Translate

segunda-feira, 2 de julho de 2012

A Guerra do Paraguai: um holocausto sul-americano


Postado por Marçal, T.
A Guerra do Paraguai teve início em dezembro de 1864 e encerrou-se oficialmente em março de 1870. Ela deve ser classificada como um dos mais terríveis genocídios cometidos em nossa América.
Sob o patrocínio da Inglaterra que não admitia a independência, o desenvolvimento econômico, social e político de qualquer país, Brasil e Argentina foram protagonistas nesse horrendo e vergonhoso massacre.
As ações beligerantes tiveram início na verdade pouco antes com a tomada do Uruguai pelo almirante Tamandaré. A invasão completava o isolamento, e criava as condições para a completa destruição do Paraguai. O governo uruguaio foi destituído, montou-se então um governo submisso aos interesses da Inglaterra, do Brasil e Argentina (principalmente comprometido com os interesses dos nossos gaúchos que praticavam sistematicamente rapinagem e ocupavam terras uruguaias).
Jogo combinado.

Brasil, Argentina e Uruguai (coadjuvante) assinam no dia 1º de maio de 1865 o fatídico Tratado da Tríplice Aliança que estabelece parâmetros para destruir a República Guarani. É a prova cabal do crime.
O Brasil imperial não tinha um exército estabelecido, a Argentina metida em lutas separatistas não era um país propriamente, o Uruguai subjugado... Mas monta-se uma força militar de esfarrapados acreditando que em poucas semanas estariam dividindo os espólios. Como vimos a guerra durou 5 anos!
Em 1840 o Paraguai era um país sem analfabetos.
O Paraguai consegue sua independência em 14 de maio de 1811. O ditador José Gaspar Rodríguez de Francia assume a presidência com mãos de ferro e destrói as oligarquias, os privilégios clericais... E ainda faz uma ampla reforma agrária e socializa os meios de produção.
Francia morre em 1840.
O Paraguai começava a dar os primeiros passos rumo ao desenvolvimento, com uma audaciosa autonomia em relação ao império britânico. Mas dependia dos países visinhos para chegar ao atlântico e realizar suas exportações.
Carlos Antonio López substitui Francia. O Paraguai consegue novos avanços: desenvolve ainda mais a agricultura, contrata técnicos e mão de obra qualificada no exterior, inaugura obras importantes de infra-estrutura, cria ousadamente uma indústria promissora.
Em 1862 Carlos Antonio López morre e o parlamento paraguaio indica seu filho Francisco Solano López para sucedê-lo.
O novo ditador Francisco Solano López mantém a mesma rota de seus antecessores e se revela um grande comandante militar, mas o destino do país já estava traçado.
Rápidas considerações sobre a guerra.
Os motivos da guerra foram essencialmente econômicos. Os nossos bravos pares falavam em libertação... Mas o que se pretendia e de fato aconteceu, foi o extermínio de um povo.
O Brasil não tinha moral para falar em ideais democráticos e libertários! Vivíamos em um regime imperial escravocrata. O Paraguai já tinha acabado com a escravidão e seu povo tinha educação, saúde, comida farta e orgulho de sua condição.
Duque de Caxias, por exemplo, ficou impressionado com o nível educacional e de informação dos paraguaios, além de reconhecer a bravura e o excelente porte físico dos combatentes.
A superioridade numérica das forças agressoras e o isolamento foram fatais. Sem saída para o mar o Paraguai produzia suas próprias armas e não contava com nenhum auxílio externo. Ao contrário do Brasil, Argentina e Uruguai que executaram o serviço e ainda ficaram devendo as calças para o trono inglês.
Os voluntários da pátria?!
A proporção racial dos combatentes brasileiros chama a atenção. Os bravos nobres “voluntários da pátria” enviavam seus escravos para o campo de batalha. Para cada combatente branco existiam pelo menos 45 negros escravos (certamente o morticínio que ocorreu em nossas fileiras contribuiu para embranquecer o sul e o sudeste do Brasil).
E ainda, o exército brasileiro recebia todo tipo de desocupados e bandidos que perambulavam pelas ruas e prisões.
A situação dos argentinos não era diferente e boa parte de seus soldados ia acorrentada para o campo de batalha. Olha o que diz este recibo de um ferreiro argentino: Recebi do governo da província de Catamarca a soma de quarenta pesos bolivianos, pela construção de duzentos grilhões para os voluntários catamarquenses que vão à guerra contra o Paraguai.
O campo de batalha.
Os países aliados lançavam mão de todas as armas e artifícios nem sempre honrosos. Os paraguaios capturados eram decapitados, inclusive mulheres, idosos e crianças.
O representante dos Estados Unidos Carles Washburn, um bandido famoso no Plata informava seu governo: Por sua torpeza e cegueira junto com outros pecados, o povo paraguaio merece o completo extermínio que o aguarda. O mundo terá justo motivo para congratular-se quando não houver nele uma só pessoa que fale o endiabrado idioma guarani.
Duque de Caxias em carta ao imperador dom Pedro II diz: é impossível que López possa viver sem o povo paraguaio, a este seja impossível viver sem López... Para terminar a guerra, isto é, para converter em fumo e pó toda a população paraguaia, para matar até o feto do ventre da mulher, e matá-lo não como um feto, mas como a um adail.
Duque de Caxias tenta estabelecer a paz com López mas o imperador não autoriza e sabe que é preciso respeitar o tratado assinado com os outros dois aliados.
Contrariado Caxias se demite do comando da guerra em 5 de janeiro de 1868. Em carta ao imperador diz: A paz com López, a paz, Imperial Majestade, é o único meio salvador que nos resta... Antes de presenciar o cataclisma funesto... Impetro a V. Majestade a especialíssima graça de outorgar-me minha demissão do honroso posto...
O conde deu.
Com a saída de Caxias o comando de campanha passa para Luís Filipe Maria Fernando Gastão de Orléans, o conde d’Eu, cunhado do imperador dom Pedro II. Esse cafajeste fez boa parte do serviço sujo, sempre com requintes de sadismo.
No dia 16 de agosto de 1869 ficou famoso por comandar a “batalha” de Acosta Ñu. Seus 20.000 bravos soldados enfrentaram cerca de 3.500 meninos quase que desarmados, doentes e esfomeados. Foram todos mortos (no Paraguai comemora-se o dia das crianças em 16 de agosto). Em Piribeduy cerca o hospital da cidade e toca fogo no prédio com todos os enfermos dentro.
Os números: 99,50% dos homens adultos paraguaios foram mortos!
Os números da guerra do Paraguai são impressionantes e revelam a crueldade e objetivos reais daquela missão.
Antes da guerra a população paraguaia passava dos 800.000. Cerca de 75, 75% dos habitantes morreram. Sobreviveram cerca de 2.100 homens adultos paraguaios, provavelmente em condições de reprodução (seriam os traidores foragidos, covardes ou os que tinham corpo fechado?).
No dia 1º de março de 1870 as tropas brasileiras comandadas pelo general Câmara cercam Cerro Corá e Francisco Solano López deu seu brado final: morro com minha pátria!
O general Câmara escreveu: O tirano foi derrotado, e não querendo render-se, foi morto à minha vista. Intimei-o com ordem de render-se quando já estava completamente derrotado e gravemente ferido, e não querendo, foi morto.
Fatos e versões.
Precisamos ser honestos, somos os bandidos nessa história. Humildemente precisamos pedir desculpas pelo crime que cometemos no Paraguai (assim como fez o governo alemão ao povo judeu). Precisamos ainda devolver simbolicamente os espólios de guerra.
Aos brasileiros nacionalistas, e aos argentinos arrogantes tomo a liberdade de recomendar que continuem comemorando a bravura dos heróis combatentes degustando um legítimo ballantines paraguaio.*
* Este rascunho é fruto de algumas leituras, principalmente do livro “Genocídio Americano: a Guerra do Paraguai” de Julio José Chiavenato.
T. Marçal – 04/12/09
Fonte: Portal LN

Nenhum comentário:

Postar um comentário