Mas Erenice não era “culpada”?
A
mídia, no mundo inteiro, tem um poder que ninguém deveria ter nas
democracias: condenar e absolver quem quiser das acusações que faz ou
que, para os políticos “amigos”, tenta desfazer. Agora mesmo, o país
está às portas de ver no que vai dar uma dessas feitiçarias midiáticas, a
do escândalo do mensalão “do PT”.
Há
mais ou menos sete anos que a opinião pública vem sendo induzida pela
mídia a acreditar piamente na culpa “inquestionável” dos 38 réus no
inquérito do mensalão, o qual vai a julgamento no STF a partir da semana
que vem. Muita gente caiu nessa, inclusive pessoas que não são movidas
pela má fé da imprensa partidarizada.
Na
semana que finda, porém, ainda que a notícia tenha sido dada com
extrema discrição, mais um dos integrantes de um governo petista que
fora “condenado” pela mídia foi absolvido pela Justiça, gerando
perplexidade naqueles que tiveram acesso à notícia mal-divulgada sobre
essa absolvição.
O
Tribunal Regional Federal da 1ª Região arquivou o processo contra a
ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra por suposto tráfico de
influência, após acatar recomendação do Ministério Público Federal
(MPF). A decisão foi decretada na sexta-feira passada (20) pelo juiz
Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal.
Em
2010, no auge da campanha eleitoral em que Dilma Rousseff derrotou José
Serra, Erenice – sucessora de Dilma na Casa Civil – fora acusada pela
mídia de ter beneficiado parentes em contratações de serviços aéreos
para os Correios, estudos para projetos de mobilidade urbana e outorgas
de concessão de serviço móvel especializado.
As
denúncias contra Erenice, entre outros fatores, ajudaram a levar a
eleição presidencial de 2010 para o segundo turno, favorecendo José
Serra, que por pouco não sofreu uma derrota ainda maior para alguém como
Dilma, que, ao contrário dele, jamais disputara uma eleição na vida.
A
indisposição da mídia com Erenice, em particular, fora desencadeada
mais de dois anos antes, ainda em 2008, quando também sofrera outra
acusação que se esboroou ao ser investigada pela Justiça e pela Polícia
Federal.
Naquele
início de 2008, a oposição acusara o governo Lula de montar um dossiê
com gastos sigilosos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O
objetivo, de acordo com a oposição, seria constrangê-la na CPI dos
Cartões, criada naquele ano para investigar possíveis irregularidades no
uso dos cartões corporativos do governo federal.
Não
tardou para a mídia comprar a tese tucana. O suposto dossiê, de acordo
com reportagem da Folha, foi montado pela secretária-executiva da Casa
Civil, Erenice Guerra, braço direito da ministra Dilma Rousseff. A
oposição e aquele jornal, e posteriormente o resto da mídia, insinuaram
que a hoje presidente da República tinha ordenado a Erenice a confecção
do dossiê.
Ainda
hoje, apesar da primeira absolvição de Erenice, a mídia e a oposição a
Dilma tratam aquele caso como se tivesse dado em alguma coisa –
continuam repetindo uma acusação que, após ser investigada
exaustivamente, mostrou-se mentirosa.
Todavia,
nada seria mais contundente e massacrante do que a denúncia eleitoreira
que se daria contra Erenice na véspera do primeiro turno da eleição
presidencial de 2010, sobre tráfico de influência por Erenice, a qual a
Justiça acaba de rechaçar por falta de provas que a imprensa, então,
dizia que abundavam.
Em
11 de setembro de 2010, a 3 semanas do primeiro turno da eleição
presidencial, justamente em um momento em que as pesquisas davam conta
de enorme superioridade de Dilma sobre Serra, a revista Veja acusa o
filho de Erenice de fazer “tráfico de influência” usando o cargo da mãe,
então ministra da Casa Civil.
A
partir dali, todo o noticiário foi sendo construído de forma a garantir
à sociedade que Erenice e Dilma eram culpadas das acusações sem provas
que a Veja fez e que toda a grande imprensa comprou sem questionar
nada. O noticiário não deixava margem para sequer cogitar que a acusação
não fosse séria.
Abaixo,
algumas capas da Folha – que poderiam ser da Veja, de O Globo, do
Estadão etc – que acusaram Erenice de forma tão cabal que não houve
outro jeito senão demitir Erenice, e que servem de amostra de um fato
impressionante: de 11 de setembro a 3 de outubro, todo dia Folha,
Estadão, Globo e (semanalmente) Veja fustigaram a campanha de Dilma com o
caso Erenice até a eleição ir ao segundo turno.
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