Um atentado na última
terça-feira em Bogotá evidenciou a ruptura entre o atual presidente da
Colômbia, Juan Manuel Santos, e seu antecessor, Álvaro Uribe.
O ataque a um ônibus, que teve como alvo o
ex-ministro do Interior e Justiça da Colômbia, Fernando Londoño, matou
duas pessoas e deixou mais de 50 feridos, entre eles o próprio Londoño.
Embora formalmente Uribe faça parte
da base do governo de Santos, para analistas ouvidos pela BBC Brasil os
dois políticos "já estão em caminhos diferentes", com suas divergências
pessoais e políticas cada vez mais visíveis.
Uribe responsabilizou o governo de Santos pelo
ataque da terça-feira, que ele atribuiu ao que chamou de "fragilidade"
na condução da política de segurança.
O ex-presidente criticou a proposta do atual
governo de viabilizar uma saída negociada pela paz com as Forças
Revolucionárias da Colômbia (Farc). "Enquanto Bogotá está banhada em
sangue, o governo pressiona os congressistas a aprovar o marco jurídico
para a paz", disse.
No dia do atentado, a Câmara de Deputados estava
analisando um projeto de lei que permite que o governo de Santos dê
início a um processo de paz na Colômbia, alternativa totalmente
rejeitada por Uribe, que defende a ideia de enfrentar a guerrilha sem
reconhecer nas Farc seu caráter insurgente.
Apesar das críticas do ex-presidente, o projeto
foi aprovado com ampla maioria na Câmara e agora segue para dois debates
no Senado.
Depois da aprovação, o Juan Manuel Santos também
endureceu o discurso, comparando resultados de sua política de
segurança com a do governo de Uribe.
"No governo anterior, tínhamos estes atos
terroristas quase toda semana. Mesmo assim, recebemos o apoio da
população colombiana, e sempre nos mantivemos no mesmo rumo, porque
tínhamos objetivos", lembrou Santos.
Na última sexta-feira, o presidente afirmou que ainda não se sabe quem são os responsáveis pela explosão do ônibus de Londoño.
Guerra via Twitter
Uribe e Santos têm dado vários sinais de
separação desde o ano passado, quando o presidente reconheceu o conflito
armado colombiano, ao aprovar a Lei de Vítimas e Reparação. Desde
então, seu antecessor faz críticas cada vez mais fortes ao atual
governo.
"Uribe condena tudo o que presidente faz: as
promessas de Santos de acabar com a pobreza, o projeto de casas
populares, e o chama de gastador e demagogo", comenta o cientista
político Ricardo García.
A reação de Uribe à explosão no ônibus
evidenciou sua consolidação como oposição ao governo, direcionando
críticas diárias a Santos nos meios de comunicação e em seu Twitter.
De acordo com os analistas, o presidente, que
inicialmente ignorou as críticas, deve reagir mais na medida em que as
provocações forem mais fortes.
"Santos dizia que não se importava com a opinião
de Uribe. Mas neste episódio do atentado ele foi mais ofensivo no
contra-ataque", avalia o professor de Ciências Políticas da Universidade
de Antioquia, Jorge Andrés Hernández.
Elites diferentes
A "briga" expõe também as diferenças pessoais entre os dois políticos.
"Uribe é o político carismático, capaz de
arrebanhar multidões. Ele é extremamente religioso, cercado de católicos
e evangélicos, e em seu governo estimulou a ideia nacionalista e uma
postura quase messiânica", conta Andrés.
O presidente Santos também tem raízes na elite,
só que na tradicional aristocracia urbana de Bogotá. A família dele foi
proprietária do maior jornal diário colombiano, o El Tiempo. Seu tio-avô Eduardo Santos foi presidente do país entre 1938 e 1942.
"A diferença é que ele é mais ligado às forças
empresariais urbanas. Sua família sempre participou da vida política,
das grandes decisões", analisa Hernández.
Santos é conhecido por ser politicamente
pragmático. "Ele chega a ser oportunista e representa a política de
centro, que muda de acordo com os ventos."
A pressão do ex-presidente está fazendo com que o
atual se antecipe para trabalhar pela reeleição, de acordo com García e
Hernández.
Uribe não pode mais ser eleito, porque a lei colombiana só permite uma reeleição consecutiva.
No entanto, os especialistas acreditam que uma
alternativa possível para ele seria a criação de um movimento novo,
desvinculado do Partido Social de Unidade Nacional (de La U), legenda
que ele mesmo ajudou a criar e da qual também faz parte Juan Manuel
Santos.
García diz que apesar do "barulho", Uribe está
em desvantagem quanto a Santos, porque ele não tem a base e nem a
"máquina" do governo a seu favor.
"Mesmo assim ele pode criar um movimento e
conseguir aglutinar uma parte dos conservadores com ele. O uribismo
perdeu força, mas Uribe é hábil suficiente, para, pelo menos, dificultar
a vida de Santos", conclui.
Fonte: BBC Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário