João Roberto Marinho, das Organizações Globo, e Fábio Barbosa, titular do grupo Abril, entram em campo para impedir convocação do jornalista Policarpo Junior e do empresário Roberto Civita pela CPI do Cachoeira. O primeiro marcou duro o PMDB. O segundo procurou José Dirceu
Foi o chamado ataque em pinça. Numa ponta, um dos principais
empresários de mídia do País, João Roberto Marinho, herdeiro das
Organizações Globo. Na outra, o baqueiro chamado a comandar o Grupo Abril, Fábio Barbosa.
A cada um deles, uma parte da missão que buscava o mesmo fim: evitar, a
qualquer custo, a convocação à CPI do Cachoeira do jornalista Policarpo
Junior, redator-chefe da revista Veja. Ele é suspeito de ligações extravagantes com o contraventor Carlinhos Cachoeira, sua fonte de informação durante cerca de 20 anos.
Mais ainda, coube aos dois patrões eliminar o mínimo vestígio de
possibilidade de chamamento oficial, pela mesma CPI, do empresário Roberto Civita
para depor. A eventual ida de Policarpo à sessão da Comissão passou a
ser vista, pelo patronato, como um precedente perigoso para o futuro.
Mas ver Civita sendo inquirido seria interpretado como uma verdadeira
humilhação para toda a classe.
Como se viu pela lista convocados a depor na CPI, aprovada na reunião
da quinta 17 depois de muitas divergências, a estratégia patronal deu
super certo. Nem Policarpo, e muito menos Civita, constam do rol de
suspeitos, testumunhas ou simples depoentes. Para esse desfecho, porém,
osdois movimentos foram cruciais.
Dias atrás, João Roberto tomou o jatinho da Globo para desembarcar em
Brasília à fim de participar de um jantar marcado a seu pedido. Diante
dele se postaram os principais líderes do PMDB nacional, a exceção do
presidente do Senado, José Sarney, em período de convalescênça médica. O recado foi dado de forma direta:
seria inaceitável, pela Globo, a convocação de Policarpo. A de Civita,
inimaginável. O filho do Dr. Roberto argumentou, sem fazer questão de
ser afável, que estaria aberta uma perigosa porta para a dissecação das
relações da mídia com todo o mundo político, e não apenas entre
Policarpo e Cachoeira. Ficou claro que a diretriz de barrar o chamado a
Policarpo deveria ser seguida à risca, pela unanimidade dos integrantes
do partido na CPI, sob pena de os dissidentes serem tomados como
adversários da Globo.
Após a verdadeira enquadrada do líder da Globo sobre o partido,
chegou a vez de Fabio Barbosa, presidente do Grupo Abril, fazer um
tête-à-tête com ninguém menos que o ex-secretário nacional do PT, José
Dirceu, reconhecido como a maior liderança individual da agremiação
depois do ex-presidente Lula. O papo, sem testemunhas, resultou na
versão de ter sido bastante ameno, mas com Barbosa deixando claro que a
Abril e seu carro-chefe, a revista Veja, não esqueceriam jamais dos
parlamentares que, agora, ignorassem aquele apelo.
Os resultados dos dois movimentos coordenados foram exatamente os
buscados pelos patrões que entraram forte no braço-de-ferro com os
partidos. Na sessão da quinta 17, o senador Fernando Collor
ficou praticamente sozinho, sem ouvir um eco em seu apoio sequer, no
requerimento que fizera pelo resgate da gravação do depoimento de
Policarpo na CPI dos Bingos, no qual o jornalista professou a idoneidade
de Carlinhos Cachoeira. Nem PMDB nem PT apareceram para lhe dar
respaldo – e a mágica da evaporação política que João Roberto e Fabio
Barbosa queriam, plim! plim!, aconteceu.
Brasil 247
Fonte: Pragmatismo Político
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