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quarta-feira, 18 de julho de 2012

Abandonados ao desemprego e à falta de moradia, asilados cubanos na Espanha fazem greve de fome e pensam em voltar para Cuba




Dissidentes cubanos enfrentam dificuldades na Espanha e cogitam voltar para Cuba

A partir de 2010, todos os chamados presos políticos cubanos foram liberados após apoio da Igreja Católica de Cuba e do governo espanhol. A maioria optou por se instalar na Espanha com suas famílias para começar uma vida nova. Muitos, porém, viram o sonho de morar na Europa tornar-se frustração em função da crise econômica que atinge o país. Alguns já cogitam retornar a sua terra natal.

Para entender melhor a situação dos dissidentes cubanos na Espanha é preciso retornar a 2010 e 2011. 

Nesses anos, o Vaticano e o governo espanhol de José Luis Rodriguez Zapatero, pediram para a Igreja Católica cubana, sob a liderança do cardeal Jaime Ortega, mediar com as autoridades de Havana a liberação de 127 prisioneiros. Com o sucesso da negociação, não há, atualmente, nenhum ‘preso de consciência’ em Cuba, de acordo com a organização que defende os direitos humanos e a igreja católica.

Alguns acusaram os setores do governo cubano em forçar essas pessoas para o exílio. Vários meios de comunicação ocidentais transmitiram essa versão. Porém, dissidentes afirmaram que em nenhum momento as autoridades cubanas pediram que eles deixassem o país como uma condição prévia para a liberação.

 A dura realidade espanhola

Longe de encontrar uma nação próspera, dissidentes cubanos foram atingidos fortemente pela crise econômica que afeta a Espanha. A maioria deles está desempregados, sem recursos e às vezes até sem moradia. De acordo com a imprensa ibérica, um ano após a sua chegada, os exilados vêm perdendo o apoio do governo.

Uma mostra disso foi a decisão do governo espanhol em eliminar o suporte destinado aos dissidentes cubanos. O governo se recusou a renovar o auxílio por mais 12 meses, como previsto inicialmente, por razões econômicas. No período em que foi dado o suporte, a Espanha gastou uma média de 2 mil euros por pessoa a cada mês, ou mais de 18 milhões de euros por ano para cobrir as necessidades dos cubanos. Custo considerado muito alto para um país com 5 milhões de desempregados, cerca de 25% da população.

Para protestar sobre a situação que estão vivendo na Espanha e pelo desamparo até mesmo de seu principal defensor no país, o Partido Popular (PP), dissidentes cubanos decidiram recorrer a uma greve de fome.

José Manuel Garcia Margallo, chanceler espanhol, reconheceu que o caso dos cubanos não é “simples” e que eles estão “em uma situação difícil.” Mas ele rejeitou a ideia de estender auxílio financeiro devido à crise econômica que varre o país e só se comprometeu, no máximo, para acelerar o processo de validação de diplomas universitários.

O descaso frente à oposição cubana na Espanha, por vezes, acaba de maneira trágica, como no caso de Alberto Santiago Du Bouchet, instalado nas Ilhas Canárias após a sua liberação e que se suicidou em 4 de abril de 2012. A família de Bouchet e seus amigos afirmaram que sua situação econômica precária agravada com a eliminação da assistência financeira mensal, foi a causa principal do drama. O governo espanhol, contudo, nega que o suicídio tenha ‘ligação direta’ com a decisão de encerrar o auxílio.

Voltar para Cuba?

Contra todas as probabilidades, vários dissidentes têm expressado a sua intenção de retornar a Cuba, deixando de viajar para os Estados Unidos, acusando a Espanha de negligência. “É melhor estar em Cuba na rua do que aqui”, disse Sanchez Ismara. “Desde 31 de março estou na rua”, queixou-se Núñez Idalmis afirmando que não tem como pagar uma habitação.  Da mesma forma, Orlando Fundora e sua esposa, tiveram que enfrentar condições de vida muito difíceis, que não passava em sua terra natal. Em entrevista à BBC, Fundora confessou algo inesperado: “Nós comemos melhor em Cuba”.

De certo ponto, a decisão de retornar a Cuba não é tão surpreendente. Apesar dos limitados recursos do país caribenho e as dificuldades geradas pelo bloqueio econômico imposto a Cuba pelos Estados Unidos desde 1960, o governo de Havana construiu uma proteção social relativamente eficaz que satisfaz as necessidades básicas da população. Apesar de tudo, 85% dos cubanos têm casa. Da mesma forma, todos os cubanos têm acesso gratuito a atividades de saúde, educação e cultural. Há um cartão de racionamento que lhes permite receber a cada mês, além de seu salário, um alimento básico suficiente para duas semanas. É por isso que, apesar dos seus limites em termos de recursos naturais, não há desabrigados em Cuba ou crianças de rua. Além disso, segundo a UNICEF, Cuba é o único país do Terceiro Mundo onde não há desnutrição infantil.

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