O povo vietnamita teve de se
confrontar com o mais poderoso, impiedoso, bélico e rico dos imperialismos, mas
conseguiu uma grande vitória.
Vo Nguyen Giap
Ao longo de sua história o
Vietnã resistiu a inúmeras agressões estrangeiras: foram mil anos sob o domínio
do Norte, mil anos lutando por sua independência contra invasores de dinastias
feudais, incluindo as três ocasiões em que tivemos de lutar contra os Yuan
Mongóis, o mais poderoso exército do mundo no século 13; cem anos sob o jugo do
velho colonialismo da França. Todas essas foram longas, árduas e violentas
provações. Entretanto, os 21 anos de guerra contra os Estados Unidos – de
resistência contra o neocolonialismo – provaram ser o maior e mais difícil
desafio da nação vietnamita.
O povo vietnamita teve de se
confrontar com o mais poderoso, impiedoso, bélico e rico dos imperialismos. A
guerra atravessou cinco mandatos presidenciais dos EUA, com o maior
desequilíbrio de forças da historia do Vietnã contra agressões estrangeiras, em
termos tanto de modos de produção quanto em potenciais econômico e militar.
Ho Chi Minh e Giap no campo
de batalha
Os imperialistas americanos
mobilizaram na guerra do Vietnã um nível de munição sem precedentes em uma
faixa de terra tão estreita, com os recursos das mais avançadas armas,
excluindo de seu arsenal apenas bombas atômicas. No auge da guerra, os EUA
enviaram mais de meio milhão de soldados juntamente com uma grande esquadra
naval e a força aérea, além de mais 75 mil aliados e meio milhão de soldados
sul-vietnamitas. Esses números representam um recorde para uma ofensiva
neocolonialista.
Washington lançou mão de
todas as estratégias, táticas militares, política e diplomacia, bem como do
ambiente de destruição com o “agente Laranja”, deixando severas conseqüências
para muitas gerações de vietnamitas e mesmo para veteranos de guerra
americanos. A Casa Branca e o Pentágono enviaram os seus melhores estrategistas
e generais para combater o Vietnã durante a guerra.
O Vietnã tornou-se o foco
principal do duro embate entre revolucionários e reacionários no mundo, um
lugar onde havia a típica rivalidade entre progresso e reação, entre justiça e
injustiça na luta da humanidade pela paz, independência nacional, democracia e
progresso social.
Perante tão grandes desafios,
diferente dos prematuros dias de resistência contra a França, o Vietnã entrou
na guerra contra os EUA em novas condições: o povo e o exército pelo país
tinham enfrentado desafios na guerra contra a França e acumularam valiosas
experiências. Liberto, o Vietnã do Norte, possuindo elo com fraternos países
socialistas, estava mais consolidado até para poder agir como a grande barreira
no front no Vietnã do Sul. O exército vietnamita gradualmente se transformou em
uma força moderna e regular, treinando as unidades do exército que haviam sido
reagrupadas no norte para que pudessem um dia retornar, eventualmente se
incorporarem a divisões fortes e assim reforçarem o sul.
O presidente Ho Chi Minh
percebeu a perversa conspiração dos EUA muito cedo. Em 1950 ele já apontara o
envolvimento e a interferência norte-americanos na Guerra Indochinesa. Com o
intuito de garantir a paz, em onze ocasiões ele enviou cartas ao presidente
Truman. Na Batalha de Dien Bien Phu, com as armas ainda empunhadas, oficiais e
homens do exército vietnamita receberam uma carta de recomendação do presidente
Ho Chi Minh. Nela, ele sublinhou: “A vitória foi grandiosa, ainda que seja
apenas o começo”. Quando eu retornei de Dien Bien Phu para a base de Viet Bac,
liguei para o presidente. Ele disse: “Bem-vindo de volta com a vitória! Mas nós
teremos de lutar contra os EUA!” Durante a 6ª Plenária do Comitê Central do
Partido (julho de 1954), que priorizou a assinatura da Convenção de Genebra, foi
deliberado: “Os imperialistas dos EUA são os maiores inimigos dos povos
pacíficos no mundo, tornando-se o principal inimigo do povo Indochinês”.
O presidente Ho e o Partido
estavam certos em definir uma linha revolucionária nesse estágio. Ao lançar
simultaneamente duas estratégias revolucionárias nas duas partes do país em
prol de uma meta comum (a luta contra os EUA pela salvação nacional): a
libertação do Vietnã do Sul, e a proteção do Norte de uma eventual
reunificação, eles apontaram para o elo estratégico entre as duas partes do
país. Construir o socialismo no Norte assegura mais força para a libertação do
Sul. Desse modo, aumentar a luta revolucionária no Sul é para libertá-lo e
proteger o Norte. O Norte jogaria o papel mais decisivo; o Sul surtiria efeito
direto na conclusão da revolução democrática por todo o país. Isto também
representaria um estreito laço entre a retaguarda e o grande front, mobilizando
toda a população para a luta contra os impiedosos inimigos. Também mostraria a
gana da nação vietnamita. “O Vietnã é um, a nação vietnamita é uma. Rios podem
secar e montanhas virem abaixo, mas esta verdade jamais mudará”.
O Partido corretamente
combinou deveres nacionalistas com obrigações internacionalistas: o
fortalecimento da combativa aliança dos três povos Indochineses, a promoção da
solidariedade entre a revolução do Vietnã a correntes revolucionárias no mundo,
relacionando-se estreitamente com União Soviética, China e outros fraternos
países socialistas, desenvolvendo uma ampla frente de povos amantes da paz e da
justiça no mundo, inclusive norte-americanos que se opunham à agressão
imperialista dos EUA.
O presidente Ho e o Partido
tiveram êxito na edificação do espírito de “determinação para derrotar os
agressores EUA” no seio do povo e do exército. O destemor, a lealdade e a
determinação para ganhar de todos os inimigos agressores são antigas tradições
da nação. Durante a Revolução de Agosto de 1945 esse espírito se refletiu em
palavras de ordem como “Mobilizar as forças internas para nos libertar”, “Uma
oportunidade favorável surgiu, mesmo que tenhamos de queimar toda a Cordilheira
de Truong Son, nós o faremos pela independência nacional”. Durante a guerra de
resistência contra os franceses, o espírito era “Nós preferimos sacrificar a
todos a perder o país. Jamais seremos escravizados”. Já na guerra contra os
EUA, o presidente Ho Chi Minh convocou uma Conferência Política, demonstrando a
determinação de toda a população em lutar contra os imperialistas americanos.
Quando os EUA enviaram um número
massivo de soldados para o Sul e utilizaram forças navais e aéreas para
destruir o Norte, Ho Chi Minh afirmou: “A guerra pode durar 5, 10, 20 anos ou
mais. Hanoi, Haiphong e algumas cidades e empreendimentos podem ser destruídos,
mas o povo vietnamita não se intimidará! Nada é mais precioso que a
independência e a liberdade!” Ou “Enquanto houver quaisquer agressores
estrangeiros no país, nós continuaremos a luta para varrê-los para longe”.
Isso foi considerado o “apelo
sagrado para a luta” contra os EUA pela salvação da nação, representando a
determinação para a luta de toda a população e do exército.
Naturalmente, apenas
determinação não foi suficiente para derrotar os norte-americanos, mas em
primeiro lugar a coragem de lutar contra os EUA ajudou a encontrar um caminho
para vencê-los.
A determinação para a luta e
o conhecimento de como lutar, juntamente com força de vontade e inteligência,
heroísmo revolucionário e criatividade, combinados são o espírito e a mente que
ajudaram o Vietnã a agüentar todas as mudanças.
Aprender a lutar foi
resultado de um processo de criatividade das lideranças e do povo – baseado na
compreensão da lei revolucionária, da estratégia de guerra, dos pontos de
vistas realistas, na avaliação correta da força do inimigo, bem como de suas
fraquezas – culminando numa mudança decisiva nos aspectos da guerra, avançando
passo a passo em direção à vitória final.
O levante foi uma grande
iniciativa. No espírito do “Programa Revolucionário para o Vietnã do Sul”,
escrito pelo secretário-geral do Partido, Le Duan, em especial a 15ª Resolução
do Comitê Central do Partido, os sulistas se levantaram de um obscuro período
para romper com o regime testa-de-ferro de Saigon, para libertar grandes áreas
rurais e se engendrar em operações de áreas urbanas. O “exército de cabelos
compridos” foi um símbolo brilhante do heroísmo revolucionário e do pensamento
das mulheres Sul-vietnamitas. Com o Levante, a revolução no Sul assumiu uma
posição ofensiva. A Frente de Libertação Nacional e o Exército de Libertação do
Sul do Vietnã se estabeleceram, criando poderosas mudanças em termos da força e
da posição da revolução. Como o governo do neocolonialismo, através do regime
testa-de-ferro ditatorial, provou não ser duradouro, Washington, como último
recurso, apelou para a tática de “Guerra especial” em sua estrutura de “reação
flexível”, para se opor às tendências revolucionárias, como havia usado no
início da Segunda Guerra Mundial.
Isso exigiu uma nova forma de
resistência às táticas da “Guerra especial” no sul do Vietnã, transformando um
levante parcial numa guerra revolucionária. Compreendendo as dificuldades de
uma acirrada guerra revolucionária, o povo sul-vietnamita promoveu a luta
popular. Esmagando as operações dos inimigos e desintegrando sua rede de
aldeias estratégicas, consideradas pela administração testa-de-ferro como
impulsionadoras das forças políticas em áreas urbanas e rurais. As forças
armadas se construíram gradualmente. A vitória de Ap Bac sinalizou a
possibilidade de resistência às novas táticas dos EUA. Foram relatadas
sucessivas vitórias em Binh
Gia , Ba Gia e em
Dong Xoai , a varredura dos batalhões de Saigon provocaram o
colapso da estratégia de “Guerra especial” dos EUA e alertaram para a mudança
desta em uma “Guerra Local”.
Os EUA consideravam o Vietnã
um foco do movimento de libertação que precisava ser detido a fim de impedir
outras insurreições nacionais no mundo e a disseminação do comunismo pelo
Sudeste da Ásia. Os EUA lançaram a “Guerra local” enviando tropas
expedicionárias americanas para lutarem diretamente na frente de batalha do
sul, conduzindo sua guerra à destruição do norte numa tentativa de
“estrangular” a revolução no sul, e “lançar os norte-vietnamitas de volta à
idade da pedra”, colocando desse modo um desafio sem precedentes ao povo
vietnamita de ambas as partes do país.
O presidente Ho Chi Minh e o
Partido avaliaram a nova situação estratégica de maneira calma e clara.
Criou-se uma grande unanimidade entre o Partido, o exército e o povo, que
estavam determinados a se defenderem da ofensiva norte-americana.
Sob a égide dessa difícil e
grave situação a vontade e a determinação do Vietnã em lutar tiveram bom
resultado. Nunca houve um espírito anti-EUA tão grande como nessa época. O país
inteiro ferveu com a luta contra os EUA e todo o povo se dirigiu ao campo de
batalha. No Sul, movimentos semelhantes aos “Valentes soldados para varrerem as
forças armadas dos EUA”, “Vamos procurar por soldados dos EUA para lutar, vamos
procurar soldados fantoches para matar”, “Vamos perseguir o inimigo para
lutar”, dentre outros. No Norte, “Cada um trabalhando por dois”, “Três
prontidões”, “Três responsabilidades”, “Vamos apontar direto para o inimigo e
atirar”, “Vamos atravessar a Cordilheira Truong Son para salvarmos o país”. A
Estrada Truong Son, a Trilha Ho Chi Minh na terra e no mar como linhas de
transporte estratégicas tornaram-se “caminhos lendários” que propiciaram à
retaguarda deslocar para ajudar no grande front.
As batalhas de Nui Thanh, Van
Tuong, Ya Drang, Playme, Dat Cuoc e Dau Bang foram as primeiras batalhas de
significado importante, pois expuseram a fraqueza das tropas dos EUA. O Vietnã
do Norte abateu sofisticados aviões norte-americanos e capturou seus pilotos.
As vitórias iniciais em ambas as partes do país não foram apenas corajosas, mas
também provaram que o exército e o povo vietnamita poderiam derrotar a
infantaria e a força aérea dos EUA. Os esforços das mulheres de Cu Chi e Trang Bang em impedir que os
tanques de guerra dos EUA destruíssem os campos de arroz e que os soldados
queimassem as casas demonstraram a destreza da política, aliada à gana do povo
vietnamita frente às tropas norte-americanas.
Os EUA calcularam que eles
precisariam de várias centenas de milhares de soldados e lançaram ofensivas
estratégicas durante três estações secas, numa tentativa de derrotar o Vietnã
antes de retornarem ao país e imporem o neocolonialismo ao Vietnã do Sul. Com
isso em mente, deflagraram operações de “procure e destrua” na esperança de
quebrar a espinha dorsal do autêntico exército Viet Cong, capturando ou
aniquilando o Comando Central ou o Comando do Exército de Libertação do Vietnã
do Sul, promovendo alguns bombardeios em larga escala contra o Vietnã do Norte
e obstruindo a Trilha Ho Chi Minh – e então o Vietnã estaria completamente
derrotado.
Mas depois das duas
contra-ofensivas nas estações secas de 1965-1966 e 1966-1967 com operações de
vulto como Cedar Falls, Attleboro, e Junction City, os EUA não estavam aptos a
destruir as forças do Exército de Libertação ou capturar o “cérebro” da guerra
de resistência no Sul. Ao contrário, os EUA sofreram derrotas sem precedentes.
Próximo à terceira estação seca, dificilmente os EUA começariam a fazer
qualquer coisa além da batalha de Khe Sanh. E o levante de Tet de 1968 foi como
um raio caindo sobre eles, estremecendo sua ofensiva. O general Westmoreland
foi afastado, o secretário da Defesa McNamara demitiu-se, o presidente Johnson
teve de declarar um cessar unilateral dos bombardeios acima dos 20º de latitude
no Vietnã do Norte, e teve de aceitar sentar à mesa de negociação com o Vietnã
na Conferência de Paris, sob o risco de não concorrer a um segundo mandato
presidencial.
O surpreendente, simultâneo,
poderoso e eficaz golpe da ofensiva de Tet em 1968 foi uma iniciativa única,
jamais vista antes, marcando um ponto de virada básico que mudou o aspecto da
guerra e abriu o processo de arrefecimento da guerra por parte dos EUA. Nós
tínhamos tanta determinação quanto conhecimento para lutar e vencer as tropas
norte-americanas quando elas eram esmagadoras em número – uma potência com seus
maiores esforços guerreiros. A estratégia de “guerra local” foi à pique e os
EUA tiveram de mudar de posição para a “desamericanização”, em detrimento da
“vietnamização” da guerra.
O processo de arrefecimento
dos EUA foi uma prolongada e violenta medição de força. Eles arrefeceram a
guerra, mas permaneceram obstinados em prolongá-la e alastrá-la por toda a
Indochina. Nosso povo permaneceu lado a lado aos povos do Laos e Camboja para
frustrar os planos e ardis dos EUA.
Em 1º de Janeiro de 1969, em
seu poema de Saudação do Ano Novo, Tio Ho escreveu: “Lutar até que os EUA vão
embora e o regime testa-de-ferro seja derrubado.” Ninguém imaginaria que seriam
seus últimos cumprimentos de Ano Novo. O talentoso estrategista, o professor da
revolução vietnamita delineou estes dois passos para a vitória final: “Norte e
Sul reunidos, pode ser um feliz salto”. Nossos povo e exército cumpriram
totalmente as instruções de Tio Ho. Junto com o povo e o exército do Laos nós
derrotamos a operação Lam Son 719 na Estrada nº 9 – batalha ao sul de Laos em terra. Então a
ofensiva estratégica foi lançada em 1972 por todo o Sul, e a batalha aérea de
Dien Bien Phu no Norte. Nós alcançamos vitórias de significado decisivo. Os EUA
tiveram de assinar o Acordo de Paz de Paris, assumindo o compromisso de
respeitar a independência, soberania e integridade territorial do Vietnã,
retirar todas as suas tropas, alterando a correlação de forças – favorável a
nós pela primeira vez em 18 anos de resistência contra os EUA. Diante dessa
situação, em julho de 1971 o Comitê Central do Partido convocou a 21ª
Conferência e emitiu a Resolução sobre a grande vitória da resistência contra
os EUA pela salvação nacional e a tarefa da revolução do Sul na sua nova fase.
A estratégica batalha no
começo de 1975 marcou o novo brilhante desenvolvimento da arte da Guerra
popular no tempo moderno, especialmente a arte de gerenciar a Guerra no estágio
final, a arte de organizar e dirigir a implementação de batalhas-chave e
conduzir a resistência à vitória total.
As batalhas de Thuong Duc e
Phuoc Long serviram como estratégicas batalhas-termômetro que revelaram a
fraqueza do exército fantoche e a limitação da habilidade dos EUA para se
reorganizarem.
Tendo preparado a estratégia
no Norte e no Sul, a ofensiva geral e a insurreição, no início de 1975, foram
marcadas por um estratégico golpe mortal em Buon Ma Thuot e a
libertação dos planaltos centrais foi uma excelente escolha tática, criando
diversidade, enganando e desorganizando o inimigo através de esquemas, lutando
bem, alcançando grandes vitórias e rapidamente mudando o aspecto da guerra.
Em 14 de abril de 1975, a Executiva Nacional
do Partido decidiu chamar a libertação do Sul de “Campanha Ho Chi Minh”.
Atentas em aproveitar tal
oportunidade, a Executiva Nacional e a Comissão Militar do Comitê Central do
Partido tomaram a iniciativa de criar o fator surpresa e alterar o plano de
libertação do Sul – cujo prazo era de três anos –, diminuindo para um ano apenas.
A campanha para libertar Hue
e Danang foi uma ofensiva a mais e promoveu a insurreição de uma maneira
oportuna, ousada, criativa e eficaz, destruindo e desintegrando totalmente o
exército fantoche nas províncias costeiras sem deixá-los concentrados em Saigon,
libertando o Vietnã central e as Ilhas Spratley. Desse modo criaram novas
posição e força. O Comando Supremo se agarrou à nova oportunidade, decidindo
pela libertação do Sul antes da estação chuvosa em 1975.
No espírito de “Rápido e mais
rápido. Ousado e mais ousado. Fazendo uso de cada hora, cada minuto para
alavancar a frente pela libertação do Sul. Determinado a lutar e alcançar a
vitória total”, a histórica Campanha Ho Chi Minh foi feita com a determinação
de lutar e alcançar a vitória total, mantendo a Cidade de Saigon quase intacta
em sua libertação.
Com 55 dias (uma estranha
coincidência comparada com os 55 dias da batalha de Dien Bien Phu) com
esmagador poder tanto militar quanto político – e com três golpes estratégicos
junto com a ofensiva e o levante no Delta do Rio Mekong –, mais de um milhão de
tropas pró-EUA foram destruídas e dispersas, o governo fantoche foi derrubado,
o regime neocolonialista – construído pelos EUA com grande dor através de cinco
presidências – foi esmagado.
A vitória da resistência
anti-EUA foi esperada com grandes sacrifícios e esforços da nação inteira em
uma feroz e longa disputa de inteligência e força com o inimigo, especialmente
pelos compatriotas do Sul. A defesa invencível da terra natal; a vitória da
liderança, direção, gerenciamento e comando no nível macro em combinação com
específica ação de combate e esforço de cada oficial e homem em todos os campos
de batalha, em cada unidade – não de um único campo de batalha ou unidade –; a
Executiva Nacional, a Comissão Militar do Comitê Central do Partido, o Quartel
General e seus representantes no front, o Comitê Central para o Vietnã do Sul e
os Altos Comandos de campos de batalha, os Altos Comandos das campanhas e o
Alto Comando da Trilha Ho Chi Minh jogaram um papel especialmente importante.
No início de 1975, o Alto Comando Supremo mostrou claramente seu talento para
planejar a estratégia, bom conhecimento do inimigo e de si mesmo na direção da
guerra em escala nacional em uma ágil e valente maneira para alcançar a vitória
total em uma situação mundial extremamente complicada durante os meados dos
anos 70.
O dia da vitória total em 30
de abril de 1975 entrou para a história como o fim de uma estratégia sem
competição. Durante a longa marcha de 30 anos com três marcos da vitória da
Insurreição Geral de agosto de 1945,
a vitória da batalha de Dien Bien Phu e a vitória total
no início de 1975, nossa nação completou gloriosamente a causa da salvação
nacional. O jugo do colonialismo, velho e novo, que tinha durado por mais de
cem anos em nosso país fora abolido para sempre. Nossa terra natal estava
totalmente independente e unificada. O país inteiro embarcou pelo caminho do
socialismo.
Em escala mundial – pela
primeira vez na história houve esse esforço de países pequenos–, uma nação que
costumava ser uma colônia semifeudal, subdesenvolvida economicamente,
levantou-se para se libertar e derrotou o maior poder imperialista com sua
própria força, dando um heróico, destemido, sábio e talentoso exemplo para o
movimento de emancipação nacional no mundo. A expressão “Vietnã – Ho Chi Minh”
entrou para as línguas das nações como um sinônimo de consciência humana e
dignidade com a verdade “nada é mais precioso que independência e liberdade”.
A vitória do povo vietnamita
foi de enorme magnitude internacional, também da humanidade amante da paz e
justiça pelo resto do mundo.
A vitória do povo vietnamita
foi ainda de um profundo caráter de época. Ela confirmou a verdade que “um
Estado, não importa o quão forte seja, que usa a força para impor sua vontade a
outros, será, por fim, derrotado”. A vitória de Dien Bien Phu e a vitória no
começo de 1975 foram o destino que a história havia reservado para as guerras
de agressão no período moderno.
Libertação nacional
Os EUA e outras forças
incrementaram e desenvolveram modernas armas militares e equipamentos nos
últimos anos. A corrida armamentista continuou indo adiante. Paralelamente com
a nova estratégia, os “direitos humanos” foram colocados acima da soberania –
algumas rodas militares haviam concedido a si mesmas o direito de invadir
Estados independentes e soberanos a despeito das leis internacionais. A guerra
do Golfo ocorreu após a da ofensiva contra Kosovo e a Guerra do Iraque, e ainda
existem tratos para novas guerras de ofensiva. Uma nova questão se levanta: na
condição de agressores com armas de alta tecnologia, a teoria militar
vietnamita ainda tem algum valor?
Nós nunca subestimamos o
inimigo e sempre demos importância em nos apressar nas pesquisas das ciências e
técnicas militares, desenvolvendo as teorias militares vietnamitas em altos
níveis, especialmente quando as forças empreendiam uma “revolução no campo
militar”. Nós podemos confirmar que a teoria militar vietnamita da era de Ho
Chi Minh nos ajudou a manter a independência, a soberania, a integridade
territorial no nosso país, vencendo em todas as guerras a despeito de toda
modernidade que possuíssem os agressores ou de onde viessem.
A cultura vietnamita, a linha
Revolucionária correta do Partido e o desenvolvimento criativo e constante das
teorias militares serviram de lastro e força para o Vietnã na era Ho Chi Minh.
Depois de conseguir total
independência e reunificação nosso país embarcou na trilha do socialismo e toda
a população no norte e no sul passou pelo aperto de duas tarefas estratégicas:
construção nacional e defesa de sua terra natal.
Na causa do desenvolvimento
econômico, que se tornou a tarefa central, após um período de falhas e erros
subjetivos, imitações e voluntarismo, nosso Partido logo voltou ao pensamento
de Ho Chi Minh, provido de senso de realidade, e redescobriu a lei, trabalhando
a linha correta e criativa de renovação. Essa linha inspirou fortemente nosso
povo a conseguir grandes vitórias na economia, cultura e em frentes externas.
Nosso Partido chegou a uma conclusão histórica: o marxismo-leninismo e o
pensamento de Ho Chi Minh constituem fundamento ideológico e compasso para a
ação. Nosso país emergiu da crise e está trilhando um caminho para a
industrialização e a modernização com uma economia multi-setorizada e
mecanismos de mercado sob o gerenciamento do Estado juntamente com a orientação
socialista.
Entretanto, mesmo com tão
grande vitória da linha de renovação nós temos de ter coragem de superar “as
idéias preconcebidas” para olharmos direto para a verdade.
Devemos dizer que até hoje
nosso país permanece no rol das nações pobres do mundo: a estrutura econômica
principalmente agrícola, a produtividade ainda muito baixa e o nível de
tecnologia atrasado em comparação com países desenvolvidos. Entretanto,
cumprindo a meta de construir o socialismo, a maior contradição na nossa
sociedade entre a alta demanda para as forças de desenvolvimento produtivo, bem
como a constante melhoria da vida material e cultural do povo, com a pobreza e
condições desfavoráveis existentes vai sendo superada passo a passo. Sem
mencionar que a corrupção, o declínio da moralidade e as aparências das mazelas
sociais trouxeram à tona o outro lado do mecanismo de mercado.
Nesse ínterim, a face do
mundo mudou rapidamente. Um grande número de países desenvolvidos estava agora
entrando numa nova era socioeconômica: a era da economia baseada no
conhecimento da civilização intelectual. Com isso o serviço e o intelecto se
tornaram líderes das forças produtivas. Nessas bases, uma nova ordem mundial
com tendência à globalização foi tomando forma, desenhando todo o planeta
dentro de um grande turbilhão governado por um pequeno número de forças e
grupos supranacionais.
Contrariando o desejo de paz
e progresso da humanidade a Guerra de círculos hegemônicos e seus serviços de
inteligência vão deflagrando guerras locais, terror, conflitos étnicos e
religiosos, “evolução pacifica”, revolta, subversão, separação e a corrida
armamentista de armas de alta tecnologia nunca vistas antes. O ambiente de
segurança do mundo está passando por mudanças sem precedentes.
Aparentemente, na entrada do
século 21 e do terceiro milênio, nosso Partido se depara com novas
oportunidades e também com desafios sem precedentes. Como no passado, nos
grandes divisores de águas pela luta pela libertação nacional nosso Partido,
provido de senso de realidade, trabalhou uma política de acordo com a lei de
desenvolvimento da Guerra revolucionária – que hoje em dia delineia novas
políticas como impulsos para o crescimento do país.
Tais políticas vêem a
construção econômica como a tarefa central dando prioridade às forças de
desenvolvimento produtivo, como atestam Marx e Engels: o desenvolvimento
universal das forças produtivas modernas serve como premissa de todas as premissas
para o socialismo e o comunismo – relações de produção devem estar de acordo
com o caráter desenvolvimentista e no nível das forças produtivas.
Tais políticas vêem educação
e treinamento e ciência e tecnologia como a maior prioridade porque a ciência e
o intelecto se tornaram líderes das forças produtivas com a tecnologia avançada
servindo como parâmetro e direcionando a causa da modernização.
Tais políticas também trazem
à tona a força interna do país, principalmente do povo e da cultura vietnamitas
que servem de base para a integração regional e do mundo, fazendo uso de fontes
de capital estrangeiro, tecnologia e conhecimentos de gerenciamento para a
causa do desenvolvimento nacional.
Tais políticas dão voz à
constante construção e reconstrução do Partido, vendo isso como uma tarefa
primordial para fazer nosso Partido puro, forte, democrático, disciplinado e
unido, realçando a moralidade revolucionária, combatendo o individualismo,
factualismo, eliminando a corrupção e as mazelas sociais; recapitulando as
realidades e desenvolvendo avançadas teorias como ter uma consciência digna,
ter a honra e o intelecto da classe trabalhadora e da nação em bases sobre as
quais se reformará o estado do povo, para o povo e pelo povo, fortalecendo e
expandindo a Frente Unida Nacional.
Para aumentar incessantemente
nossa vigilância, salvaguardar nossa independência, nossa soberania e nossa
integridade territorial, águas e ambiente ecológico, adicione importância à
construção da força de defesa de todo o povo e à segurança do povo, tomando
iniciativa na integração econômica global. Assim, se ganha o máximo de simpatia
e apoio dos movimentos pacifistas, de independência nacional, democracia e
progresso do mundo.
Todo o nosso povo unido como
um só para superar o conservadorismo e o dogmatismo e perceber sob todos os
esforços a linha trabalhada pelo partido – levando adiante o 10º Congresso com
novos progressos e vitória.
No trigésimo aniversário da
vitória de 30 de abril, nós ainda lembramos nosso estimado Tio Ho, o talentoso
e amado líder do Partido e da nossa nação e as forças armadas populares do
Vietnã; os secretários-gerais Truong Chinh e Le Duan, outros líderes do Partido
e do Estado, generais, líderes e comandantes das frentes dos campos de batalha
que tiveram grande contribuição para a grande vitória da nação, mas já não
estão entre nós.
Profundamente tocados
lembramos muitos quadros, combatentes e companheiros que bravamente tombaram
pela gloriosa causa revolucionária que nossa terra natal e nosso povo têm hoje.
Gostaria de aproveitar esta
oportunidade para dar meus sinceros elogios e profunda gratidão às mães dos
heróis vietnamitas, às famílias dos mártires revolucionários e às famílias que
foram de grande ajuda bem como aos compatriotas por todo o país.
Estendo meus sinceros elogios
e meus profundos sentimentos a todos os quadros e combatentes das forças
armadas, aos inválidos de Guerra, vítimas do agente laranja, veteranos de
Guerra, antigos voluntários da juventude, trabalhadores, homens e mulheres engajados.
Expresso meus sinceros
agradecimentos às nações vizinhas bem como a todos nossos amigos internacionais
pela sua grande colaboração e gentil assistência à nossa nação na guerra e no
processo de reconstrução da nação.
Acredito piamente que sob a
invencível bandeira do Partido e de Ho Chi Minh, com grande ambição, sendo
firmes sob todas as circunstâncias e trazendo toda a capacidade e pensamento na
nova era, nosso povo, cada vez mais unido, permanecerá fiel aos nossos sonhos:
avançar na renovação, industrialização e modernização; conquistar novas
vitórias; alcançar desenvolvimentos rápidos e constantes; tomar nosso país, um
país heróico, mas ainda pobre e cheio de revezes, saindo da atual posição de
atraso para em breve tornar-se um país heróico, rico, forte e civilizado,
mantendo o ritmo e caminhando lado a lado com a média. E então países avançados
do mundo, como nós, colônias no passado, tornar-se-ão a vanguarda dos
movimentos de libertação nacional.
General Vo Nguyen Giap foi
comandante de operações terrestres do Exército de Libertação do Vietnã.
Discurso proferido no seminário científico “Vitória na primavera de 1975 – a
grande habilidade e inteligência do Vietnã” no Thong Nhat Palace em Ho Chi Minh City em
Abril de 2005. Traduzido por Mariana Venturini.
Enviado por Miguel Gonçalves Trujillo Filho
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