E nunca abandonou a condição de
cientista social. A partir das pesquisas antropológicas de H. Morgan,
lidas e anotadas por Marx, formulou a teoria marxista do Estado, na obra
A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, cujos
pressupostos já estavam em sua obra anterior e na de Marx, mas não de
forma sistêmica e embasada na história e na antropologia.
Seu último trabalho (1895) foi o
prefácio à reedição de As Lutas de Classe na França, de Karl Marx .Nele,
Engels faz considerações sobre o desenvolvimento da luta de classes e
situa, pela primeira vez na teoria marxista, a distinção entre guerra de
movimento e guerra de posições.
Na amplidão dos mares
No dia 5 de agosto de 1895,vitimado por
um câncer no esôfago, falece Engels. Nos seus funerais, Wilhelm
Liebknecht, líder operário, discursou: “Nele, teoria e prática se
fundiram num todo único”. Presentes, atendendo ao seu pedido, apenas
alguns parentes e amigos. Um grupo menor ainda, no qual estava Eleanor,
filha caçula de Marx, atendeu a outro desejo, lançando as cinzas do seu
cadáver no mar de Eastbourne, a duas milhas da costa.
Um só violino
Segundo Lênin, Engels foi “depois de
Marx, o mais notável sábio e mestre do proletariado contemporâneo”. Ele
próprio se dizia o “segundo violino”. Na verdade, ambos foram
fundadores, construtores do socialismo científico e mestres do
proletariado. O seu maior mérito foi demonstrar que o socialismo não é
uma invenção de sonhadores, mas “resultado inevitável do desenvolvimento
das forças produtivas da sociedade atual”. Mas esse resultado não brota
espontaneamente, advindo da luta das classes sociais – burguesia e
proletariado – que estão em lados contrários ante as forças produtivas.
Uma obra comum. Um só violino a enlevar a orquestra revolucionária do
proletariado na senda da emancipação.
Luiz Alves
(Publicado no Jornal A Verdade, nº 47)
(Publicado no Jornal A Verdade, nº 47)
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