TCU derruba a prova central do mensalão. Ao validar os contratos de publicidade de Marcos Valério, o Tribunal, liderado por Ana Arraes, reforça a ideia de que o esquema não utilizou recursos públicos
A menos de quinze dias para o início do “julgamento do século”, uma
decisão tomada pelo Tribunal de Contas da União pode ser determinante
para o futuro dos réus da Ação Penal 470. O TCU considerou regulares os
contratos de publicidade de R$ 153 milhões do Banco do Brasil com as
agências de publicidade DNA e SMPB, que pertenciam ao empresário Marcos
Valério de Souza. Isso reforça o que foi dito, dias atrás, pelo
criminalista Marcelo Leonardo, que fará a defesa oral de Valério no
Supremo Tribunal Federal. “Não houve recursos públicos, apenas
empréstimos privados”. O PT admite que tomou empréstimos bancários,
junto ao Rural e ao BMG, para honrar dívidas de campanha próprias e de
alguns partidos da base aliada.
A decisão do TCU foi tomada a partir de relatório preparado pela
ministra Ana Arraes, cujo voto foi acompanhado pelos demais ministros. O
primeiro a ser beneficiado é o ex-diretor de marketing do Banco do
Brasil, Henrique Pizzolato, que foi denunciado por ter validado os
principais contratos de publicidade de Valério na administração pública
federal.
De acordo com o TCU, os contratos seguiram o padrão de normalidade do
Banco do Brasil e não diferem dos que foram fechados com outras
agências de publicidade. Curiosamente, as agências de publicidade de
Valério entraram para o governo federal no governo do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso. Foram apadrinhadas pelo ex-ministro Pimenta
da Veiga, das Comunicações, que é amigo pessoal de Valério. Continuaram
no governo Lula, até o escândalo do mensalão, ocorrido em 2005.
Embora já ajude a livrar a cara da Pizzolato, a decisão do TCU pode
ter também repercussões maiores sobre outros réus. A começar, pelo
próprio Valério. O empresário sustenta que, entre o fim da campanha
presidencial de 2002 e o início do governo Lula, foi apresentado ao
ex-tesoureiro Delúbio Soares, do PT, pelo ex-deputado Virgílio
Guimarães. Ajudou a resolver o problema das dívidas de campanha com o
partido por meio dos empréstimos bancários. E, no caso do Rural, ele
argumenta que tentou fazer lobby para que o banco assumisse a massa
falida do Banco Mercantil de Pernambuco – o que não ocorreu. Por isso,
Valério chegou a dizer que foi um lobista fracassado.
Essa decisão do TCU também corrobora a tese de caixa dois eleitoral –
e não de compra regular de parlamentares. Isso porque os empréstimos
foram tomados logo no início do governo Lula. Os contratos de
publicidade eram renovados periodicamente.
Reação na oposição
Na oposição, a decisão do TCU foi recebida com desespero. Segundo o blogueiro da revista Veja Reinaldo Azevedo, o petismo trabalha para “transformar o Brasil num curral”. Eis um trecho de artigo publicado por ele nesta manhã:
“Caberá ao STF dizer se existe pecado do lado de baixo do
Equador! Se decidir que não há, não vai adiantar Deus ter piedade dos
brasileiros.”
O que o TCU demonstrou, no entanto, é que as agências de Valério
prestaram contratos regulares de publicidade ao Banco do Brasil. E o
lobby a favor do Rural se dava em outras esferas.
Brasil 247
Pragmatismo Político
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