Tarso Genro: Tentaram a destruição do PT como comunidade partidária
Publicamos
aqui a intervenção do companheiro Tarso Genro, publicado hoje no jornal
Estado de São Paulo, por considerar que ela traz elementos importantes
para um posicionamento do PT frente ao ataque generalizado que volta a
sofrer por ocasião do julgamento do vulgarmente chamado "mensalão".
A
atitude de um partido socialista deve ser a de denunciar os ataques da
direita e, ao mesmo tempo, a de aprender criticamente com a experiência,
reafirmando sua opção de transformação radical da sociedade, o que
inclui a própria questão da democracia. Radicalizar a democracia,
torná-la substantiva e participativa, é o caminho para olhar para frente
e para enfrentar o ódio dos que querem aniquiliar nosso partido.
Do site do Estado de S. Paulo
Refiro-me
à questão do mensalão com uma questão política do Estado brasileiro, da
política brasileira, e não como um processo judicial sob o qual
deveremos esperar os resultados. O mensalão, sob essa ótica, foi um
divisor de águas na história do PT porque nos defrontamos com um massivo
ataque, pode-se dizer, de 90% da mídia do País, com um processo de
incriminação "em grupo". A incriminação não foi direcionada para
indivíduos ou grupos definidos, e sim para uma comunidade partidária em
abstrato. É tática usada pelas posições extremistas e autoritárias que
apareceram na história moderna. Vejam o nazismo: incriminação em
abstrato de uma raça. Vejam o stalinismo: incriminação em abstrato de
toda pessoa discordante do regime. Vejam a visão que paira em
determinadas posições políticas no Oriente Médio: os muçulmanos, "em
geral" os fundamentalistas, são culpados de tudo.
O
que ocorreu no mensalão, mais do que a preparação de um processo
judicial, foi uma tentativa de destruição do PT como comunidade
partidária, porque todos os indivíduos que integravam o PT e toda a
comunidade petista não partidária foram incriminados.
Temos
de aprender com essa experiência e tomar extremos cuidados com qualquer
tipo de comportamento nosso frente às estruturas do Estado brasileiro,
para que não proporcionemos novamente uma unidade tão grande contra o
PT, que foi atacado como projeto partidário, como comunidade ética e
comunidade política - e por isso o mensalão foi um divisor de águas.
Mesmo
assim, defendo que estava correto em propor o movimento da refundação
do partido. A proposta causou um estranhamento nos dirigentes mais
antigos do PT, porque se pensou, na oportunidade, que era um movimento
contra uma geração. A ideia, porém, era buscar uma renovação e uma
reconstrução partidária. E, mais do que isso, de renovação da cultura
partidária do PT. Daí nasceu a corrente interna "Mensagem ao Partido",
que tem dado uma contribuição importante aos debates de fundo sobre o
PT. Se observarmos os documentos da "Mensagem ao Partido", estão ali
todos os elementos políticos, ideológicos e programáticos de uma visão
refundacionista, que quer dizer: reestruturação, renovação, planejamento
cultural e manutenção das ideias socialistas democráticas que estão na
origem do PT.
O
que podemos tirar como lição do mensalão é tentar proporcionar uma nova
cultura política do PT, que construa uma estratégia de alianças não
somente a partir de necessidades imediatas, mas de fundamentos
programáticos e ético-políticos mais sólidos. Um partido novo como o PT,
que tem uma história política dentro de um País de vida democrática
recente, tem de saber assimilar esse conceito. Por exemplo: não sou
contra alianças com o "centro", sou a favor das alianças com o "centro",
mas defendo que devem ser construídas a partir de uma aliança com
outros partidos de esquerda. Uma aliança com outros partidos de esquerda
dá mais fundamento programático, e o fundamento programático faz o
balizamento do comportamento das pessoas na estrutura do Estado. Essa é
uma herança clara que nós temos de saber assimilar e processar.
Fonte: http://www.democraciasocialista.org.br/democraciasocialista/noticias/item?item_id=319339
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