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quinta-feira, 5 de julho de 2012

Foro de São Paulo busca articulação global da esquerda


Em plena crise do neoliberalismo, a 18ª edição do Foro de São Paulo, que ocorre em Caracas, oferece uma ocasião única para as esquerdas do mundo confrontarem ideias e definirem ações em um mundo de areias movediças. "Sem uma concertação em escala mundial será difícil fazer frente a situações como a que atravessa o Paraguai", disse o eurodeputado espanhol Willy Meyer (foto), da Esquerda Unida. O artigo é de Eduardo Febbro, enviado especial da Carta Maior a Caracas.


Caracas - Pela primeira vez desde sua criação, o Foro de São Paulo celebra sua edição, a 18ª, na capital da Venezuela. 600 convidados, mais de uma dezena de oficinas temáticas convergem em Caracas sob um lema comum: “Os povos do mundo unidos contra o neoliberalismo e pela paz”. Em plena debacle do neoliberalismo, o Foro oferece uma ocasião única para as esquerdas do mundo confrontarem ideias e definirem ações em um mundo de areias movediças. Jorge Mazzarovich, presidente da Comissão de Assuntos e Relações Internacionais da Frente Ampla, do Uruguai, destacou em Caracas que estes acontecimentos servem para dar um novo impulso aos processos de unidade e solidariedade entre os povos latino-americanos. Para Mazzarovich, nisso residem “as bases da mudança, ou seja, de uma integração solidária e complementar. É contra isso que se enfrenta o imperialismo”.

Esta XVIII edição venezuelana do Foro de São Paulo se articula em torno de 14 oficinas temáticas, entre as quais se destacam os temas da defesa, da democratização da informação e da comunicação, meio ambiente e mudança climática, migrações, movimentos sindicais e sociais, povos originários, segurança agroalimentar, segurança e narcotráfico. O Foro deu também um lugar destacado às mulheres e aos jovens que farão um balanço da experiência técnica, econômica, política e social dos governos de esquerda na América Latina.

O secretário executivo do Foro, Walter Pomar, assinalou que a pluralidade das esquerdas “nos dá uma capacidade de debate e uma incidência muito maior na realidade”. O primeiro ato oficial do Foro ficou a cargo de parlamentares latino-americanos que aprovaram uma dezena de declarações e resoluções em solidariedade a Cuba, Haiti e à reivindicação argentina pelas Ilhas Malvinas. Em uma série de declarações especiais, os parlamentares defenderam a independência de Porto Rico, o direito da Palestina “ser um Estado livre e independente” e a luta do povo boliviano. Os parlamentares também aprovaram uma resolução contra o golpe de Estado no Paraguai e um texto de repúdio às “bases militares estrangeiras” instaladas na América Latina.

O Paraguai foi um dos temas prediletos nos primeiros debates. A histórica senadora colombiana e defensora dos Direitos Humanos, Piedad Córdoba, disse ontem que “o que ocorreu no Paraguai é reflexo do golpe de Estado em Honduras, mas com uma cirurgia legislativa”. Piedad Córdoba está no Foro representando o movimento colombiano Marcha Patriótica. Neste contexto, Córdoba disse esperar que o documento final do Foro se expresse sobre o conflito armado na Colômbia.

Já o eurodeputado espanhol Willy Meyer – membro da Esquerda Unida – observou que sem uma concertação em escala mundial será difícil fazer frente a situações como a que atravessa o Paraguai em função de que o golpe contra Fernando Lugo obedece a uma lógica política importada dos Estados Unidos. “O Paraguai necessita de uma resposta internacional da esquerda, porque a extrema-direita dos Estados Unidos está utilizando todas as vias para dobrar a vontade democrática dos povos”, disse Meyer.

Esta quase cúpula das esquerdas que é realizada na Venezuela permite encontrar dirigentes de todo o mundo que estão hoje na linha de frente da conjuntura mundial. Esse é o caso da deputada grega Rena Dourou, membro da coalizão da esquerda radical grega Syriza. Dourou colocou ênfase sobre um dos grandes paradoxos das democracias ocidentais: não só estão sob controle dos poderes econômicos, como assiste-se ao renascimento de grupos que reivindicam sem reparos seus laços com a ideologia de Hitler. O partido neonazista Aurora Dourada obteve mais de 7% de votos nas eleições legislativas realizadas na Grécia em meados de julho. Rena Dourou destacou essa curiosa coincidência: “O paradoxo está no fato de que a democracia nasceu na Grécia e agora ali surge o neonazismo. A Grécia é o berço da democracia e pode ser fatal para a Europa que o nazismo se instale lá”.

Quer sejam latino-americanos, europeus ou de outras partes do mundo, a mensagem central do primeiro dia de debates teve muito a ver com a convergência e com a racionalidade na ação. O eurodeputado Willy Meyer observou a respeito que “no Foro de São Paulo devemos nos colocar de acordo em torno de agendas comuns contra o neoliberalismo, a guerra e a agressão permanente aos povos e aos trabalhadores”.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

Carta Maior

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