Foto: Voz da Rússia
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O Embaixador da Rússia no Brasil, Sr. Serguei Pogosovich Akopov, deu uma entrevista à Voz da Rússia sobre diversos aspectos relacionados à Rússia e ao Brasil e ao relações bilaterais entre esses dois grandes países.
Nascido em 1954, o Embaixador
Serguei Akopov formou-se em 1976 pelo Instituto Estatal das Relações
Internacionais de Moscou, ingressando imediatamente na carreira
diplomática. Serviu nas Embaixadas da Rússia na Costa Rica, entre 1976 e
1980; no Brasil, entre 1983 e 1988; e no Chile, entre 1990 e 1996.
Entre os anos de 1999 e 2003 foi Ministro Conselheiro da Embaixada da
Federação da Rússia no Brasil. A partir de 2005 foi vice-diretor do
Departamento da América Latina do Ministério dos Negócios Estrangeiros
da Rússia em Moscou. E em março de 2010 reassumiu a Embaixada da Rússia
no Brasil. Hoje, como Ministro Extraordinário e Plenipotenciário de
Segunda Classe, está novamente à frente da Embaixada da Federação Russa
em Brasília.
– Senhor Embaixador, desde 7 de maio
a Federação Russa se encontra sob a Presidência do Sr. Vladimir Putin. A
política externa do Presidente Putin será a mesma de seu antecessor e
hoje Primeiro-Ministro Dmitri Medvedev?
– A
política externa da Rússia não tem hoje um caráter partidário. É uma
política externa nacional que está defendendo os interesses nacionais da
Rússia. Então, podemos dizer que no governo de Vladimir Putin, no novo
mandato dele, os traços principais da política exterior russa seriam a
continuação da política que foi promovida nos anos anteriores, uma
política que está em primeiro lugar defendendo os interesses nacionais
do nosso país.
– Sob o novo governo russo haverá incremento nas relações comerciais entre Brasil e Rússia?
– Nossos
dois países estão trabalhando arduamente para aumentar as relações
bilaterais na área comercial, na área econômica e na área de
investimentos. Vamos fazer todo o possível para que essas relações
continuem aumentando, não somente no nível quantitativo, mas também no
nível qualitativo, porque achamos que isso é o mais importante.
– Em
junho o Brasil sediará a Conferência Rio+20, patrocinada pela
Organização das Nações Unidas e voltada para a defesa do meio ambiente
mundial e para o desenvolvimento sustentável. A Agência Brasil – órgão
oficial de comunicação do Governo brasileiro – informou que o Presidente
Vladimir Putin aceitou o convite da Presidenta Dilma Rousseff e estará
presente ao evento. O senhor confirma a vinda do Presidente Putin ao
Brasil? Em caso contrário, quem representará a Federação Russa na
Conferência Rio+20?
– Essa
Conferência Rio+20 será um evento internacional dos mais importantes da
nossa época, da nossa atualidade, e está previsto que ela deverá
elaborar uma estratégia de desenvolvimento sustentável da humanidade
para os próximos decênios. Logicamente, todos os países estão tentando
mandar a sua delegação de mais alto nível. Nós ainda não temos uma
confirmação 100% de quem será o chefe de nossa delegação, mas sabemos
perfeitamente que será do nível político mais alto possível neste
momento. Um pouco mais tarde eu acho que poderemos conversar, porque até
este momento não temos oficialmente uma confirmação definida. Mas eu
quero repetir que a Rússia, de todos os modos, será representada por um
nível político muito alto.
– Brasil
e Rússia vivem um momento muito profícuo do seu relacionamento
bilateral, inclusive no setor cultural. Ganham destaque no Brasil, por
exemplo, as comemorações que a Rússia está promovendo em 2012 pelos 200
anos da Batalha de Borodino, que marcou a vitória do exército russo
sobre a tropas de Napoleão Bonaparte. Como a Rússia está organizando
esse evento? A Embaixada Russa no Brasil tem alguma iniciativa
relacionada a esse evento?
– Realmente,
este ano estamos comemorando esta data muito significativa na História
não somente do meu país, mas também na História da Humanidade, porque a
Batalha de Borodino marcou um elo muito importante na História, foi o
começo da vitória sobre as tropas invasoras de Napoleão, fato que foi
recebido com grande alegria por todo o mundo, e também no Brasil. O
primeiro Cônsul da Rússia estabelecido no Rio de Janeiro enviou os seus
primeiros documentos exatamente sobre a reação do povo brasileiro, do
povo carioca, em relação às vitórias do exército russo sobre o exército
de Napoleão. Na mensagem, o Cônsul russo escreveu que o povo brasileiro
recebia com grande alegria notícia da vitória das forças russas contra
Napoleão. Realmente, essa data será amplamente comemorada na Rússia, no
campo de Batalha de Borodino, que hoje é um complexo turístico muito
importante. Sabemos que vai ser organizada uma reconstituição histórica
daquela batalha, com trajes de guerra e armas da época, e que será uma
festa muito interessante. Muita gente, sem dúvida, vai assistir. E nós,
aqui no Brasil, também. A Embaixada logicamente está pensando em
organizar alguns eventos culturais e históricos comemorativos para
celebrar essa data.
– Senhor
Embaixador, qual o papel da mídia de Brasil e Rússia no desenvolvimento
das relações estratégicas, culturais e comerciais entre os dois países?
– Elas
desempenham um papel muito importante, porque a divulgação das
informações é hoje uma tarefa importantíssima. Uma das causas, em nossa
opinião, de não termos ainda alcançado a soma de 10 bilhões de dólares
estabelecida como meta pelos presidentes dos dois países para o comércio
bilateral, é que ainda existe pouco conhecimento tanto na Rússia como
no Brasil, de um país sobre o outro, e eu acho importantíssimo o papel
que a mídia está desempenhando no sentido da divulgação da informação,
de levar os povos ao encontro um do outro. Quanto mais vamos conhecendo
um ao outro, vamos tendo mais e melhores possibilidades de negócio.
– Senhor
Embaixador, o navio-escola Sedov iniciou no domingo, 20 de maio, uma
volta ao mundo com duração prevista de 14 meses, inclusive com escala
no Brasil, devendo atracar no porto do Recife, em Pernambuco, no dia 22
de agosto. As viagens dos navios-escola russos são sempre acontecimentos
de grande relevância mundial, na medida em que as suas chegadas em
outros países se transformam em grandes acontecimentos culturais, na
forma de visitações às instalações dos navios e conversas com suas
tripulações. Do ponto de vista do relacionamento externo da Rússia, qual
o real significado dessas missões internacionais dos navios-escola
russos?
– Sim, realmente a viagem do navio-escola Sedov
é um acontecimento importante em dois sentidos. Em primeiro lugar, é um
navio-escola, e sua viagem ao redor do mundo é dedicada principalmente a
formar os jovens cadetes que, depois de se graduarem vão constituir a
base das tripulações da Marinha Mercante e da Marinha Militar russas.
Mas também essas viagens são sempre usadas para divulgar a cultura
russa, para estabelecer laços de amizade e de conhecimento mútuo com os
países em cujos portos vão atracar. E logicamente estamos esperando e
nos preparando para a chegada do navio Sedov a Recife. Vamos
dar todo o apoio possível a essa chegada, e esperamos que o contato
entre os cadetes e marinheiros e o povo brasileiro constituirá uma
importante missão de paz e amizade. Seguramente, o barco vai ser aberto à
visitação, para os contatos.
– Vamos
agora falar do relacionamento Rússia-Brasil. A Presidenta Dilma
Rousseff já confirmou a data de sua viagem à Rússia? Qual o significado
dessa viagem? Ao longo dessa visita, acontecerão reuniões da Comissão
Mista Brasil-Rússia. O que isso significa para o implemento das relações
bilaterais Rússia-Brasil?
– A
visita da Presidenta Dilma Rousseff à Rússia, no segundo semestre deste
ano, será um dos acontecimentos mais importantes nas relações
bilaterais de nossa época. Nós estamos aguardando com grande interesse
essa visita, e começamos a trabalhar arduamente para preparar bem essa
visita. A data exata ainda está sendo negociada, mas estamos trabalhando
com a expectativa de que essa visita se realizará no segundo semestre
deste ano. E todas essas visitas, todos os contatos do mais alto nível
entre os líderes de nossos países, sempre dão um empurrão para o avanço
nas relações bilaterais em diferentes esferas. E é claro que essa visita
vai ter esse resultado.
– Em
2009, em Brasília, no encontro entre os então Presidentes Dmitri
Medvedev e Luiz Ignacio Lula da Silva, ambos concluíram que a balança
comercial Rússia-Brasil poderá chegar ao volume de 10 bilhões de
dólares. Em sua opinião, essa meta será atingida neste ano de 2012?
Sim.
Essa cifra de 10 bilhões de dólares é uma das metas intermediárias,
como nós consideramos, porque realmente o potencial dos nossos dois
países é muito maior que a cifra de 10 bilhões. Estamos trabalhando bem,
mas sabemos que os efeitos da crise financeira internacional afetaram
numa certa medida os nossos planos, mas no ano passado conseguimos
recuperar bastante o volume do comércio bilateral. Não atingimos ainda a
cifra de 10 bilhões. Este ano, vamos ver... Parece que, se no ano
passado a Rússia sofreu mais os efeitos da crise e o Brasil menos, este
ano, aparentemente, a situação está um pouco diferente. Agora, a Rússia
já passou a crise, e a crise está agora atingindo o Brasil. Mas vamos
ver, vamos continuar trabalhando. Acho que será difícil ainda este ano
atingir 10 bilhões de dólares, os resultados do primeiro trimestre
mostram que dificilmente alcançaríamos essa cifra, mas estamos indo bem,
e a tarefa neste ano é conservar o volume do ano passado para, depois
de superar a consequências da crise, continuar avançando e chegar,
afinal, a essa cifra de 10 bilhões. Mas eu queria sublinhar que hoje a
tarefa principal, o desenvolvimento das relações econômicas, deveríamos
ver um pouco de outro ângulo, não somente do ângulo das trocas
comerciais diretas e do volume de comércio. Ele pode ser um pouco maior
ou menor. E a tarefa mais importante hoje foi trazida pelos presidentes
dos dois países e é a construção, a formação de uma aliança estratégica,
tecnológica, entre Brasil e Rússia. Essa tarefa está dirigida ao
futuro, a formação de uma aliança tecnológica bilateral. Ela abriria
novas perspectivas para o desenvolvimento da nossa cooperação bilateral
para o futuro. Essa é a área onde nós tentamos concentrar principalmente
os esforços entre os dois países, para formar essa base de aliança
tecnológica que nos abriria novos horizontes para o desenvolvimento da
cooperação.
– Senhor
Embaixador, há um entendimento de que entre os países do grupo BRICS a
Rússia é o que apresenta melhor performance em relação à crise econômica
europeia. A que o senhor atribui essa performance?
– Eu
pessoalmente acho que é o resultado de uma correta política
macroeconômica que foi elaborada e traçada por nosso governo no período
anterior, o governo que saiu agora, e foi formado outro gabinete. A
situação da Rússia hoje mostra que essa política foi correta. Ela
permitiu criar condições favoráveis para superar ou minimizar os efeitos
da crise econômica sobre a economia da Rússia e criar condições para o
seu desenvolvimento interior. Eu acho que essa é a causa principal dessa
situação.
– O
relacionamento entre Brasil e Rússia, além de político e econômico,
também se reflete nos setores cultural e esportivo. No setor cultural,
nós, da Voz da Rússia, temos dado apoio a instituições como a Dell’Arte
ou a Orquestra Sinfônica Brasileira para a realização de concertos no
Teatro Municipal do Rio de Janeiro e em outros locais, com a
participação de artistas russos e de músicas de compositores russos,
além da promoção da vinda do pianista russo Evgueni Kissin ao Brasil
para apresentação em 1.º de junho. No setor esportivo, tivemos o
Lokomotiv de Moscou conquistando o Mundialito de Beach Soccer 2012 em 19
de maio, em São Paulo, e teremos em junho em São Petersburgo a
sensacional luta entre os dois grandes nomes das artes marciais mistas, o
russo Fiodor Emelianenko enfrentando o brasileiro Pedro Rizzo. Como o
senhor analisa todas essas iniciativas?
– Todas
essas iniciativas são maravilhosas, magníficas. Elas mostram o grande
potencial que os nossos países têm no desenvolvimento das relações
culturais, esportivas, humanitárias, mas são muito poucas, na realidade,
só algumas. Eu gostaria que a gente não tivesse nem como mencionar
todas as que aconteceriam durante o ano, mas ainda é ótimo que este ano
temos tantos acontecimentos. Entre os projetos culturais maravilhosos
que nós temos, talvez o único projeto cultural que não existe em
qualquer outra parte do mundo é a experiência da Escola do Balé Bolshoi
no Brasil, que está funcionando perfeitamente. No dia 10 de maio, nós
tivemos em Brasília uma apresentação muito boa da Escola. Um espetáculo
completo, o balé Giselle. Realmente, o nível de
profissionalismo desses bailarinos brasileiros é muito alto, é o mais
alto do mundo. Algumas dessas crianças que terminaram a Escola já fazem
parte de grupos de balé do Bolshoi de Moscou e de outras companhias de
grandes capitais do mundo. Devemos mencionar esse projeto entre aqueles
outros acontecimentos também importantes, porque a Escola do Bolshoi é
única, não há outro exemplo no mundo. Esse é um tipo de transferência
de tecnologia da realidade, se podemos falar assim, uma transferência de
arte da melhor qualidade. A Rússia é considerada a mais forte no balé,
mas hoje podemos dizer que o Brasil já alcançou também esse nível de
profissionalismo muito alto em balé. Eu acho que esse exemplo da Escola
do Bolshoi mostra aonde essa cooperação na área cultural e educacional
pode levar. Realmente, ela pode ser proveitosa para ambos os lados. Eu
gostaria muito que esses acontecimentos na área esportiva, cultural e
educativa fosse tão grande que não tivéssemos tempo de enumerar todos
eles aqui.
– Senhor
Embaixador, nós falamos há pouco sobre os eventos esportivos e
culturais, mas eu gostaria de voltar à vitória do Lokomotiv. Gostaria de
lhe perguntar: Brasil e Rússia são os países anfitriões das Copas do
Mundo de 2014 (no Brasil) e 2018 (na Rússia), e a FIFA tem elogiado a
Rússia por seus preparativos, afirmando que ela está além do Brasil em
relação à preparação do torneio. O senhor crê que seria viável, não
somente do ponto de vista esportivo, mas também diplomático e comercial,
a realização de um amistoso entre as duas Seleções – Brasil e Rússia –
pelo motivo de que serão as próximas sedes da Copa?
– Sim,
realmente é uma iniciativa muito boa. Já estamos trabalhando nisso,
porque muitos aficionados de futebol lembram aquele famoso amistoso
entre a Seleção da, naquela época, União Sovética e o time do Brasil, no
Maracanã. Não estou muito seguro, mas acho que este ano temos uma data
redonda do jogo, e muitas federações, futebolistas e esportistas em
geral da Rússia e do Brasil estão lembrando dessa data e querem fazer
uma comemoração. Realmente, posso revelar que existe a iniciativa, e
estamos trabalhando nisso juntos – futebolistas e esportistas russos e
brasileiros – para poder organizar uma série de amistosos de futebol no
Brasil e na Rússia. Claro que hoje é um pouco difícil unir as Seleções
daquela época. Dizem que alguns jogadores daqueles tempos ainda podem
sair em campo, tocar a bola, mas vamos ver... A iniciativa existe,
estamos trabalhando, há gente que gostaria de apoiar esses amistosos.
Espero que possamos dar essa alegria aos fãs de futebol de ambos os
países, reunindo as equipes clássicas do futebol e comemorando aquelas
partidas dos anos 60.
– Senhor
Embaixador, nós estamos nos aproximando do milésimo programa Voz da
Rússia no Brasil. Eu gostaria que o senhor fizesse uma avaliação do
nosso programa e dissesse o que ele representa para as relações
Rússia-Brasil.
– Mil
programas significam uma experiência bastante considerável.
Cumprimentando todos os funcionários e todos os jornalistas desse
programa, dessa companhia, gostaria de dizer que o trabalho que vocês
estão fazendo não é somente um trabalho jornalístico, mas um trabalho
político muito importante. Eu já disse que uma das grandes tarefas que
nós temos, dos dois lados, é aproximar cada vez mais os nossos povos,
fazer todo o possível para que as pessoas do Brasil conheçam melhor a
Rússia, e os russos conheçam melhor o Brasil. Então, o que vocês estão
fazendo nesse sentido não tem como ser medido. Realmente, é muito grande
o valor desse trabalho, porque vocês levam a Voz da Rússia ao povo
brasileiro, e vocês não levam somente a Voz da Rússia, mas também a
informação sobre a Rússia atual, moderna, que hoje lamentavelmente é
pouco conhecida ainda no Brasil. Então, nesse sentido, nós apreciamos,
apoiamos muito, e desejamos todo o êxito que podemos desejar, e muitos
anos.
Voz da Russia
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