Depois de dois dias de tumultos na CPI do Cachoeira, o depoimento
de Cláudio Monteiro, ex-chefe de gabinete do governador do Distrito
Federal, Agnelo Queiroz (PT), foi menos tenso que o dado por auxiliares
do governador de Goiás, Marconi Perillo. Como esperado, Monteiro negou
todas as acusações contra ele (as principais são a de chefiar um esquema
de jogos ilegais e fazer tráfico de influência). O que não era
esperada, entretanto, foi a reação da oposição. Parlamentares do
PSDB elogiaram a postura de Monteiro, cujo depoimento foi amplamente
favorável ao petista Agnelo.
Durante todo o depoimento, Monteiro pediu provas de seu envolvimento
com o esquema do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos
Cachoeira. Monteiro foi acusado de receber propina no valor de R$ 20
mil, além de mesadas da organização de Cachoeira, e de ter um dos rádios
Nextel, que, segundo a PF, foram habilitados pela quadrilha para
comunicação interna e tentar escapar dos grampos autorizados pela
Justiça. “Tenho perguntado reiteradas vezes e pergunto até hoje: Onde
está o rádio? Onde está a gravação de conversa feita com esse rádio?”,
insistiu Monteiro. Ele pediu outras provas de seu envolvimento: “Qual
foi a licitação que eu interferi, se não sou ordenador de despesas? Qual
o tráfico de influência que fiz? Cadê a propina? Cadê a prova de
mesada?”
Em seu depoimento, Monteiro admitiu ter recebido o ex-diretor da
Delta no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, mas disse que o encontro foi
realizado para tratar da prestação de serviço de coleta e tratamento de
lixo, contrato que a empresa tinha por licitação feita pelo governo
anterior. “Ninguém sabia àquela época que era uma empresa inidônea”,
disse. Segundo Monteiro, não houve nenhuma conversa sobre sistemas de
bilhetes eletrônicos no transporte público do DF. Escutas telefônicas da
PF dão conta de que havia um plano da organização de fraudar licitações
nessa área. De acordo com o depoente, duas reuniões ocorreram para
tratar de uma reclamação da Delta de que o governo não estava cumprindo
sua parte na infraestrutura do processamento de lixo.
O ex-chefe de gabinete do DF disse que tinha um relacionamento
superficial com Idalberto Martins, o Dadá, apontado pela PF como espião
de Cachoeira. Disse que Dadá o ajudou na campanha e que havia
comparecido a um evento promovido por ele em apoio ao handball. Monteiro
também admitiu que seu filho, João Cláudio Monteiro, tinha contratos
com a Delta para aluguel de veículos destinados ao transporte de
resíduos sólidos. No entanto, ele disse que essa prestação de serviço
não era de sua responsabilidade no governo e que isso nunca foi
discutido com o governo ou com a Delta.
Para tucano, depoimento foi “convincente”
O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), um dos oposicionistas mais
atuantes na CPI, afirmou que Cláudio Monteiro poderia sair da reunião de
cabeça erguida, pois considerou seu depoimento bastante convincente.
Sampaio, inclusive, deixou de fazer perguntas ao depoente. O ex-chefe de
gabinete de Agnelo chegou a chorar, afirmando que a CPI estava dando
oportunidade a ele de se defender diante dos amigos e da família. Ele
reiterou que o governo petista não atendeu nenhum pedido relacionado ao
esquema de Cachoeira ou da Delta Construções S.A., empresa acusada de
envolvimento com o contraventor.
Em resposta ao senador Alvaro Dias (PSDB-PR), que citou trechos de
interceptações telefônicas sobre pedidos feitos a ele, Monteiro
respondeu: “Para haver uma irregularidade tem que haver causa e efeito.
Foram feitos pedidos, mas nenhum foi atendido. Não houve o efeito, é
isso que me defende.”
Relator diz que quadrilha não se infiltrou no governo de Agnelo
O relator da CPI, Odair Cunha (PT), que foi acusado de direcionar a
investigação contra Perillo, disse após o depoimento que a quadrilha de
Cachoeira “não se infiltrou no governo do DF”. Segundo Cunha, as duas
demandas da organização – sistema de bilhetagem eletrônica no transporte
público e serviço de limpeza urbana – não foram atendidas.
“Cláudio Monteiro não recebeu o rádio Nextel [supostamente
distribuído por Cachoeira a integrantes do grupo] e sua voz não aparece
nas gravações”, acrescentou Cunha. “Apenas há a citação de seu nome. O
fato de ele ter comparecido à CPMI e testemunhado é um diferencial muito
importante da ex-chefe de gabinete do governador de Goiás, Marconi
Perillo, que recebeu o rádio, teve a voz gravada e não quis prestar
depoimento à comissão.”
No entanto, apesar de isentar Monteiro, o relator acredita que possa
ter havido cooptação de outras pessoas do governo do DF por Cachoeira.
“Precisamos investigar se outras pessoas não foram corrompidas. O fato
de os dois outros depoentes de hoje terem ficado em silêncio é um
indicativo de envolvimento.”
Ele se referiu ao ex-assessor da Casa Militar do DF Marcelo de
Oliveira, que decidiu ficar em silêncio amparado por habeas corpus
concedido pela ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Carmen Lúcia, e
ao ex-subsecretário de Esportes do DF João Carlos Feitoza, que também
tinha habeas corpus, este concedido pelo ministro do STF Marco Aurélio
de Mello.
Com informações da Agência Câmara
Carta Capital
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