• O magnicídio foi um
golpe de Estado
Gabriel Molina Franchossi
Gabriel Molina Franchossi
O crime de Dallas, no qual ainda se
pretende envolver Cuba, foi realmente a consumação
do golpe de Estado que tramavam altos chefes
militares da CIA e outros ultraconservadores.
Este
magnicídio não só afetou os Estados Unidos, mas sim,
em surpreendente medida, também atingiu Cuba e o
mundo todo. Após quase 50 anos do assassinato de J.F.
Kennedy, quando a dramática relação se torna cada
dia mais presente no panorama mundial contemporâneo,
a CIA pretende adiar, por outro quarto de século, a
revelação de alguns documentos que ainda esconde,
acerca do crime de 22 de novembro de 1963. Parte
dessa estratégia pode ser lida no livro The
Castro’s secrets (Os segredos de Castro), de
Brian Latell, oficial da CIA para a América Latina,
de 1990 a 1994, e que depois de participar de
operações da agência contra a Ilha, desde os anos
60, tenta disfarçar o mais escandaloso complô do
século 20.
Um dia depois do magnicídio, o
presidente Fidel Castro foi, possivelmente, o
primeiro em denunciar o assassinato como um complô,
num comparecimento na tevê cubana: "Nós podemos
dizer que há elementos dentro dos Estados Unidos que
defendem uma política ultrarreacionária em todos os
campos, tanto no da política internacional como no
da nacional. E esses são os elementos chamados a
beneficiar-se dos sucessos que tiveram lugar ontem
nos Estados Unidos".
O líder cubano leu um dos primeiros
telexes: "Dallas, 22 de novembro, (UPI). — A polícia
deteve hoje Lee H.Oswald, identificado como o
presidente do ‘Comitê do Jogo Limpo com Cuba’, como
principal suspeito no assassinato do presidente
Kennedy. Quatro dias depois do assassinato, em 27 de
novembro, analisou a teoria de Oswald como atirador
único, e suas alegadas simpatias "castristas", que
nesse momento ninguém questionava. Citou Hubert
Hammerer, campeão olímpico de tiro, que declarou
inverossímil que um atirador equipado com uma
carabina de repetição, com tele-objetivo, possa
acertar no alvo três vezes seguidas, no espaço de
cinco segundos, quando dispara contra um alvo que se
desloca a uma distância de 180 metros, a uma
velocidade de 15 quilômetros por hora". Com base em
suas experiências na Serra Maestra, com fuzis de
mira telescópica, como o que disseram utilizou
Oswald, Fidel acrescentou: "Uma vez que se dispara o
alvo se perde — por efeito do disparo — e é
necessário voltar a encontrá-lo rapidamente (...)
com esse tipo de arma é realmente muito difícil
fazer três disparos consecutivos. Mas, sobretudo,
muito difícil acertar no alvo. Quase impossível"
(1).
Fidel analisou que Kennedey era
empurrado ao caminho da guerra pelos círculos mais
reacionários, com fortes campanhas, leis e
resoluções no Congresso, forçando o governo, pelo
que eles qualificaram, em 1961, como o colapso da
Baía dos Porcos, até colocar o mundo à beira de uma
guerra nuclear, a Crise de outubro ou Crise dos
Mísseis. O primeiro-ministro de Cuba, na época,
também se referiu à atitude de Kennedy sobre os
direitos civis, como a segregação e a discriminação
racial, e a política de coexistência pacífica que
avançava com Jruschov. Estas ações desatavam
insuspeitas forças contra o presidente e faziam
pensar que o assassinato era obra de alguns dos
elementos inconformados com sua política,
particularmente sua política respeito a Cuba , que
não consideravam suficientemente agressiva, pois se
resistia a autorizar uma intervenção militar direta.
O líder cubano se referiu a
evidências de que se Oswald "tivesse sido o
verdadeiro assassino, estaria claro que os autores
intelectuais do assassinato estiveram preparando a
coartada com muito cuidado. Enviaram este indivíduo
a solicitar visto de Cuba no México. Imaginem...que
o presidente dos EUA acabasse sendo assassinado por
esse indivíduo, que acabava de retornar da União
Soviética, passando por Cuba. Era a coartada ideal
(...) para fazer crer à opinião pública
norte-americana a suspeita de que tinha sido um
comunista ou um agente de Cuba e da União Soviética,
como diriam eles" (2).
Em 1978, demonstrou-se que Fidel
tinha razão. O Comitê Seleto do Congresso dos
Estados Unidos que investigou o assassinato,
concluiu: "O Comitê considera a possibilidade de que
um impostor visitasse a embaixada soviética ou o
consulado de Cuba, durante um ou mais contatos, nos
quais Oswald foi identificado pela CIA, em outubro
de 1963" (3) O documento do Comitê chega à conclusão
de que não tinha nada a ver com Oswald, porque
enquanto este era pequeno e magro, o indivíduo da
fotografia era "forte, atlético, 6 pés de estatura e
careca" (4).
A suspeita começara, em parte,
quando o FBI mostrou à mãe de Oswald a suposta
fotografia de seu filho. Ela declarou que não era de
Lee, mas sim de Jack Ruby, o autor de sua morte. De
fato, não havia nenhuma semelhança — acrescentava o
relatório do Comitê — o homem da fotografia não era
nem Oswald nem Ruby. O FBI também o negou. Num
memorando ao serviço secreto consignava: "Estes
agentes especiais (do FBI) opinam que o indivíduo da
fotografia não é Lee Harvey Oswald".
Fidel tinha suficientes razões para
alarmar-se com as insinuações e acusações, típica
estratégia da CIA. Ainda agora, Latell tenta afastar
as suspeitas sobre os verdadeiros responsáveis pelo
crime, tenta fazer renascer o infundado da companhia
contra Cuba e de negar que houve um complô entre
aqueles que "defendem uma política ultra-reacionária".
A teoria do atirador solitário é esgrimida não só no
caso de Oswald em 1963, mas também no de Sirhan H.
Sirhan, suposto assassino de Robert Kennedy, em
1968, no mesmo momento que foi eleito candidato
contra Richard Nixon, suspeito do magnicídio. A
verdade tem-se revelado, pouco a pouco, a partir
desse momento. Os últimos detalhes foram conhecidos
em 2005, através do livro do pesquisador David
Talbot Brothers, The hidden history of the
Kennedy years (Irmãos. A escondida história dos
anos dos Kennedy), com sua sensacional revelação de
que Robert possivelmente foi assassinado quando
admitiu que, caso fosse eleito presidente, o qual
estava praticamente próximo de conseguir, reabriria
o amanhado processo.
Latell se refugia na desprestigiada
teoria do assassino único da comissão Warren, que
criou Johnson, para investigar o assassinato, ao
substituir Kennedy na presidência. Uma das últimas e
mais contundentes contestações a constitui a nota
enviada, em 8 de novembro de 1963, 15 dias antes do
atentado, por Oswald a Howard L. Hunt, também
suspeito de participar do magnicídio e organizador
da rusga contra os "encanadores" do Watergate "Gostaria
que me desse informação sobre minha posição. Estou
solicitando isto somente para informar-me. Sugiro
discutir o assunto antes de dar qualquer passo.
Muito obrigado. Lee Harvey Oswald" (5).
O pesquisador Paul Kangas explica
que a carta de Oswald foi obtida pelo escritor e
jornalista Jack Anderson em Nova Orleans, onde vivia
o "atirador solitário" com Clay Shaw, os cubanos
Félix Rodríguez, Bernard Barker e Frank Sturgis,
investigados também pelo Comitê Especial do
Congresso e pelo juiz Jim Garrison. Anderson afirma
num vídeo que Hunt e Shaw pediram a Oswald reunir-se
com eles, para organizar a posição que ocuparia em
Dallas durante o atentado. Como não recebeu resposta
de Hunt, Oswald disse a James Hosty, agente do FBI
que o atendia, que Hunt e um grupo de cubanos do
gabinete da CIA, em Miami, estavam planejando matar
Kenndey em Dallas, em 22 de novembro de 1963.
Segundo Kangas, Hosty enviou um telexe a Hoover,
diretor do FBI, para informá-lo e este o reenviou a
seus agentes no país.
O juiz Garrison narra que Waggoner
Carr, procurador geral do Texas, entregou à Comissão
Warren, numa sessão secreta, efetuada em 22 de
janeiro de 1964, provas de que Oswald era o
informante secreto do FBI número 179, com um
ordenado de US$ 200, desde 1962. As provas foram
entregadas a Carr por Allan Sweat, chefe da divisão
criminosa do escritório do xerife de Dallas e
publicadas pelo Philadelphia Inquirer, o
Houston Posat e o The Nation, mas a
Comissão Warren não citou para declarar nem Sweat
nem os jornalistas que redigiram as notícias.
Garrison admite que se Oswald era informante do FBI,
em Dallas e Nova Orleans, pode-se admitir que seu
trabalho consistia em filtrar organizações como Jogo
Limpo para Cuba e o aparelho de Guy Bannister para
matar o presidente. "A pergunta que me atormentava e
que talvez atormentou Oswald era: se a polícia de
Dallas, o gabinete do xerife, o serviço secreto, o
FBI e a CIA estavam potencialmente envolvidos na
conspiração, então quem eram as autoridades
adequadas?" (6).
Quando Robert Blakey, chefe dos
investigadores do Comitê Seleto da Câmara, soube em
1990 que o recém falecido George Joannides, oficial
da CIA, designado pela agência para informá-lo sobre
o assassinato de Kennedy, lhe ocultou que tinha
trabalhado estreitamente em Nova Orleans, desde
antes do crime, com Oswald e com o grupo terrorista
denominado Diretório Revolucionário Estudantil , o
considerou uma obstrução da justiça e agora não
acredita em coisa alguma do que a CIA disse ao
Comitê.
Não é raro que a Comissão Warren
eludisse buscar a verdade; não debalde estava
presidida pelo congressista Ed Ford, um homem de
Nixon, também suspeito.
Allen Dulles, o onipotente chefe da
CIA, manipulava os membros, nomeados por Lynndon
Johnson, novo presidente por obra e graça do
original golpe de Estado, que na prática foi o
assassinato dos irmãos Kennedy.
Jornal
Revolución. 28 de novembro de 1963.
Ibidem.
The Final
Assasinations Report of The Select Committee,
on U.S. House of Representatives. Bantam Book.
Nova York, 1979, p.320.
Ibidem.
Jornal
Granma, 13 de abril de 2012, p. 9
Jim Garrison.
JFK Trás La pista de los asesinos. Edições B.
Barcelona, 1988, pp. 296-301.
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