Angie
Todd
SÍRIA é o coração do Oriente Médio, no sentido geoestratégico e
nacionalista. Partilha suas fronteiras com o Iraque, O Líbano, Israel, Turquia e
Irã, com o qual tem uma aliança forte, reafirmada recentemente pelo presidente
Mahmud Ahmadinejad, no contexto da agressão acentuada da Europa e dos Estados
Unidos, quando enfatizou que seu país no permitirá nenhuma interferência
estrangeira ali.
Síria sempre foi um aliado firme da Palestina, com mais de 472 mil
refugiados dessa nação, e perdeu seu território das colinas do Golã, ocupadas
por Israel durante sua guerra de expansão de 1967, que ainda reclama.
A Constituição síria de 1973 define oficialmente o país como um
estado socialista secular, com o Islã reconhecido como sua religião majoritária.
Desde então, conseguiu manter um estado de diferentes credos, incluindo cristãos
coptas, judeus e outras denominações muçulmãs, com um desenvolvimento econômico
e social contínuo, apesar das sanções impostas pelos Estados Unidos, nos últimos
anos dos setenta, quando a Síria foi qualificada como um país patrocinador do
terrorismo.
Sua posição geoestratégica colocou a Síria na mira dos EUA e de
seus aliados europeus com dois objetivos: primeiro, para enfraquecer a
resistência a Israel e isolar o Irã e; segundo, para promover sua batalha pelo
controle do Oriente Médio e o petróleo da região.
A faísca da violência em Síria, em março, tal como o caso da
Líbia, não foi nem espontânea nem essencialmente nacionalista em seu conteúdo,
mas sim facilitou que os Estados Unidos aproveitassem os ventos que sopram na
região para utilizá-los em seu objetivo de substituir o governo sírio por um
mais dócil a seus requerimentos.
Embora exista uma oposição genuína na Síria, desde o começo, o
conflito civil no país foi alimentado por forças exteriores. Inicialmente, todos
os confrontos armados tiveram como palco cidades cerca de suas fronteiras, em
uma réplica do acontecido em Bengazi, na Líbia. Não é nenhuma surpresa que haja
muito poucas informações na Internet em relação com esta infiltração de forças
de elite, precisamente com a intenção de desestabilizar o país. Mas, em termos
gerais, a oposição está muito fragmentada, carece de um programa popular e de
uma ideologia coerente, e tem como líder um sírio previamente exilado na
França.
No contexto deste conflito nacional, Síria empreendeu uma política
de consulta popular, dirigida a implementar reformas constitucionais, para
efetuar eleições parlamentares, em fevereiro de 2012 — com as eleições
presidenciais programadas para 2014— junto com as reformas sociais e as
negociações para uma solução pacífica, enquanto insiste em resolver, de forma
soberana, os problemas nacionais. Em novembro, apresentou uma queixa formal
contra os Estados Unidos, por sua intervenção em seus assuntos internos.
Tal como no caso da Líbia, a mídia corporativa desempenhou um
papel premeditado, particularmente logo após o início do surto de violência
armada em Síria. Inicialmente, de forma deliberada, apresentaram como detenções
de civis a apreensão de pessoas envolvidas em atos de violência contra o estado
e, com a evolução da situação, a eliminação de grupos terroristas por parte das
forças armadas sírias, ou das mesmas forças, como se fossem simples civis.
Depois do fim dos acontecimentos na Líbia, esta campanha de
desinformação acirrou, refletindo a intoxicação dos poderes neocoloniais dentro
da OTAN e dos Estados Unidos, ao terem submetido as Nações Unidas a sua vontade
de destruir aquele país, sem ter que envolver suas forças no campo, e
antecipando a extensão deste novo modelo de guerra "bem-sucedida" à Síria.
Fizeram ouvidos moucos das crescentes manifestações, em massa, de
apoio ao governo da Síria, em Damasco e outras grandes cidades. As notícias
recentes da morte de milhares de pessoas, aceitas sem indagar sua veracidade por
parte das Nações Unidas e Anistia Internacional, foram extremamente exageradas
e, inclusive, baseadas nada mais que numa sondagem telefônica sobre supostos
assassinatos de cidadãos sírios que, realmente, estão plenamente vivos. Os
protestos contra a intervenção da Liga Árabe, nos fins de novembro, resultaram
em uma erupção de apoio popular, com passeatas de mais de 1,6 milhão de
cidadãos. Acerca desses fatos houve um silêncio total.
Após o desastre exemplificador da Líbia, o apoio da Rússia, China
e outros países emergentes a uma pacífica solução regional do conflito sírio
impediu uma intervenção militar, mas a ONU impôs sanções fortes e mobilizou a
Liga Árabe, com sua maioria dócil, para promover e legitimar uma intervenção
imperialista, aos olhos da opinião pública internacional.
Em 7 de dezembro, o presidente Bashar al-Assad concedeu uma
entrevista a Barbara Walters, do canal estadunidense ABC, cujo tom hostil foi,
claramente, parte de um exercício de propaganda. Numa dada altura do programa,
que foi transmitido em inglês, Walters perguntou: "Qual o senhor acha que foi o
maior conceito errado que meu país tem acerca do que está acontecendo aqui, se
verdadeiramente há um conceito errado?"
A resposta perspicaz do presidente al-Assad foi: "Um conceito
errado de muita coisa… há inúmeros fatos distorcidos, estão na mídia. Porém, o
mais importante, como o acúmulo destes fatos, é que não têm visão. O problema
dos poderes ocidentais em geral, especialmente os Estados Unidos, é que carecem
de uma visão — pelo menos de minha região, não vou falar do resto do mundo —, e
pifaram no Iraque, no Afeganistão, na luta contra o terrorismo".
Fonte: granma.cu
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