Natasha Pitts
Contrariando o posicionamento do Vaticano - um dos
primeiros a reconhecer e apoiar o governo de Federico Franco - a
Pastoral Social Nacional do Paraguai se colocou contra o golpe de
Estado, que no final do mês de junho retirou Fernando Lugo do poder. Por
meio de comunicado, os coordenadores diocesanos da Pastoral Social
reafirmam sua opção em favor da população mais carente e pedem que os
bispos da Igreja Católica retifiquem seu posicionamento.
A Pastoral Social se une à voz de diferentes setores da
Igreja Católica paraguaia, como a Conferência de Religiosos e
Religiosas, grupos de sacerdotes de base, ordens religiosas (jesuítas,
dominicanas) e entidades católicas para mostrar total reprovação com o
golpe de Estado e a quebra da ordem democrática no país.
Em comunicado voltado aos membros da Comissão Episcopal
da Pastoral Social, os coordenadores diocesanos e o Secretariado
Nacional da Pastoral Social, fieis a sua missão e ao mandato evangélico
de opção preferencial pelos pobres, manifestam que está claro que a
destituição de Fernando Lugo faz parte do processo golpista iniciado
desde a chegada deste mandatário ao poder, em 2008.
"Depois de 24 tentativas de impeachment, materializado
com a destituição de um presidente eleito por ampla maioria, se dá um
julgamento político simulado por causas totalmente alheias ao que causa
um julgamento sério, como por exemplo a paternidade do presidente Lugo, a
questão ideológica, a amizade de Lugo com os Sem Terra, etc; o
acontecido foi um golpe de Estado e um duro revés ao processo
democrático paraguaio”, lastimam.
O comunicado levanta ainda a possibilidade de que o
acontecido em Curuguaty tenham sido "uma montagem dos políticos
representantes dos grupos de poder”, que se utilizaram do fato para
justificar o golpe. Assim, o massacre em Curuguaty foi um oportunismo
político de setores que apenas há algumas semanas haviam negado o mesmo
julgamento para integrantes da Corte Suprema de Justiça, que por meio do
Tribunal Superior Eleitoral se articularam para derramar cerca de 50
milhões de dólares nas mãos de operadores políticos.
Os coordenadores diocesanos e o Secretariado Nacional da
Pastoral lamentam que o posicionamento de alguns bispos da Comissão
Episcopal Paraguaia (CEP) de apoiar o governo de Federico Franco, mesmo
diante destes fatos, tenha sido utilizado por parlamentares para
generalizar e dizer que a Igreja Católica apoiava a destituição de
Fernando Lugo.
O comunicado esclarece que a decisão de alguns membros
da CEP de solicitar ao presidente sua renúncia causou decepção, dor,
surpresa e confusão nos fieis e na população paraguaia, em especial na
população mais humildade, e que a partir disso, os setores mais
populares começaram a enxergar tal postura como um distanciamento da
Igreja dos mais pobres e excluídos.
"Portanto, com amor filial e em espírito de comunhão,
solicitamos que os bispos façam uma declaração que retifique a visão que
a Igreja de Jesus Cristo tem dado ao povo paraguaio e ao mundo nestes
acontecimentos e, dessa maneira, reafirmar seu compromisso de pastores
com os mais humildes e desprotegidos”, pedem.
Além disso, a Pastoral Social reforça que a Igreja pode
agir no sentido de ofertar atenção aos campesinos e campesinas afetados
pelo massacre de Curuguaty. O comunicado aponta que no momento a Igreja
pode: fazer um acompanhamento institucional atendendo humana e
juridicamente aos feridos, aos que estão presos e a suas famílias;
solicitar às autoridades que outorguem o acesso imediato à terra própria
dos campesinos de Curuguaty afetados pela tragédia; exigir a elucidação
dos fatos; e trabalhar pela concretização da Reforma Agrária no país.
Adital
Nenhum comentário:
Postar um comentário