Dissidentes cubanos enfrentam dificuldades na Espanha e cogitam voltar para Cuba
A
partir de 2010, todos os chamados presos políticos cubanos foram
liberados após apoio da Igreja Católica de Cuba e do governo espanhol. A
maioria optou por se instalar na Espanha com suas famílias para começar
uma vida nova. Muitos, porém, viram o sonho de morar na Europa
tornar-se frustração em função da crise econômica que atinge o país.
Alguns já cogitam retornar a sua terra natal.
Para entender melhor a situação dos dissidentes cubanos na Espanha é preciso retornar a 2010 e 2011.
Nesses
anos, o Vaticano e o governo espanhol de José Luis Rodriguez Zapatero,
pediram para a Igreja Católica cubana, sob a liderança do cardeal Jaime
Ortega, mediar com as autoridades de Havana a liberação de 127
prisioneiros. Com o sucesso da negociação, não há, atualmente, nenhum
‘preso de consciência’ em Cuba, de acordo com a organização que defende
os direitos humanos e a igreja católica.
Alguns
acusaram os setores do governo cubano em forçar essas pessoas para o
exílio. Vários meios de comunicação ocidentais transmitiram essa versão.
Porém, dissidentes afirmaram que em nenhum momento as autoridades
cubanas pediram que eles deixassem o país como uma condição prévia para a
liberação.
A dura realidade espanhola
Longe
de encontrar uma nação próspera, dissidentes cubanos foram atingidos
fortemente pela crise econômica que afeta a Espanha. A maioria deles
está desempregados, sem recursos e às vezes até sem moradia. De acordo
com a imprensa ibérica, um ano após a sua chegada, os exilados vêm
perdendo o apoio do governo.
Uma
mostra disso foi a decisão do governo espanhol em eliminar o suporte
destinado aos dissidentes cubanos. O governo se recusou a renovar o
auxílio por mais 12 meses, como previsto inicialmente, por razões
econômicas. No período em que foi dado o suporte, a Espanha gastou uma
média de 2 mil euros por pessoa a cada mês, ou mais de 18 milhões de
euros por ano para cobrir as necessidades dos cubanos. Custo considerado
muito alto para um país com 5 milhões de desempregados, cerca de 25% da
população.
Para
protestar sobre a situação que estão vivendo na Espanha e pelo
desamparo até mesmo de seu principal defensor no país, o Partido Popular
(PP), dissidentes cubanos decidiram recorrer a uma greve de fome.
José
Manuel Garcia Margallo, chanceler espanhol, reconheceu que o caso dos
cubanos não é “simples” e que eles estão “em uma situação difícil.” Mas
ele rejeitou a ideia de estender auxílio financeiro devido à crise
econômica que varre o país e só se comprometeu, no máximo, para acelerar
o processo de validação de diplomas universitários.
O
descaso frente à oposição cubana na Espanha, por vezes, acaba de
maneira trágica, como no caso de Alberto Santiago Du Bouchet, instalado
nas Ilhas Canárias após a sua liberação e que se suicidou em 4 de abril
de 2012. A família de Bouchet e seus amigos afirmaram que sua situação
econômica precária agravada com a eliminação da assistência financeira
mensal, foi a causa principal do drama. O governo espanhol, contudo,
nega que o suicídio tenha ‘ligação direta’ com a decisão de encerrar o
auxílio.
Voltar para Cuba?
Contra
todas as probabilidades, vários dissidentes têm expressado a sua
intenção de retornar a Cuba, deixando de viajar para os Estados Unidos,
acusando a Espanha de negligência. “É melhor estar em Cuba na rua do que
aqui”, disse Sanchez Ismara. “Desde 31 de março estou na rua”,
queixou-se Núñez Idalmis afirmando que não tem como pagar uma habitação.
Da mesma forma, Orlando Fundora e sua esposa, tiveram que enfrentar
condições de vida muito difíceis, que não passava em sua terra natal. Em
entrevista à BBC, Fundora confessou algo inesperado: “Nós comemos
melhor em Cuba”.
De
certo ponto, a decisão de retornar a Cuba não é tão surpreendente.
Apesar dos limitados recursos do país caribenho e as dificuldades
geradas pelo bloqueio econômico imposto a Cuba pelos Estados Unidos
desde 1960, o governo de Havana construiu uma proteção social
relativamente eficaz que satisfaz as necessidades básicas da população.
Apesar de tudo, 85% dos cubanos têm casa. Da mesma forma, todos os
cubanos têm acesso gratuito a atividades de saúde, educação e cultural.
Há um cartão de racionamento que lhes permite receber a cada mês, além
de seu salário, um alimento básico suficiente para duas semanas. É por
isso que, apesar dos seus limites em termos de recursos naturais, não há
desabrigados em Cuba ou crianças de rua. Além disso, segundo a UNICEF,
Cuba é o único país do Terceiro Mundo onde não há desnutrição infantil.
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