Publicado na quinta edição da revista Problemas,
de dezembro de 1947, este informe do Marechal Tito ao Congresso do
Partido Comunista da Iugoslávia esclarece o que era, para aquele partido
irmão, o estabelecimento da frente popular no país europeu.
“Companheiros e companheiras: Permitam que, em primeiro lugar, cumprimente as senhoras e senhores delegados dos países amigos.
Este
nosso Congresso, o segundo após a guerra, tem um significado especial,
pois nele já serão vistos os resultados dos enormes esforços que vêm
sendo feitos pelos nossos povos na construção de nossa pátria. Reúne-se
ele em um momento de penosas relações internacionais. Creio que a Frente
Popular da Iugoslávia, e o papel que desempenha, têm significação não
só para nossa vida interna, como também uma grande significação fora de
nossas fronteiras, no que se relaciona com a luta pela paz.
A
nossa Frente Popular representa um poderoso fator de paz. A Frente
Popular é a organização em que estão reunidos todos os nossos povos. É,
portanto, uma grande organização pelo seu número, e uma poderosa
organização pela sua unidade e pelo seu espírito.
Como
disse, a situação internacional se apresenta de tal forma que se faz
necessário não só que dentro de cada país se reúnam todas as forças
progressistas que desejam a paz e o progresso da humanidade, mas que,
além disso, se unam cada vez mais, na luta pela paz, todos os elementos
progressistas do mundo, que se unam na luta contra os que ainda
recentemente causaram pavorosa catástrofe no mundo e que novamente, e
cada vez mais alto, voltam a erguer suas vozes. Creio que chegará o
tempo em que os representantes de todas as forças democráticas do mundo
poderão reunir-se e falar sobre as formas que deve assumir a colaboração
internacional, sobre como se deve trabalhar e lutar para impedir a
catástrofe de uma nova guerra.
Passarei
agora ao meu relatório sobre a Frente Popular. Desejaria, antes disso,
salientar que nele serão tratadas teses peculiares aodesenvolvimento
interno de nosso país. Desde já menciono o fato de que o desenvolvimento
interno dos diversos países tem características específicas para cada
país considerado. Não se pode aplicar ao pé da letra o que ocorre
conosco a outros países, e vice-versa. Mas, uma coisa é certa: há muito
de comum na luta das forças progressistas de cada país, e esse
denominador comum é que todas lutam pela paz, por uma vida melhor e mais
feliz, pela verdadeira democracia popular.
A Frente Popular Como Uma Organização Política de Toda a Nação
O
aparecimento do fascismo como brigada de choque da reação
internacional, — dirigida não só contra a União Soviética e a classe
operária, mas também contra todas as demais forças progressistas, — deu
lugar, em muitos países, à formação de frentes populares antifascistas,
sob a liderança dos Partidos Comunistas, para a luta contra a reação e o
fascismo. Estas frentes populares foram criadas para a defesa da
liberdade, da democracia e das conquistas progressistas da humanidade,
ameaçadas pelo fascismo. O fascismo nasceu sob os auspícios da reação
internacional, que o criou e desenvolveu visando dele servir-se para
atacar o país do socialismo, a grande União Soviética, para atacar a
classe operária e sua vanguarda, o Partido Comunista, e para golpear
todas as demais forças progressistas em todos os países do mundo. Era
este o plano da reação internacional, o plano dos grandes magnatas das
finanças, cujos interesses se viam crescentemente ameaçados pelas
conseqüências de sérias crises econômicas, isto é, pela força crescente
das massas exploradas das cidades e do campo, ou, em outras palavras,
pelo perigo dos grandes movimentos sociais.
A
reação internacional esperava conseguir com a agressão fascista contra a
União Soviética o que no passado não havia sido conseguido com várias
intervenções de países capitalistas, quando, estando ainda no nascedouro
esse Estado de operários e camponeses, tentaram destruir o governo
soviético e restabelecer o tzarismo. A reação internacional estava
possuída de um medo pânico em relação ao país do socialismo, a União
Soviética, que se erguia, como um farol, a iluminar o caminho a ser
seguido, rumo a um melhor futuro, por todas as massas nacionalmente
oprimidas e socialmente exploradas no mundo inteiro. A solução justa
para as questões social e nacional, isto é, o derrubamento da classe dos
exploradores — os capitalistas e os latifundiários, — e a criação de um
Estado de operários e camponeses, despertavam o entusiasmo não só da
classe operária e da maior parte dos camponeses, como também de todas as
forças progressistas do mundo. Ao mesmo tempo era isto o que mais
irritava e aterrorizava a reação internacional, já metida em sérios
apertos resultantes de crescentes crises econômicas. Em vista disso, a
reação internacional precisava do fascismo, porque os operários,
camponeses e demais forças progressistas do mundo tornavam-se cada vez
mais perigosos para os vários tipos de opressores nacionais e de cruéis
exploradores dos trabalhadores; porque as massas trabalhadoras, com
firmeza crescente, reclamavam seus direitos, exigindo a melhoria das
insuportáveis cone sociais, nacionais e econômicas a que estavam
submetidas.
A
reação internacional, ou melhor, os que possibilitaram o advento do
fascismo, não estavam errados ao supor que o fascismo era de fato o mais
encarniçado inimigo não só da classe operária, como também de todos os
movimentos progressistas, da liberdade e de as conquistas culturais e
democráticas. Os senhores da reação internacional não se enganavam ao
pensar que o fascismo tentaria, com a maior determinação, destruir não
só o movimento operário, mas igualmente todos os movimentos
democráticos, assim que chegasse ao poder. O caso da Alemanha, onde
Hitler introduziu o mais brutal, totalitário e terrorista sistema de
Estado, é a melhor comprovação disso. Igualmente o demonstram a Itália
de Mussolini, a Espanha de Franco, etc.
Contudo,
a reação internacional encabeçada por Chamberlain. Daladier, Hoover e
outros enganavam-se ao supor que as potências do contentar-se-iam com a
perseguição da classe operária e dos elementos democráticos de seus
países, ao supor que seriam apenas um obediente instrumento na luta
contra os elementos progressistas. Mais tarde, quando tornou-se claro
para todos que a agressão era o principal objetivo dos Estados
fascistas, a reação internacional julgou que estes contentar-se-iam com
um pequeno prêmio imperialista, a Áustria ou a região dos Sudetos, por
exemplo. Mas esses senhores incorreram em um triste engano; o apetite
imperialista de Hitler, Mussolini, Hirohito e outros era na verdade
insaciável. E as conseqüências foram estas: a reação internacional
semeou os ventos e as Nações das colheram as tempestades. O advento do
fascismo na Itália, Alemanha e no Japão, e mais tarde na Espanha, foi a
conseqüência lógica das contradições existentes no mundo capitalista. As
contradições latentes entre as potências imperialistas eram de tal
ordem que se chegou a esse resultado paradoxal: o rebento da reação (o
fascismo) ergueu a mão contra seu país, desobedeceu-lhe às ordens e
atacou, não a União Soviética, e sim os países do ocidente. As
agressivas potências fascistas não se contentavam com as pequenas
concessões feitas pela reação internacional. As conseqüências dos
tratados de paz que se seguiram à primeira guerra imperialista mundial
haviam emaranhado de tal maneira a contabilidade imperialista que o
imperialismo alemão, há muito ansioso por uma revanche, achou oportuno
não se dar por satisfeito com os pequenos presentes que lhe eram
oferecidos por Chamberlain, Daladier e outros, às custas de pequenos
povos. Com a ajuda da reação internacional o fascismo inchara de tal
maneira que já não cabia dentro das fronteiras de seus países, e
rebentava essas fronteiras levado pelo desejo de conquistar o mundo. A
própria Europa tornou-se pequena demais para Hitler. Contudo, dessa vez o
mundo foi salvo, às custas de enormes sacrifícios, e graças,
principalmente, à União Soviética.
Mas,
que vemos hoje? Vemos que a reação internacional esta ensaiando uma
nova importância. E, ainda desta vez, utilizando o fascismo.
O
imperialismo agressivo e insaciável, lutando para conservar suas
posições e para usurpar posições novas, emparelha-se com a ideologia
fascista terrorista, retrógrada, agressiva, com cujo auxílio deseja
impedir a propagação de concepções humanas e progressistas acercada
sociedade moderna, impedir a propagação do marxismo-leninismo, impedir a
criação de Estados genuinamente democráticos, já que não pode destruir o
grande Estado socialista, a União Soviética.
Hoje,
mais uma vez, a reação internacional, encabeçada pelos magnatas
financistas americanos, reinicia sua velha experiência. Mais uma vez,
impiedosamente, usando todos os meios a seu dispor, faz o possível para
reviver o fascismo em vários países, inclusive na Alemanha ocidental, e
mais uma vez procura criar focos de agressão. Pela segunda vez procura
utilizar-se do fascismo como de uma brigada de choque destinada a
realizar seus fins imperialistas. Mas, acreditamos que a despeito do
fato de estar o fascismo ganhando terreno cada vez mais na própria
América, a reação internacional também desta vez será derrotada.
A
Frente Popular era necessária antes da guerra para lutar contra o
perigo em ascensão — o fascismo. Era necessária para a luta contra a
reação em cada país separadamente. Portanto, antes da guerra, a Frente.
Popular era necessária para a vitória das forças democráticas sobre a
reação, para o fortalecimento da democracia contra a reação, para a luta
contra a crescente ameaça de guerra, porque fascismo queria dizer —
guerra. A Frente Popular era necessária para a proteção da independência
nacional, — porque o fascismo era a maior das ameaças à independência
dos pequenos povos, Era desse modo que, naquela ocasião, isto é, antes
da guerra, os Partidos Comunistas dos países capitalistas interpretavam o
papel do fascismo. E a verdade integral desta interpretação, veio a ser
comprovada na grande tragédia que foi a última guerra, quando o
fascismo escravizou não só os pequenos países, como também ameaçou os
grandes e submeteu os povos de todos eles à extermínio e sofrimentos dos
mais espantosos. Mas, ainda hoje, em vista da crescente agressividade
da reação internacional, do seu desejo de novamente utilizar-se dos
métodos fascistas, da volta dos provocadores-de-guerra fascistas que
vociferam cada vez mais alto, — as forças progressistas em todos os
países, e no mundo inteiro, devem jogar toda a sua força na luta contra a
reação, que mais uma vez quer provocar no mundo uma tragédia semelhante
à por que acabamos de passar. Mais uma vez devemos travar uma luta
constante e resoluta contra a reação e o fascismo, isto é, contra os
provocadores-de-guerra.
Mas agora devemos ter em mente, com todo o cuidado, os erros cometidos no passado.
As
Frentes Populares cumpriram suas tarefas às vésperas e durante a grande
guerra de libertação? Não, em alguns países elas não estiveram à altura
de suas tarefas. E por que isto aconteceu? Porque os acordos só foram
feitos por cima, entre os líderes dos partidos, porque os frentes
populares se compunham de vários partidos liberados por dirigentes não
só hesitantes, mas mesmo reacionários e traidores, que nas horas mais
decisivas, ou recuaram covardemente ou se passaram para o lado dos
invasores fascistas. Estas frentes populares, devido à sua
heterogeneidade e à falta de um plano de ação definido e à falta de uma
política sem vacilações, eram mais de um caráter declamatório, do que
uma união militante, uma frente, firme e sem vacilações, capaz de
resistir à reação de seus países e à crescente ameaça de guerra custasse
o que custasse. Pode-se, portanto, compreender, mas não desculpar,
porque os Partidos Comunistas de alguns países não levaram a cabo suas
tarefas de organização da luta contra as forças de ocupação, e de
criação de um governo genuinamente democrático. Em outras palavras: eles
não foram capazes de levantar as amplas massas do povo logo no
princípio, e de se colocar à testa destas massas. Mesmo apesar de alguma
resistência ter sido mais tarde oferecida aos ocupantes em alguns
países, estas lutas — devido às razões expostas, — não possuíram um
caráter unitário, nem os resultados obtidos foram os que deviam ter sido
conseguidos, e que corresponderiam aos desejos do povo. Isto,
naturalmente, teve como resultado a volta do poder às mãos da reação
destes países.
Minha convicção profunda é que as principais causas destes erros são as seguintes:
Não
houve coragem e decisão suficientes. Enquanto se criava a frente
anti-fascista, dever-se-ia levar em conta que no caso de uma agressão
fascista não era possível continuar a luta de comícios e desfiles; seria
necessária a luta armada, e portanto deviam ser feitos os preparativos
para ela;
Não houve confiança nas forças do povo, mas havia ilusões em relação aos líderes dos diversos partidos;
As
frentes populares não eram uma união militante, com uma direção
uniforme e resoluta, com um programa militante definido e uma linha
clara e definida.
Uma
exceção a esse respeito foi a Grécia onde, a despeito da luta heróica
das forças democráticas gregas contra os invasores, a reação assumiu o
poder após a guerra. Os que colaboraram com os ocupantes, ou os que
viveram no exílio, assumiram o poder. Mas só chegaram ao poder com a
ajuda da intervenção descarada de algumas grandes potências do ocidente,
de alguns imperialistas que agora desejam conquistar seus objetivos
imperialistas nos Balkans através da Grécia escravizada.
Muitas
pessoas pensam hoje que as frentes populares são algo já superado, algo
supérfluo nesta fase de desenvolvimento, etc. Mas isto é um erro.
Conquanto as frentes populares não tenham sido igualmente eficazes em
todos os países durante a guerra, em virtude das razões dadas acima, as
frentes populares são hoje ainda mais necessárias. A diferença consiste
em que lhe devemos dar um novo conteúdo.
É
que hoje a reação está cada vez mais agressiva, o fascismo levanta a
cabeça, os provocadores-de-guerra vociferam cada vez mais. Portanto, o
perigo de guerra cresce se não exercermos vigilância, se não aprendermos
as lições do passado recente, se não tomarmos medidas enérgicas contra
todos os provocadores de guerra, se todas as forcas progressistas não se
unirem, — não só dentro de cada país separadamente, mas também em
escala mundial, numa luta mais firme contra os provocadores de guerra e
pela paz.
As
frentes populares estão, portanto, se unindo em uma frente mundial pela
paz. Esta unificação significa um esforço conjunto e organizado para a
consolidação da paz e da cooperação internacional.
Por
outro lado, pode acontecer que nos diferentes países as frentes
populares possuam graus diferentes de desenvolvimento político e
organizativo. Contudo, elas só serão inteiramente úteis para o
desenvolvimento interno de cada país se gradualmente se transformarem em
uma organização única de toda a nação, com o objetivo de resolver
efetivamente todos os problemas do país: políticos, econômicos, sociais,
culturais, etc. Em outras palavras: devem desenvolver-se até atingir um
grau que possibilite um programa único acerca de todas as questões da
vida interna.
A
democracia de novo tipo é, portanto, deste modo, possível e realizável.
Dentro desta perspectiva, na etapa atual, ela pode sobreviver e
prosseguir no seu desenvolvimento. Neste caso, as frentes populares
transformar-se-ão gradualmente em uma única organização política de toda
a nação, congregando a grande maioria do povo, unido em seus objetivos.
Naturalmente, podemos estar certos de que a reação internacional
uivará, dirá que se trata de um sistema de governo de partido único, que
isso contradiz e o chamado principio americano das quatro liberdades,
etc., etc. Mas, deixemos que uivem a seu bel prazer, pois é isso tudo o
que podem fazer. Quanto a nós, podemos imediatamente formular-lhes uma
pergunta concreta: quantos partidos os senhores têm? Apenas dois. E com
que se parecem seus partidos? Em essência, são iguais; subsistem e se
apóiam na todo-poderosa ditadura do dólar. São, portanto, partidos dos
grandes magnatas das finanças, embora incluam pessoas bem intencionadas
que, mesmo querendo agir, nada podem fazer. São, portanto, partidas da
democracia de tipo ocidental, — um tipo de democracia de qualidade muito
má, — partidos através dos quais os grandes capitalistas exercem sua
ditadura. Por maiores que sejam numericamente, não passam de partidos de
um punhado dos maiores capitalistas da América. É esta a situação no
momento; mas certamente tempo virá quando uma transformação para melhor
há de ocorrer, quando as amplas massas trabalhadoras da América venham a
gozar de fato as liberdades das quais tanto se fala, e que para elas,
como para as massas dos demais países capitalistas, não passam, hoje, de
um sonho.
O Caráter da Frente Popular na Iugoslávia Antes da Guerra
A
Frente Popular na Iugoslávia, antes da guerra, diferia das frentes
populares de alguns outros países pela característica de não ser uma
aliança temporária com os partidos burgueses. Ela não foi criada por
cima, por acordo entre os líderes; foi criada de baixo para cima, sob a
liderança do Partido Comunista da Iugoslávia. Não era numericamente tão
forte quanto as frentes populares de outros países, mas sua qualidade
era melhor. Claro está que isso não quer dizer que tenhamos deixado de
convidar os líderes dos demais partidos a ingressar na Frente Popular.
Isto não quer dizer que tenhamos rejeitado acordos com os líderes dos
Partidos que iriam unir-se à Frente Popular. Não, semelhante atitude
seria errada e prejudicial, porque neste caso teria sido impossível
desmascarar estes líderes, perante as massas, como reacionários. Teria
sido impossível arrancar-lhes a máscara de democracia, atrás da qual se
escondiam a fim de iludir as massas. Se tivéssemos cometido esse erro,
teríamos nos exposto ao perigo de nos isolarmos das massas, e neste caso
não só a força numérica da frente popular teria sido arriscada, como
também o resultado da luta contra o inimigo teria sido também
prejudicado.
Antes
da guerra, os elementos mais progressistas de nossa pátria haviam
aderido à Frente Popular: a classe operária liderada pelo Partido
Comunista, os intelectuais do povo, os setores progressistas do
campesinato e da população das cidades, sem considerações de filiação
partidária. O programa da Frente Popular era claro e definido. Foi
traçado pelo Partido Comunista da Iugoslávia, e consistia dos seguintes
pontos:
Luta contra a exploração social e a opressão nacional;
Luta pela democratização do país e contra o fascismo;
Adoção das medidas necessárias para a defesa do país contra o crescente perigo de um ataque por parte dos invasores fascistas;
Luta contra a quinta-coluna;
Estabelecimento de relações diplomáticas com a União Soviética e, posteriormente, conclusão de uma aliança com ela.
Os
líderes dos Partidos burgueses opunham-se à Frente Popular e ao seu
programa. Os líderes dos chamados partidos democráticos da burguesia
inclinavam-se, — nos períodos de eleições, — entrar em entendimentos com
os representantes da classe operária, mas apenas levados por motivos
político-especulativos visando a tomada do poder. Assim que chegavam ao
poder esses senhores revelavam seu caráter reacionário através de sua
atuação contra os interesses do povo (caso de Macek, Cvetkovic e
outros).
Em
conseqüência disso, graças ao instinto político amadurecido das amplas
massas trabalhadoras, à política justa do Partido Comunista, à sua luta
firme Dela conquista das massas, e seu trabalho entre as massas, foi
possível a criação de uma Frente Popular firme, mesmo antes do ataque à
Iugoslávia. Essa frente temperou-se nas violentas lutas diárias contra
os governos anti-nacionais que perseguiam cruelmente tudo o que havia de
progressista em nossa pátria, que determinadamente levavam o país para
os braços de Hitler e Mussolini, até que, finalmente, o governo de
Cvetkovic-Macek criou o infame pacto anti-comunista com os invasores
fascistas.
Isto
quer dizer, ainda, que não só os líderes de vários partidos da velha
Iugoslávia se recusaram a participar da Frente Popular, como também
aqueles que estavam no poder sistematicamente perseguiam os elementos
progressistas da Frente Popular. Durante o governo de Macek e Cvetkovic,
e de Subasic na Croácia, centenas de antifascistas foram detidos e
arrojados nas prisões e campos de concentração, e, no momento da
capitulação, entregues aos alemães e colaboracionistas ustachis, que os
assassinaram brutalmente.
Estes
senhores não podem hoje, de maneira alguma, justificar os seus crimes,
porque bastaria a abertura das portas das prisões para salvar muitos dos
melhores filhos de nossos povos das mãos dos enforcadores de Hitler e
Pavelic. Devemos pois lançar nos ombros de Macek a culpa pela morte
destas centenas de camaradas; é ele o réu principal, e deve responder
por esse crime. Os falsos democratas Macek, Cvetkovic, Subasic e outros
entregaram os melhores filhos de nossos povos nas mãos do invasor.
Kerestinac é a acusação irrefutável contra esses "democratas"! O sangue
de Augusto Cezarec, de Bozidar Adzija, de Ognjen Prica e de centenas de
outros antifascistas brada em acusação e prova que Macek, Cvetkovic e
muitos como eles eram, e ainda são, os piores reacionários e inimigos da
liberdade e do progresso. Este sangue prova que estes senhores eram
colaboradores dos invasores fascistas e dos criminosos ustachis.
Ato
sórdidos como estes e outros semelhantes praticados por estes senhores
terminaram por abalar a fé de seus partidários, que gradualmente foram
compreendendo que a Frente Popular, liderada pelo Partido Comunista, era
a única organização que consequentemente defendia os interesses das
massas trabalhadoras e que também saberia como defender a independência
da pátria.
Toda
e qualquer pessoa que possuísse um sentimento de responsabilidade
nacional não poderia deixar de constatar com indignação, nas vésperas e
durante os primeiros dias de invasão, como era anti-racionai e traidora a
camarilha governante da Iugoslávia e, acima de tudo, como era
incrivelmente grande sua incapacidade para a direção dos assuntos
estatais.
Não
resta dúvida que nossa pátria teria passado por uma tragédia muito mais
horrível se não fora a existência de uma organização que, nas horas
mais difíceis, foi capaz de mobilizar o povo e dirigi-lo na luta — uma
luta de vida e morte — pela libertação da pátria, Esta organização foi o
Partido Comunista da Iugoslávia, que organizou a Frente Popular e se
colocou à frente da luta, sem poupar o sangue dos seus membros.
E
aconteceu que, no momento em que o povo, congregado na Frente Popular,
começou a pegar em armas para defender não só sua liberdade, mas também
sua existência, suas vidas, quase todos os líderes dos diversos chamados
partidos, largaram o povo entregue à sua própria sorte.
Contudo,
o povo tomou sua sorte em suas próprias mãos, e não só libertou a
pátria, mas foi além, criando sobre fundações novas uma nova e melhor
Iugoslávia, expulsando todos os que mereciam ser assim tratados.
Quais eram então as características básicas da situação política nas vésperas da guerra e nos primeiros dias da ocupação?
Todos
os partidos burgueses, incluindo o chamado Partido Camponês de Macek,
haviam chegado definitivamente ao fim de sua autoridade e prestígio;
todos estes partidos, alguns mais e outros menos, eram, quando no poder,
sustentáculos da monarquia, o que quer dizer, sustentáculos da reação; e
todos eles, sem exceção, agiam contra os interesses dos trabalhadores;
A
Iugoslávia isolada dos seus velhos aliados, a Pequena Entente liquidada
(colaboração com as potências do Eixo, Stojadinovic, Jevtic, príncipe
Paulo e outros);
Crescente
resistência contra a política de entrega do país ao fascismo, campos de
concentração e terror crescente exercido pelo governo contra os
elementos progressistas anti-fascistas;
Firme
determinação do governo Cvetkovic-Macek, seguindo ordens do príncipe
Paulo, de atrelar a Iugoslávia ao carro do Eixo, e realização do chamado
pacto anti-comunista;
Completa incapacidade dos círculos governantes — tanto no setor civil como no militar — para organizar a defesa do país;
Proteção
à organização terrorista fascista, os chamados ustachis, não só por
parte da camarilha reacionária do Partido Camponês da Croácia dirigido
por Macek, como também por parte dos governantes de Belgrado;
Completo
caos por ocasião do ataque à Iugoslávia; a maioria dos líderes de
partido abandonou as massas nos dias mais difíceis, — fugindo para o
exterior, entrando abertamente para o serviço dos invasores ou se
escondendo, e tudo isso significava, simultaneamente, a separação das
massas dos dirigentes dos seus partidos, e a adesão das massas à Frente
Popular;
Neste
momento, o Partido Comunista da Iugoslávia ganha integral confiança das
amplas massas populares, confiança que se torna cada vez maior no curso
da luta.
Os
líderes dos diversos partidos burgueses já se haviam revelado tal qual
eram quando teve lugar o ataque á Iugoslávia, e a atitude desses
senhores nos primeiros dias de ocupação só serviu para que perdessem
final e definitivamente a confiança das massas populares. Como vemos, a
Frente Popular na Iugoslávia representava a unificação de todos os
setores populares progressistas, de todos os anti-fascistas, de todos os
que estavam prontos para defender, sob a liderança do Partido
Comunista, a independência da pátria; de todos os que estavam prontos
para lutar contra os invasores e seus mercenários internos. É por isso
que a Frente Popular na Iugoslávia diferia da frente popular de outros
países, Ela era uma aliança forte e coesa justamente porque nela não
havia líderes reacionários ou vacilantes.
Incluía
as massas progressistas de vários partidos sob a liderança do Partido
Comunista. Havia exceções. Na Slovênia, por exemplo, havia gente
progressista entre os líderes dos partidos burgueses que, por motivos
patrióticos, uniu-se ao povo e com ele compartilhou de todos os
infortúnios dos difíceis dias da guerra... Houve casos como este também,
em outras províncias, porém em escala menor.
Após
a invasão do país; o Partido Comunista da Iugoslávia conclamou o povo a
pegar em armas contra o invasor. Este apelo foi atendido pelas massas
populares em proporções cada vez maiores. Foi atendido até mesmo por
aqueles que nem faziam parte da Frente Popular. Foi atendido por todos
os patriotas. Todos os que amavam sua pátria, que estavam prontos para
lutar contra o invasor e seus traidores nativos, congregavam-se agora na
Frente Popular. Foi atendido particularmente por todos os que estavam
ameaçados pelo punhal dos ustachis e, mais tarde, pela adaga dos
chetniks.
Claro
está que a solução justa do problema nacional, a solução justa do
problema social e, mais ainda, as perspectivas claras de uma ordem
social radical na nova Iugoslávia tiveram enorme importância para o
fortalecimento da Frente Popular entre as massas, para a sua firmeza e
perseverança. Está fora de dúvida que sem perspectivas tão claras o
nosso povo não poderia ter suportado esforços tão grandes na guerra de
libertação. E por outro lado, o sucesso de nossa luta contra o invasor e
seus traidores nativos dependeu da firme fé de nosso povo em um futuro
melhor e na vitória.
A
Frente Popular adquiriu então um caráter novo e mais amplo, e uma maior
responsabilidade. O programa da Frente Popular passou a incluir novos
pontos, como por exemplo: luta contra o invasor, luta contra os
traidores nativos, fraternidade e unidade dos povos da Iugoslávia,
organização dos comitês de libertação nacional, etc. Este programa foi
completado e ampliado paralelamente com a luta e com a extensão do
território libertado. A Frente Popular, liderada pelo Partido Comunista,
passou a ser gradualmente responsável pela organização do novo governo,
do novo Estado, porque, como organização política com um programa
determinado, tornava-se o principal sustentáculo do novo governo, criado
em substituição ao velho. Com seu Programa militante e democrático, a
Frente Popular da Iugoslávia, liderada pelo Partido Comunista, deu um
caráter novo e verdadeiramente democrático do novo governo. Este caráter
democrático foi gradualmente completado e aperfeiçoado através dos
representantes da Frente Popular na Assembléia Popular da Federação e
nas Assembléias Populares das repúblicas federadas.
Por que era essencial empreender a organização do novo governo logo nos primeiros dias de luta?
Porque,
como já vimos, as massas populares perderam a confiança nos líderes de
seus partidos; e, naturalmente, essa desconfiança tornou-se maior
durante a guerra de libertação, logo que ficou patente que a maioria
destes líderes estavam colaborando abertamente com os invasores, ou
soprando de seus esconderijos ou do estrangeiro que o povo não devia
lutar, e sim esperar.
Porque
o invasor, através de seus quislings nativos, começou a se utilizar do
aparelho do velho Estado a fim de escravizar o povo mais facilmente; os
chefes de aldeias, os prefeitos de distrito e assim por diante, passaram
a servir como órgãos do inimigo na tarefa de pilhar o país, de
encaminhar o povo para o trabalho forçado, de facilitar a luta dos
invasores contra o povo já sublevado, de exterminar os patriotas que não
se conformassem com a ocupação e que não se curvassem servilmente ante o
invasor. Não se podia deixar que continuasse existindo uma máquina de
destruição como esta: tinha de ser destruída. No curso da luta de
libertação foi gradualmente destruída pelos destacamentos de
guerrilheiros e mais tarde, finalmente, pelo Exército de Libertação
Nacional da Iugoslávia.
Porque
os povos da Iugoslávia se convenceram de que o antigo governo não era
apropriado, nem na essência nem na forma, e porque compreenderam que era
necessário criar um governo novo,
tanto
na substância como na forma, — um governo do povo. Como vemos, embora a
Frente Popular, liderada pelo Partido Comunista da Iugoslávia, tenha
escolhido, desde os primeiros dias da luta de libertação, a forma de
governo popular que ainda hoje temos, esta forma de governo não foi
inventada, imposta, e não era desconhecida. Não, era uma forma de
governo conhecida pelo povo, conhecida porque eles a esperavam, de há
muito a desejavam e a traziam em seus corações. Era justamente a forma
de governo mais adequada para nossa pátria. Nosso povo desejava esta
forma de governo porque tinha alguma semelhança com a forma de governo
na União Soviética.
E
assim, após a abolição do velho governo, um novo governo popular foi
criado, baseado nos princípios da verdadeira democracia popular. Este
novo governo popular surgiu do povo, e a Frente Popular foi sua base
política.
Ao
discutirmos o problema da Frente Popular na Iugoslávia não devemos de
forma alguma esquecer certas características específicas da Frente
Popular em diversas regiões, seu desenvolvimento desigual, o
desenvolvimento desigual da própria insurreição em várias regiões. Esta
desigualdade foi condicionada pelas marcas do passado ou pela situação
política geral que deixou profundos traços em algumas regiões.
Em
relação com isto não posso deixar de dizer que fora de nossa pátria há
pessoas, pessoas progressistas, que ainda sustentam que a insurreição na
Iugoslávia só assumiu as proporções que sabemos e só teve o grande
sucesso que teve devido a condições políticas internas excepcionalmente
favoráveis e a condições geográficas, condições essas que favorecem a
luta. Contudo, estas afirmativas são insensatas e estúpidas, tão
insensatas e estúpidas que chegam a parecer maliciosas, objetivando
diminuir a importância da luta heróica que travamos. Elas não mereceriam
sequer ser mencionadas aqui, não fora pelo fato de serem constantemente
repetidas. Era justamente na Iugoslávia onde as condições políticas
eram as menos favoráveis à luta contra as forças de ocupação. E Isso
acontecia, em primeiro lugar, porque a Iugoslávia é um Estado
multinacional onde, antes da guerra, não havia igualdade entre as várias
nacionalidades. Havia, ao contrário, a mais cruel opressão nacional por
parte dos hegemonistas sérvios. Havia um forte sentimento de ódio entre
os vários povos, e esse ódio era fomentado pelos governantes, pelos
antigos partidos burgueses, era sistematicamente fomentado por alguns
sacerdotes reacionários de várias religiões, quer dizer, fomentado em
uma base religiosa. O ódio nacional que existia antes da guerra,
fomentado ao máximo, ao ponto de chegar à exterminação mútua, por
alemães, italianos e outras forças de ocupação, este ódio nacional não
podia ser um estimulante do desenvolvimento da unidade dos povos da
Iugoslávia para a difícil e áspera luta contra os invasores. Ao
contrário: este ódio impediu que a luta se desenvolvesse com maior
sucesso e aumentou os sacrifícios feitos pelo povo. Foi justamente
devido a esse ódio nacional mútuo que os invasores puderam encontrar na
Iugoslávia alguns quislings como Pavelic, Nedic, Rupnik e, finalmente,
Draja Mihailovic, a quem deram forte apoio na luta contra o Exército de
Libertação Nacional. O papel desempenhado pelo Partido Comunista e pela
Frente Popular em conjunto, assim como por todos os combatentes da linha
de frente se delineia, em vista disso, com importância ainda maior,
pois incansavelmente difundiram e pregaram o ideal de fraternidade e
união de todos os povos da Iugoslávia.
Não
foi fácil mobilizar as massas croatas para a luta contra o invasor, que
ajudara a fundar o chamado Estado independente da Croácia, com Pavelic à
frente. Foram precisos muitos esforços para desmascarar inteiramente
essa falsa independência. Foi somente graças ao trabalho do Partido
Comunista na Croácia, ao amadurecimento político de grandes setores do
povo croata, e à maturidade política dos sérvios na Croácia, graças à
Frente Popular da Croácia, que os planos dos invasores e dos bandidos
ustachis foram anulados e a maioria do povo croata mobilizou-se para a
luta contra o invasor.
Não
foi fácil convencer o povo da Macedônia a aderir à luta. Sob o governo
dos hegemonistas pan-sérvios o povo macedônio foi cruelmente perseguido e
nacionalmente oprimido, ou, melhor dito, sua nacionalidade macedônia
não era sequer reconhecida. Foi preciso explicar os problemas
pacientemente ao povo macedônio e mostrar-lhes a perspectiva de
conquistar, através da luta de libertação e com a assistência dos outros
povos da Iugoslávia, a sua própria liberdade nacional. Através de
sacrifícios e de um trabalho persistente o Partido Comunista conseguiu
êxito no cumprimento destas tarefas. E esse êxito também pertence à
Frente Popular na Macedônia.
Na
Slovênia, logo após a invasão do país foi criada, por iniciativa do
Partido Comunista, uma Frente de Libertação para a luta contra o
inimigo, que ameaçava não só a liberdade da Slovênia, como a própria
existência do povo sloveno. Aconteceu, portanto, que, na Slovênia, a
Frente de Libertação teve desde o início um caráter eminentemenfe
nacional, e a este respeito a Frente Popular da Slovênia diferiu de
saída das frentes populares em outras províncias.
Na
Sérvia, Montenegro, Bósnia e Herzegovina o desenvolvimento da Frente
Popular sob a ocupação ocorreu quase que sob as mesmas características.
Desde o princípio que foi acentuado o seu caráter de massa. Isso tornou
possível uma certa antecipação no início da insurreição ,o que teve
influência sobre todas as outras insurreições nas províncias iugoslavas,
fazendo com que irrompessem cedo, ainda em 1941.
O Papel da Frente Popular na Guerra de Libertação
Já
mostramos como a Frente Popular assumiu um caráter expressivamente
democrático desde o dia de sua formação. Constatamos que a Frente
Popular foi composta pelos elementos mais progressistas, — pela classe
operária e todos os demais setores progressistas, sem considerações de
filiações políticas anteriores ou de condição social. Tendo um programa e
objetivos comuns, a Frente Popular transformou-se em uma organização
duradoura de toda a nação, cujo papel na guerra de libertação adquiriu
extraordinária importância, isso porque, sem uma Frente Popular do tipo
que era a nossa, não poderíamos sequer imaginar uma luta bem sucedida
contra as torças de ocupação nem a conquista de tudo quanto hoje
possuímos.
O
caráter verdadeiramente democrático da Frente Popular tornou possível a
criação do novo governo popular, um governo de caráter verdadeiramente
democrático, cuja criação foi possível em virtude da existência dos
Comitês de Libertação Nacional. Estes comitês eram os órgãos de nossa
Frente Popular, levando à prática todas as tarefas quotidianas de
mobilização de soldados, para o Exército de Libertação Nacional, de
abastecimento da frente de combate, de consolidação da retaguarda nos
territórios libertados, de resolver todos os assuntos abrangidos pelo
novo governo popular no território livre.
Na
parte ainda ocupada de nosso território, o trabalho da Frente Popular
era mais difícil, porém mesmo lá foram criados ilegalmente comitês de
libertação nacional. Também lá a Frente Popular, sob a liderança do
Partido Comunista, realizou a mobilização de novos soldados, coletou
diversas espécies de auxílio para a Frente Popular, levou a cabo a
propaganda em favor da luta de libertação. A Frente Popular desempenhou
um papel importante no território ocupado, divulgando e fortalecendo
entre o povo a fé na vitória da luta de libertação nacional, a fé na
vitória da União Soviética e seus aliados. A desorganização e a
desmoralização que a Frente Popular propagou nas fileiras das forças de
ocupação e entre os quislings do território ocupado foi de grande
benefício não só para a luta de libertação nacional na Iugoslávia, como
também para nossos aliados.
A Frente Popular de Após-Guerra, no Período de Paz
A
Frente Popular, temperada e ainda mais unificada politicamente através
da Guerra de Libertação, com sua já enorme experiência, começou, logo
após a guerra, a enfrentar vigorosamente a realização de novas e grandes
tarefas. A organização final do novo Estado sobre as ruínas da velha e
debilitada Iugoslávia, a reconstrução do país, tão severamente
danificado durante a guerra, etc., eram as tarefas que deviam ser
cumpridas pela Frente Popular logo após a vitória sobre as forças de
ocupação e os traidores nativos. Quando nos lembramos de como toda a
reação internacional se esforçou para restabelecer na Iugoslávia a velha
ordem, a velha e superada democracia de tipo ocidental, —- só então é
que vemos quantas dificuldades tivemos de enfrentar para a criação da
nova Iugoslávia, a Republica Popular Federativa da Iugoslávia, um Estado
com uma ordem social nova e mais justa. Mais uma vez a Frente Popular
desempenhou um papel de enorme importância. Foi na Frente Popular que
nos apoiamos, sempre que algumas potências ocidentais, utilizando-se de
várias ameaças, nos queriam impor os antigos governantes, o velho regime
que nosso povo odeia tão intensamente, o regime de Grol, Macek, Subasic
e seus semelhantes, servos fieis de seus senhores estrangeiros, e que
sempre serviam aos interesses estrangeiros às custas dos povos da
Iugoslávia. A Frente Popular foi a fortaleza com que contamos para não
nos rendermos ante as ameaças, fossem quais fossem, das potências
estrangeiras.
As
eleições para a Assembléia Nacional mostraram a enorme força vital da
Frente Popular como organização política nacional. Os resultados das
eleições para a Assembléia Nacional representam uma das maiores vitórias
da Frente Popular. 95% dos que, de acordo com as novas leis, têm
direito a voto, pronuniciaram-se pela nova Iugoslávia, pela Frente
Popular.
A
Frente Popular prestou assim serviços imensuráveis à realização dos
desejos daqueles que deram suas vidas na heróica luta de libertação
nacional para que fosse criada uma Iugoslávia nova e melhor; prestou
imensuráveis serviços à realização das esperanças dos lutadores da
guerra de libertação, para o cumprimento das aspirações dos
trabalhadores de nossa pátria, o que quer dizer, da imensa maioria de
nossos povos. Foi somente graças à existência de uma Frente Popular como
essa que se tornou possível chegar tão completa e rapidamente a uma
nova forma de governo. Foi somente graças a isso que se tornou possível
criar em tão pouco tempo um novo sistema, e fazê-lo funcionar
adequadamente, sob novas condições, em novas relações sociais. Foi
somente graças à Frente Popular que em nossa Pátria, apesar de todos os
obstáculos, tivemos uma estabilização política tão rápida.
O Papel da Frente Popular na Reconstrução
Nossa
pátria saiu desta guerra terrivelmente destruída e devastada. As
feridas que o invasor abriu em nossos povos são tão profundas que, nas
velhas condições políticas e econômicas seriam necessárias várias
dezenas de anos para cicatrizá-las. Mas a Frente Popular introduziu,
também na reconstrução, a tremenda energia criadora e realizadora de
nosso povo, o ardor de nossa juventude, o espírito de sacrifício dos
nossos operários, dos nossos camponeses e dos nossos intelectuais do
povo.
Foi
somente graças à Frente Popular que nossas comunicações foram
restabelecidas, que as pontes demolidas foram reconstruídas, que o
transporte ferroviário, fluvial e marítimo foi restaurado, e tudo isto
conseguido em um tempo incrivelmente pequeno. Cabe à Frente Popular o
grande mérito da reconstrução da maioria de nossas aldeias e cidades
devastadas. E é graças à ela, e principalmente aos operários da Frente
Popular, que nossas fábricas foram devolvidas à vida ativa e começaram a
trabalhar em tão curto espaço de tempo.
Grande
merecimento cabe à Frente Popular pela solução bem sucedida de vários
problemas sociais, culturais e educacionais na nova Iugoslávia. O
governo, tanto o governo federal como o das repúblicas federadas, não
teria sido capaz de resolver todos esses problemas se não contasse com o
auxílio de uma organização de massas tão poderosa como é a nossa Frente
Popular.
O Plano Qüinqüenal e a Frente Popular
Quando
o governo esboçou o projeto do Plano Qüinqüenal, levou em conta o fato
de que este grandioso plano para o progresso econômico de nossa pátria
só pode ser realizado graças à existência da Frente Popular, apoiada na
energia realizadora de nossas massas. A execução do Plano Qüinqüenal é
uma tarefa grande e difícil, que requer os maiores esforços da Frente
Popular. A construção de nossa pátria, a industrialização e
eletrificação do país, serão realizadas graças à união dos povos
congregados na Frente Popular, graças ao entusiasmo sem paralelo que
demonstram pelo trabalho a juventude, os operários, os camponeses, os
intelectuais que estão com o povo, e todo os demais cidadãos
trabalhadores de nossa pátria.
Em
vista de tudo isso torna-se claro que a Frente Popular não só
desempenhou um importantíssimo papel durante a guerra, mas que tem um
papel ainda mais importante a desempenhar na construção pacífica de
nossa pátria. Portanto, ela também é uma necessidade indispensável para o
futuro de nossos povos. Como a Frente Popular é quem melhor representa,
não só a unidade política de nossos povos, mas também a fraternidade e
união no sentido nacional, ela não pode ser substituída por quaisquer
partidos políticos burgueses.
É
por esta razão que a Frente Popular tornou-se uma organização política
popular geral e duradoura. É por isto que é insubstituível, e este o
motivo porque difere de todos os antigos partidos políticos e coligações
de partidos. A Frente Popular, por sua própria natureza, nada tem de
comum com qualquer espécie de partido criado pelos diversos governos da
Iugoslávia antes da guerra, ou com os partidos criados pelos governos
totalitários nos países fascistas. Tais partidos e organizações eram
criados pelos diversos governos totalitários e reacionários; seu
objetivo era o de conservar, sob novos, rótulos, a velha ordem
capitalista já superada. Eram criados com o objetivo de impedir a
democratização do país, a democratização de novo tipo. Em outras
palavras: tais organizações eram fundadas contra o povo, com o fim de
extinguir as liberdades democráticas nestes países. Nos países
totalitários estas organizações fascistas eram criadas, naturalmente,
acima de tudo, com o objetivo de preparar a guerra de agressão. Foi
através de organizações como estas que os nacionalismos agressivos e
antagônicos foram levados ao grau máximo, visando a conquista e
escravização de outros povos.
Ao
contrário disso, a Frente Popular na Iugoslávia é uma organização de
todas as pessoas progressistas, — não só para a luta contra a reação e o
fascismo, para a luta pela preservação das conquistas já realizadas e
realização de outras, como também é uma organização que já cumpriu
grandes tarefas em nossa pátria, e que cumprirá outras mais no futuro.
Nossa Frente Popular é uma democracia de novo tipo; é uma democracia
popular verdadeira. Tal é a característica política da Frente Popular na
Iugoslávia, tal é a característica política do governo popular na
Iugoslávia, que se apóia na Frente Popular e dela procede.
Que nos ensina, em relação ao desenvolvimento político interno, a experiência ganha até agora?
Na
velha Iugoslávia criada em Versalhes, havia muitos partidos com
diversos programas. Todos eles tomavam como modelo a chamada democracia
ocidental, que na realidade era — e hoje é mais ainda, — uma ditadura de
uma minoria sobre a maioria, isto é, a ditadura de um punhado de
capitalistas sobre a maioria do povo, com a camarilha governante
encabeçada pela monarquia, escolhendo sempre um ou mais partidos de
acordo com a necessidade, neles se apoiando a fim de pôr em vigor as
diversas medidas contra o povo. Os demais partidos permaneciam na
oposição até que lhes tocava a vez de sugar os cofres públicos, já que
os serviços prestados à camarilha governante eram bem pagos, às custas
do povo. Desta maneira, todos os partidos tiveram sua vez, exceto, é
claro, o Partido Comunista; porém nada melhorava, não se cuidava do bem
estar do povo, e, ao contrário, as coisas sempre pioravam,
O
que isto prova? Isto prova que todos os partidos burgueses do Período
anterior à guerra estavam desacreditados e perderam o direito de hoje
falar em nome do povo. Mostraram-se incapazes de dirigir o país e, por
conseguinte, na nova ordem social dos nossos dias já não há
justificativa para sua existência, tornaram-se supérfluos.
A Nova Ordem Social em Nossa Pátria, Exige Uma Nova Forma de Vida Política
Partidos
políticos numerosos e heterogêneos em suas concepções representariam
para nossa pátria o maior dos obstáculos a um desenvolvimento rápido e
duradouro.
A
possibilidade de existência de partidos políticos numerosos e com seus
velhos programas e concepções caducas é excluída não só pela estrutura
política de nossa pátria, como também pela sua estrutura econômica.
Um
programa econômico unificado exige unidade política. Imaginemos o
seguinte quadro: terminou a guerra, começou a reconstrução do país. Toda
a nação deve ser mobilizada para a execução de numerosas e importantes
tarefas, e existem diversos partidos, dirigidos pelos diversos Grols,
Maceks, Subasics, Lazics, Gavrilovics, etc. Um diz: esta ponte não deve
ser construída em primeiro lugar; primeiro devemos fazer aquela outra.
Outro diz: Por que se dá mais ajuda a, digamos, Bósnia, Lika e
Montenegro do que às demais repúblicas? E todos juntos diriam,
provavelmente: Por que jogar fora estes bilhões na reconstrução de
aldeias devastadas? É melhor esperar até que nos restabeleçamos um
pouco, ou até que recebamos reparações, etc. Todos eles diriam: Para que
precisamos de um Plano Qüinqüenal? Para que industrializar e
eletrificar o país? Nossos avós e bisavós viveram nessa terra sem
eletrificação e sem industrialização, — nós podemos fazer o mesmo. Para
que precisamos de uma agricultura planificada, Deixemos que cada
camponês se arranje como melhor puder.
Podemos
estar certos que tais partidos iriam difundir entre o povo idéias como
estas e muitas outras semelhantes. Isto paralisaria nossas forças,
tornaria impossível a realização de tudo o que leva nossa pátria para
mais próximo da prosperidade e do bem estar. Mas alguém pode dizer:
porém, na nossa Frente Popular também existem vários partidos burgueses.
Isto é verdade, mas acontece que as massas, isto é, os adeptos desses
partidos, e alguns de seus dirigentes, aderiram à Frente Popular antes
que seus principais dirigentes o fizessem, aderiram desde o tempo da
luta de libertação e, após a guerra, os líderes destes partidos chegaram
à conclusão de que a Frente Popular era a melhor solução para o nosso
povo, e em vista disso também eles aderiram, e hoje ocupam cargos de
responsabilidade na administração do país. Enquanto estes dirigentes
aplicarem o programa da Frente Popular, enquanto estiverem de acordo com
a concepção política e econômica existente, sua presença na Frente
Popular não lhe enfraquece a unidade. Ademais, os líderes de alguns
partidos que estão na Frente Popular são, em sua maioria, homens
progressistas que desejam contribuir no maior grau possível para o
prestigio e a construção de nossa pátria. Por conseguinte, a presença
deles, em vez de enfraquecer, serve para fortalecer a Frente Popular.
A Frente Popular e o Partido Comunista
O
Partido Comunista da Iugoslávia foi o iniciador e organizador da Frente
Popular da Iugoslávia, ainda antes da guerra. Ele trouxe para a Frente
Popular toda a sua grande experiência de organização e direção das
lutas. Deu à Frente Popular os seus quadros temperados pela luta,
quadros que serviram, e ainda servem, de exemplo, — quer na direção da
luta durante a guerra de libertação, quer na construção do país.
Justamente devido a essas qualidades, o Partido Comunista ainda hoje
desempenha um papel dirigente na Frente Popular. As amplas massas
populares continuam a lhe confiar este papel.
O
Partido Comunista da Iugoslávia tem outro programa diferente do
programa da Frente Popular? Não, o Partido Comunista não tem outro
programa. O Programa da Frente Popular é também o seu programa.
Qual é então a diferença entre o Partido Comunista e os outros partidos da Frente Popular?
Como
vanguarda da classe operária, o Partido Comunista da Iugoslávia recebeu
a missão de liderar todas as forças democráticas progressistas na
reconstrução pacífica de nossa pátria, — o mesmo papel que lhe coube
durante a guerra de libertação. O Partido Comunista aceitou esta grande
tarefa sob as novas condições criadas pela guerra de libertação. Durante
a ocupação coube a ele o papel de organizador e diligente da luta de
libertação, pela liberdade e independência dos povos da Iugoslávia.
A
missão de liderar todas as forcas progressistas do povo congregadas na
Frente Popular foi assumida pelo Partido Comunista como um resultado do
caráter específico da revolução em uma determinada etapa, como um
resultado de novos caminhos, — particularmente característicos na
Iugoslávia, — que conduzem a uma transformação social definida.
Até
à criação do novo Estado nas condições já mencionadas, o Partido
Comunista foi não só a vanguarda da classe operária, mas também o líder
de todas as forças progressistas que lutaram juntas por um objetivo
definido, isto é, pela expulsão do inimigo, pela destruição dos
traidores nativos e pela criação de um novo edifício estatal — a
República Popular Federativa da Iugoslávia.
Após
a criação do novo Estado, o Partido Comunista tornou-se o líder de todo
o desenvolvimento social; na organização do governo Popular, isto é, na
organização do Estado, na construção do país, na vida econômica e
cultural, etc., Desempenhou este papel como parte componente da Frente
Popular, ocupando a vanguarda porque demonstrou sua capacidade de
direção.
Em
cada época do desenvolvimento social, das transformações sociais,
existem etapas definidas que caracterizam esta época, e que são
condicionadas pelos elementos fundamentais dos acontecimentos desta
época.
Quais são as características fundamentais da época atual?
O
aparecimento do fascismo. Em virtude das contradições irreconciliáveis
entre os imperialistas, nasceu o fascismo, com seu excessivo desejo
imperialista de dominação mundial, não só econômica como também
política, com o desejo de liquidar as pequenas nações e criar espaço
vital para a chamada raça superior, com o desejo de destruir todas as
conquistas culturais do mundo.
A
grande guerra de libertação nacional e a derrota militar total do
fascismo, empreendidas pelas Nações Unidas, tendo à frente a União
Soviética.
O
colapso do velho sistema estatal nos países da Europa oriental, sistema
esse que se baseava nos princípios da chamada democracia ocidental, e
criação de novos sistemas nestes países, sistemas baseados sobre
princípios de genuína democracia popular.
Transformações
sociais revolucionárias estão ocorrendo, inspiradas pela luta contra os
invasores fascistas, pela liberdade e independência nacional, pela
realização de um sistema social mais justo, em lugar do velho sistema
capitalista, baseado nos princípios da chamada democracia ocidental.
Tentativa
de restauração do fascismo por parte das potências imperialistas com o
fim de contrabalançar o poder crescente da democracia de novo tipo, e
como força de ataque para realização dos objetivos imperialistas.
Provocações
guerreiras e calúnias contra as novas democracias. Incapaz de
satisfazer completamente seus apetites imperialistas, a reação
internacional, tendo à frente os imperialistas americanos, desfecha uma
áspera campanha de calúnias contra os países democráticos, especialmente
contra a União Soviética e a Iugoslávia. Os provocadores de guerra
esforçam-se violentamente para lançar o mundo em um novo conflito, em
uma nova catástrofe.
Em
oposição à frente da reação, ergue-se a frente da paz. Em oposição à
unidade da reação internacional e aos provocadores de guerra, vai sendo
mais e mais realizada a unidade de todos os homens progressistas, e já
está sendo conquistada uma unidade de todos os que desejam paz e
colaboração internacional. A frente da paz está sendo criada, a frente
da democracia.
Os
interesses comuns da classe operária e de todas as forças
verdadeiramente democráticas, especialmente nos penses da Europa
oriental, e particularmente em nossa pátria, — constituem o fator
principal na criação da unidade política, na criação de verdadeiras
democracias populares de novo tipo.
Com
a liquidação do velho sistema social em nossa pátria, com a
nacionalização e a transferência dos meios, de produção para as mãos dos
trabalhadores, em uma palavra, com a criação da nova Iugoslávia, com
sua nova estrutura política e econômica, o interesse de todos os que
participam neste trabalho torna-se idêntico, comum.
O que é, então, a Frente Popular em nossa pátria?
A
Frente Popular em nossa pátria é uma organização política nacional
duradoura, com um programa permanente e claramente definido.
A
Frente Popular é a união política dos trabalhadores de nossa pátria, —
operários, camponeses, intelectuais do povo, jovens, mulheres e todos os
cidadãos que trabalham, o que quer dizer, de todos os que trabalham
integrados no espírito da nova Iugoslávia.
Isto
prova, portanto, que os povos da Iugoslávia têm na Frente Popular sua
organização política comum, temperada e provada nas horas mais duras de
nossa história. Isto prova que nossos povos — unidos nesta organização
na qual também participa o Partido Comunista da Iugoslávia — serão
capazes de conseguir um futuro melhor e mais feliz. Esta organização
comum, a Frente Popular, é uma garantia de que nossos povos
salvaguardarão as conquistas da grande luta de libertação,
salvaguardarão a fraternidade e unidade que constitui o penhor de todos
os nossos sucessos no presente e no futuro. Isto significa que nossos
povos, assim unidos, salvaguardarão tudo aquilo por que morreram os
melhores filhos e filhas de nossa pátria, salvaguardarão a comunidade de
povos irmãos, — a República Popular Federativa da Iugoslávia.”
Fundação Dinarco Reis
pcb
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