O que será que está guardado a sete chaves na Operação Vegas, engavetada pela subprocuradora Claudia Sampaio, esposa de Gurgel? Quais serão os grampos perdidos desta operação? Com quem o senador Demóstenes Torres falava com tanta frequência em 200 ligações?
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, deve uma explicação ao País. Afinal, por que cargas d´água decidiu paralisar as investigações relacionadas à Operação Vegas, realizada em 2009?
Pior: por que acatou a sugestão da subprocuradora-geral da República,
Claudia Sampaio, que vem a ser também sua esposa e disse não haver não
haver indícios de crimes nas atividades de Carlos Cachoeira?
Aliás, no mundo de Cachoeira o difícil era encontrar indícios de
legalidade. E isso já era notório, pois no Brasil não existem
“empresários de jogos”, como ele era definido por Veja. Existem
bicheiros.
Gurgel está nitidamente na defensiva. Dois dias atrás, soltou uma
declaração estapafúrdia: a de que está sendo vítima de retaliações por
ter feito a denúncia do mensalão. Ou seja, misturou alhos com bugalhos e
buscou apoio entre procuradores e ministros do Supremo Tribunal Federal.
No entanto, um dos decanos da corte, o ministro Marco Aurélio Mello
classificou como “extravagante” a declaração de Gurgel. Em sua linha de
defesa, o procurador-geral tem tentado argumentar que havia outros casos
prioritários. Procurador não tem o direito de decidir se abre
investigação ou não.
Procurador é fiscal da lei. Portanto, se há crime, ele deve
obrigatoriamente ser investigado. E com rapidez. De 2009 até 2012, a
quadrilha de Cachoeira, sustentada no Congresso pelo senador Demóstenes
Torres, produziu estragos no País. Não só no mundo, do bicho, mas também
das obras públicas, com infiltrações na mídia e em vários poderes.
“Alô, Demóstenes, tudo bem?”
Por que será que, no começo da semana, uma nota emblemática foi
publicada na coluna Radar dando conta de que um novo inquérito-bomba
seria enviado ao Supremo Tribunal Federal? A nota sugeria que vários ministros do STF e do STJ poderiam ser investigados, assim como outros senadores.
O que será que está guardado a sete chaves na Operação Vegas,
engavetada pela subprocuradora Claudia Sampaio? Quais serão os grampos
perdidos desta operação? Com quem o senador Demóstenes Torres falava com
tanta frequência em 200 ligações? Pois é esta informação que se espalha
pela CPI, como um rastilho de pólvora.
- Alô, Demóstenes, tudo bem?
- Tudo, e você…
- Tudo, e você…
Por que os argumentos de Gurgel são furados?
É preciso listar três evidências que desmontam o raciocínio de Gurgel, que teme ser acusado de prevaricação:
1) Não foi Gurgel, mas Antônio de Souza,
procurador-geral à época, quem apresentou a denúncia contra os réus do
mensalão. Primeiro ponto para mostrar que a personificação não cabe
neste caso;
2) A denúncia foi acolhida pelo STF, onde o processo
agora tramita. Não há nenhum risco à continuidade da ação penal e a seu
julgamento;
3) Caso se veja impedido de fazer a sustentação oral
pelo Ministério Público no julgamento do mensalão, há vários
subprocuradores capazes de conduzi-la de forma brilhante. Portanto,
Gurgel tenta se confundir com a instituição de maneira tosca e ciente do
apoio de parte da mídia, interessada em misturar os casos. O processo
do mensalão não corre risco algum se o procurador-geral tiver de
explicar sua inépcia na apuração do escândalo Cachoeira. Além do mais,
quem apontou a falta de iniciativa do procurador-geral em investigar
Demóstenes foi um policial federal, não um político.
Segundo o delegado Raul Alexandre Marques de Souza, a investigação
ficou paralisada após chegar à Procuradoria-Geral. “Não foi feita
nenhuma diligência, investigação, após a entrega dos autos”, declarou.
Em seguida, informou que desde setembro de 2009 o órgão foi comunicado
de que a operação Vegas identificara a participação de parlamentares no
esquema de Cachoeira. Entre eles, além de Torres, os deputados Carlos Leréia,
do PSDB, Sandes Júnior, do PP goiano, e Rubens Otoni, do PT. O delegado
chegou a se reunir com a subprocuradora-geral da República, Claudia
Sampaio, mulher de Gurgel, que lhe explicou, falando em nome do
procurador-geral, que não tinha encontrado elementos para processar o
senador e os deputados.
Diferentemente do que argumentou o procurador, não foram
“mensaleiros” os parlamentares que declararam que agora veem motivos
para trazer, no mínimo, a subprocuradora à CPI. Do PSOL, o senador Randolfe Rodrigues
anunciou a disposição de pedir a convocação da mulher de Gurgel. “Eu
era contra, mas mudei de opinião com o depoimento do delegado.” Outros
parlamentares se declararam ainda mais convictos da necessidade de
convocar o próprio procurador. “Ele deve explicações ao País”, afirmou o
deputado Rubens Bueno, do PPS, de oposição ao governo.
CartaCapital & Brasil 247
Fonte: Pragmatismo Político
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