Cerca de 20 pessoas foram feridas à bala na fazenda Cedro, em Marabá, no sudeste do Pará. Militantes acusam os capangas da fazenda de propriedade do banqueiro Daniel Dantas pelo ataque.
Os sem terra faziam um ato com mais de 1.000 famílias em frente à
sede da fazenda contra o desmatamento, o uso intensivo de agrotóxico e a
grilagem das terras públicas.
Depois do ataque dos capangas, as famílias ocuparam a rodovia.
“Fomos recebidos com muitos tiros por parte da escolta armada. Há
muitos feridos, inclusive crianças de colo, que foram levados para o
hospital de Eldorado do Carajás, a 50 Km do local”, denuncia Charles
Trocatte, dirigente do MST.
A ocupação
A fazenda da Agropecuária Santa Bárbara foi ocupada por 240 famílias
ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em 2009.
A área é objeto de imbróglio jurídico que envolve o estado, a família
Mutran e o grupo Santa Bárbara, do banqueiro Daniel Dantas,
imortalizado pela sua esperteza no mundo dos negócios do mercado
financeiro e investigação da Polícia Federal (PF).
O antigo castanhal foi transferido através da ferramenta jurídica do
aforamento para ser explorado de forma extrativa pela família Mutran, em
particular o pecuarista Benedito.
Ao longo dos anos o castanhal deixou de existir e em seu lugar surgiu
o pasto. No Pará o aforamento abrange um período de concessão de 1955 a
1966. A família Mutran foi a principal oligarquia do sudeste do Pará e é
conhecida pela forma truculenta com que costuma tratar os seus
adversários e pela prática de mão de obra escrava em áreas que
controlou.
Abaixo, leia nota oficial do MST e da Comissão Pastoral da Terra (CPT) sobre o ataque dos pistoleiros:
Trabalhadores sem terra do MST feridos à bala no Pará
Na manhã desta quinta feira, jagunços travestidos de seguranças da
Fazenda Cedro, de propriedade do Banqueiro Daniel Dantas, atiraram
contra um grupo de trabalhadores rurais sem terra ligados ao MST no
Sudeste do Pará que realizavam um ato político de denuncia da grilagem
de terra publica, de desmatamento ilegal, uso intensivo de venenos na
área e violência cotidiana contra trabalhadores rurais. Até o momento há
confirmação de que 16 trabalhadores foram feridos à bala, sendo que,
alguns deles estão em estado grave. Não há confirmação de mortes.
Cerca de 300 famílias já estão acampadas nessa fazenda desde o dia 1º
de março de 2010. Ao todo, foram 06 fazendas do Grupo de Dantas
ocupadas pelos movimentos sociais no período. Mesmo a então juíza da
Vara Agrária de Marabá tendo negado o pedido de liminar de despejo feito
pelo grupo à época, o Tribunal de Justiça do Estado, cassou a decisão
da juíza de autorizou o despejos de todas as famílias.
Através de mediação da Ouvidoria Agrária Nacional, foi proposto um
acordo judicial perante a Vara Agrária de Marabá, através do qual, os
Movimentos Sociais, com apoio do INCRA, desocupariam três fazendas
(Espírito Santo, Castanhais, Porto Rico) e outras três (Cedro,
Itacaiunas e Fortaleza) seriam desapropriadas para o assentamento das
famílias. O Grupo Santa Bárbara, que administra as fazendas do
Banqueiro, concordou com a proposta. Em ato contínuo, os trabalhadores
sem terra desocuparam as três fazendas, mas, o Grupo Santa Bárbara tem
se negado a assinar o acordo.
A formação dessa (Fazenda Cedro) e de muitas outras fazendas
adquiridas pelo Grupo Santa Bárbara no sul e sudeste do Pará (ao todo,
adquiriram mais de 60 fazendas num total de mais de 500 mil hectares)
vem de uma trama de ilegalidades históricas envolvendo grilagem,
apropriação ilegal de terras públicas, fraude em Títulos de Aforamento,
destruição de castanhais, trabalho escravo e prática de muitos outros
crimes ambientais. História, que até o momento, por falta de coragem
política, nem o INCRA e nem o ITERPA se propôs a enfrentar. Terras
públicas cobertas de floresta de castanheiras se transformaram em
pastagem para criação extensiva do gado.
Frente à situação exposta o MST exige:
- A liberação imediata das três fazendas para o assentamento das famílias dos Movimentos sociais;
- Uma audiência urgente no INCRA de Marabá, com a presença da SEMA,
do ITERPA, da Casa Civil para encaminhamento do assentamento e apuração
dos crimes ocorridos na área.
- Apuração imediata, por parte da polícia do Pará dos crimes, cometidos contra os trabalhadores.
Brasil de Fato
Pragmatismo Político
Nenhum comentário:
Postar um comentário