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quinta-feira, 5 de abril de 2012

A GRANDE MENTIRA QUE ASSOLOU O BRASIL



De: Valdir Pereira

Trinta e dois anos após a queda da ditadura militar, instaurada em 1964, grande parcela da população brasileira desconhece esse período histórico e tiram conclusões, baseados em fontes nada confiáveis, de que nesse período sindicatos de trabalhadores, organizações representativas de militares de baixa patente: sargentos, cabos, soldados do exercito e da marinha mais o PCB, estavam tramando para instauração de um regime comunista no Brasil.

Essa notícia repetida, até a exaustão, na época, induziram grandes contingentes da classe média, religiosos e pessoas menos esclarecidas, a aceitarem essa informação como verdadeira.

O grande chefe da conspiração pró-comunista era João Goulart, conhecido por “Jango”, presidente do Brasil, depois de uma tumultuada trajetória para chegar ao cargo, pela cerrada oposição dos militares de alta patente. Os costumeiros golpistas, responsáveis pelo suicídio de Vargas, em 1954.

Jango, que era vice de Janio Quadros, foi impedido de assumir a presidência pelos chefes militares, depois da renúncia de Janio, em 1961.

Jango na China, em uma missão diplomática, acompanhou o desenrolar da crise, que culminou com o entendimento em se adotar o parlamentarismo como regime de governo.  No dia 2 de setembro de 1961, o sistema parlamentarista foi aprovado no Congresso Nacional e no dia 8 de setembro Jango foi empossado presidente e Tancredo Neves, primeiro ministro.

Antes, porém, do entendimento político, o governador Leonel Brizola e o General Machado Lopes, comandante do III exército, baseado no Rio Grande do Sul, mobilizaram o estado pela posse de Jango, recebendo o apoio de Mauro Borges, governador de Goiás e Ney Braga do Paraná e grande parcela do povo, que se alistavam no exército da legalidade, em banquetas distribuídas pelos municípios brasileiros.

Em janeiro de 1963, através de um plebiscito, o parlamentarismo foi revogado, por uma votação maciça do povo brasileiro.

Jango para governar encontrava grande dificuldade: os militares opunham-se a ele, o congresso rejeitava suas propostas políticas e econômicas; restava-lhe o apoio dos sindicatos, onde tinha grande influência e buscava o apoio do PCB e do PSB, visando  uma ampla base popular.

O plano Trienal de seus ministros, Celso Furtado, do Planejamento, e Santiago Dantas, da Fazenda, onde se estabelecia as bases de um desenvolvimento nacional de caráter progressista e popular, foram rejeitadas pelo Congresso.

                             REFORMAS DE BASE

As reformas de base, como era conhecido o plano, previa:

Reforma agrária – Consistia  em promover a democratização da terra, paralelamente à promulgação do Estatuto do Trabalhador Rural, estendendo ao campo os principais direitos dos trabalhadores urbanos.

Reforma educacional: visava à valorização do magistério e do ensino público em todos os níveis, o combate ao analfabetismo, com adoção do método Paulo Freire; realizar uma reforma universitária, com a abolição da cátedra vitalícia.

Reforma fiscal – Tinha como objetivo promover a justiça fiscal e aumentar a capacidade de arrecadação do Estado. Alem disso, pretendia-se limitar a remessa de lucros para o exterior, sobretudo por parte das empresas multinacionais, o que foi feito através do decreto  n° 53451/64.

Reforma eleitoral: consistia basicamente a extensão  do direito de voto ao analfabeto e aos militares de baixa patente. Previa-se também a legalização do Partido Comunista Brasileiro.

Reforma urbana, entendida como um conjunto do Estado, visando ajusta utilização do solo urbano, ao fornecimento de habitação condigna a todas as famílias. O projeto foi elaborado por urbanistas  ligados ao IAB.

Reforma bancária: com o objetivo de ampliar o acesso ao crédito pelos produtores.

As reformas também incluíam a nacionalização de vários setores industriais – refino de petróleo, energia elétrica, químico-farmacêutico, etc.-

O  Partido Comunista Brasileiro (PCB), trabalhava intensamente pelas reformas de base, pois viam no projeto nacionalista de Jango o caminho de uma ampla  aliança com a burguesia nacional, aprofundando, em consequência a luta anti-imperialista .

Os militares não viam com bons olhos essa aproximação com os comunistas, que controlavam a maioria dos sindicatos, e, além disso, estavam descontentes diante da omissão do governo em punir movimentos de rebeldia de militares de baixa patente, e do apoio explicito que lhes prestavam. Os Sargentos do exército se rebelaram contra decisão do STF, em não lhes conceder o direito político de disputar cargos eletivos; os marinheiros igualmente se mobilizavam  pelo reconhecimento de suas entidades  e por melhores salários. Nessa mobilização se associavam aos sindicatos que lhe davam  grande apoio e cobertura.

Toda essa mobilização dos trabalhadores, e dos movimentos de indisciplina nas forças armadas, serviram de caldo de cultura para fomentar um golpe militar.

A igreja, associada a movimentos de direita e com a participação dos latifundiários, temerosos com o movimento pela reforma agrária, organizavam passeatas denominadas: Marcha da Família com Deus pela Liberdade; arrastavam a classe média, que viam em Jango a ameaça comunista.

                               O COMÍCIO DOS 150 MIL

No dia 13 de março, em frente a Central do Brasil, na grandiosa manifestação organizada pelos sindicatos, que reuniu milhares de trabalhadores, Jango assinou um decreto instituindo a reforma agrária ao longo de 100 kilômetros das rodovias e ferrovias, o que provocou forte reação dos setores conservadores e contribuiu para sua derrubada do governo.

Na madrugada do dia 1º de abril de l964, o general Mourão Filho inicia a movimentação de tropas de Minas Gerais em direção ao Rio de Janeiro, dando início ao golpe militar.

Jango, para evitar derramamento de sangue, não aceitou a sugestão de Brizola em resistir ao golpe militar em andamento.

A história de 21 anos de ditadura sanguinária, que nem todos conhecem e, muitos mal informados pretende justificar como necessária em proteger o país do comunismo, por este breve relato fica claro que o Brasil perdeu uma grande oportunidade  em dar passos gigantescos em direção a uma sociedade mais justa e democrática; prova a injustiça que se cometeu a um grande nacionalista, que amava o Brasil e por ele deu sua vida.

Prova, ainda, a necessidade de se restabelecer a verdade da história nebulosa de 21 anos de ditadura militar; a necessidade em punir aqueles que torturaram e mataram, em nome de uma mentira.

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