Com o encerramento, no domingo, (28/7) da visita do Papa Francisco,
Mario Bergollio, na Jornada Mundial da Juventude, o que me chamou a atenção foi
a postura do Papa, um tanto quanto controversa: quando de um lado exorta a
igreja a promover uma aproximação com os mais pobres e sair as ruas na busca
desse intento, por outro lado, mantém as tradicionais políticas conservadoras
da igreja secular, sem qualquer menção ou intenção de modificá-las, mantendo inalterada
essa política conservadora com relação a temas candentes da atualidade, aceitas
pela maioria da população e já admitidas em vários países, inclusive
judicialmente legalizadas. É o caso do casamento entre pessoas do mesmo sexo,
adoção de crianças; o uso de preservativos para se evitar nascimentos indesejáveis
e a questão do aborto, procedimento legal, também, adotados em alguns países.
Tudo indica, salvo engano ou alguma surpresa mais a frente, que o Papa é
um populista de direita que faz um discurso progressista e age da mesma forma
que o Papa anterior, Bento XVI. Pelo menos Bento XVI, não escondia o jogo e era
bem claro em suas posições conservadoras.
Falando nisso, qual vai ser sua posição com relação a Opus Dei? O Papa
Bento XVI mantinha relações cordiais e amistosas com o Bispo Chefe da Prelazia
da Organização Opus Dei. Entidade de grande poderio financeiro e grande
influência política em boa parte do mundo, inclusive na America Latina, onde
domina Jornais importantes e setores do judiciário Paulista, segundo denúncias
de ex-membros da organização.
Para refrescar a memória, tendo em vista a visita do Papa Francisco no
Brasil, reeditamos a matéria:
A Opus Dei na America
Latina
Bento XVI saúda D. Javier Echevarría Rodríguez,
Bispo titular de Cilibia, Prelado da Prelazia Pessoal do Opus Dei, Foto Flickr
(Escritório de informação do Opus Dei
A Opus Dei atua também no monopólio da
imprensa. Controla o jornal "El Observador", de Montevidéu, e exerce
influência sobre órgãos tradicionais da oligarquia como "El
Mercurio", no Chile, "La Nación", na Argentina e "O Estado
de São Paulo", no Brasil.
O elo com a imprensa é o curso de pós-graduação em
jornalismo da Universidade de Navarra em São Paulo, coordenado por Carlos
Alberto di Franco, numerário e comentarista do "Estadão" e da Rádio
Eldorado.
O segundo homem da Opus Dei na imprensa brasileira
é o também numerário Guilherme Doring Cunha Pereira, herdeiro do principal
grupo de comunicação do Paraná ("Gazeta do Povo").
Os jornalistas Alberto Dines e Mário Augusto
Jakobskind denunciam que a organização controla também a Sociedade
Interamericana de Imprensa - SIP (na sigla em espanhol).
Analisando a estrutura de classes dos países
latino-americanos, Darcy Ribeiro identificava como segmento hegemónico dentro
das classes dominantes o corpo de gerência das transnacionais. Ponta de lança
do imperialismo, é ele quem dita ordens e impõe ideologias às demais fracções
e, em muitos casos, organiza-as politicamente. A desnacionalização das
economias latino-americanas na década de 90 agravou este quadro. A alteração de
mais relevo no perfil da classe dominante verificada no bojo deste processo é o
crescimento da influência da Opus Dei. Sustentada pelo capital espanhol, a
organização controla jornais, universidades, tribunais e entidades de classe,
sendo hoje peça chave para se compreender o processo político no continente,
inclusive no Brasil, onde quer eleger Geraldo Alckmin presidente da
República.
Procissão Católica na Espanha, berço da Opus Dei.
Mas o que é afinal, a Opus Dei (em latim, Obra de
Deus)?
Em seu campo original de atuação, é a vanguarda das
tendências mais conservadoras da Igreja Católica. "Este concílio, minhas
filhas, é o concílio do diabo" teria dito seu fundador, Josemaria Escrivá
de Balaguer, sobre o Vaticano II, no relato do jornalista argentino Emilio J.
Corbiere no seu livro "Opus Dei. El totalitarismo católico".
Fundada na Espanha em 1928, a organização foi
reconhecida pelo Vaticano em 1947. Em 1982, foi declarada uma prelatura
pessoal, o que, sob o Direito canónico, significa que só presta contas ao papa
e que seus membros não se submetem à jurisdição dos bispos. "A relação
entre Karol Wojtyla e a Opus Dei" conta o teólogo espanhol Juan José
Tamayo Acosta "atinge seu êxito nos anos 80-90, com a irresistível
ascensão da Obra à cúpula do Vaticano, a partir de onde interveio altivamente,
primeiro no esboço e depois na colocação em prática do processo de restauração
da Igreja católica sob o protagonismo do papa e a orientação teológica do
cardeal alemão Ratzinger."
Fontes ligadas à Igreja Católica atribuem o poder
da Obra à quitação da dívida do Banco Ambrosiano, fraudulentamente falido em
1982.
Obscurantismo e misoginia são traços que marcam a
organização. Exemplos podem ser encontrados nas denúncias de ex-adeptos como Jean
Lauand, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo -
Universidade de São Paulo (USP), que recentemente escreveu junto com mais dois
ex-membros, o juizMárcio Fernandes e o médico Dário Fortes Ferreira, o livro
"Opus Dei - os bastidores". Em entrevista ao programa Biblioteca
Sonora, da Rádio USP, Jean Lauand conta que a Obra tem um "Index" de
livros proibidos que abrange praticamente toda a filosofia ocidental desde
Descartes. Noutra entrevista, à revista Época, Jean Lauand denuncia as
estratégias de fanatização dos chamados numerários, leigos celibatários que
vivem em casas da organização: "Os homens podem dormir em colchões
normais, as mulheres têm de dormir em tábuas. São proibidas de segurar crianças
no colo e de ir a casamentos". É obrigatório o uso de cinturões com pontas
de ferro fortemente atados à coxa, como prática de mortificação que visa
refrear o desejo. Mas os danos infligidos pelo fanatismo não se limitam ao
corpo.
No site que mantém com outros dissidentes
(http://www.opuslivre.org/), Jean Lauand revela que a Obra conta com médicos
especialmente encarregados de receitar psicotrópicos a numerários em crise
nervosa.
A captação de numerários dá-se entre estudantes de
universidades e escolas secundárias de elite. Centros de estudos e obras de
caridade servem de fachada. A Opus Dei tem forte presença na USP, em especial
na Faculdade de Direito, onde parte do corpo docente é composta por membros e
simpatizantes,como o numerário Inácio Poveda e o diretor Eduardo Marchi. Outro
expoente da organização na USP é Luiz Eugênio Garcez Leite, professor da
Faculdade de Medicina e autor de panfletos contra a educação mista. A Obra atua
também na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade de
Campinas (Unicamp) e Universidade de Brasília (UnB).
Fazendo a América
Mas a Opus Dei é mais que um tema de saúde pública.
Ela tem, desde a origem, uma clara dimensão política. Durante a ditadura de
Franco, praticamente fundiu-se ao Estado espanhol, ao qual forneceu ministros e
dirigentes de empresas e órgãos governamentais. No fim da década de 40, inicia
sua expansão rumo à América Latina. Não foi difícil conquistar adeptos entre
oligarquias como as da Cidade do México, Buenos Aires e Lima, que sempre
buscaram diferenciar-se de seus povos apegando-se a um conceito conservador de
pretensa hispanidade. Um dos elementos definidores desse conceito é exatamente
o integralismo católico.
Alberto Moncada, outro dissidente, conta em seu
livro "La evolución del Opus Dei": "os jesuítas decidiram que
seu papel na América Latina não deveria continuar sendo a educação dos filhos
da burguesia, e então apareceu para a Opus Dei a ocasião de substituí-los -
ocasião que não hesitou em aproveitar".
No Brasil, a organização deitou raízes em São Paulo
no começo da década de 50, concentrando sua atuação no meio jurídico. O
promotor aposentado e ex-deputado federal Hélio Bicudo conta que por duas vezes
juízes tentaram cooptá-lo. Seu expoente de maior destaque foi José Geraldo
Rodrigues Alckmin, nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)por Médici
em 1972 e tio do atual governador de São Paulo. Acontece que nos anos 70, o
poder da Opus Dei era embrionário. Tinha quadros em posições importantes, mas
sem atuação coordenada. Além disso, dividia com a Tradição, Família e
Propriedade (T.F.P.) as simpatias dos católicos de extrema-direita.
Era natural, da mesma forma, que, alguns quadros
dos regimes nascidos dos golpes de Estado de 1966 e 1976, na Argentina, e 1973,
no Uruguai, fossem também quadros da Opus Dei. Mas segundo se lê no livro de
Emilio J. Corbiere , sua atuação era ainda dispersa, o que não os impediu de
controlar a Educação na Argentina durante o período Onganí (1966-70).
Já no Chile, a Opus Dei foi para o pinochetismo o
que havia sido para o franquismo na Espanha. O principal ideólogo do regime,Jaime
Guzmá, era membro activo da organização, assim como centenas de quadros civis e
militares.
No México, a Obra conseguiu fazer Miguel de la
Madrid presidente da República em 1982, iniciando a reversão da rígida
separação entre Estado e Igreja imposta por Benito Juárez entre 1857 e 1861.
Internacional reacionária
A Opus Dei não criou o reacionarismo católico,
antes, teve nele sua base de cultura. Mas sistematizou-o doutrinariamente e
organizou politicamente seus adeptos de uma forma quase militar. Hoje, funciona
como uma espécie de Internacional reaccionária, congregando, coordenadamente,
adeptos em todo o mundo.
Concorrem para isto, nos anos 90, o ápice do poder
da Obra no Vaticano e a invasão da América Latina por transnacionais
espanholas.
A Argentina entregou suas estatais de telefonia,
petróleo, aviação e energia á Telefónica, Repsol, Iberia e Endesa,
respectivamente. A Telefónica controla o sector também no Peru e em São Paulo.
A Iberia já havia engolido a LAN, do Chile, onde a geração de energia também é
controlada pela Endesa. Bancos espanhóis também chegaram ao continente neste
processo.
No Brasil, o Santander comprou o Banespa e o
Meridional, enquanto que o BBVA recebeu os ativos do Excel através do Proer, no
governo de Fernando Henrique Cardoso.
"A Opus Dei tem sido para o modelo neoliberal
o que foram os dominicanos e franciscanos para as cruzadas e os jesuítas frente
à Reforma de Lutero" compara José Steinsleger, colunista do diário
mexicano "La Jornada".
A organização atua também no monopólio da imprensa.
Controla o jornal "El Observador", de Montevidéu, e exerce influência
sobre órgãos tradicionais da oligarquia como "El Mercurio", no Chile,
"La Nación", na Argentina e "O Estado de São Paulo", no
Brasil. O elo com a imprensa é o curso de pós-graduação em jornalismo da
Universidade de Navarra em São Paulo, coordenado por Carlos Alberto di Franco,
numerário e comentarista do "Estadão" e da Rádio Eldorado. O segundo
homem da Opus Dei na imprensa brasileira é o também numerário Guilherme Doring
Cunha Pereira, herdeiro do principal grupo de comunicação do Paraná
("Gazeta do Povo"). Os jornalistas Alberto Dines e Mário Augusto
Jakobskind denunciam que a organização controla também a Sociedade
Interamericana de Imprensa - SIP (na sigla em espanhol).
Sedeada na Espanha, a Universidade de Navarra é a
jóia da coroa da Opus Dei no negócio do ensino. Sua receita anual é de 240
milhões de euros. Além disso, a Obra controla as universidades Austral
(Argentina), Montevideo (Uruguai), de Piura (Peru), de Los Andes (Chile), Pan
Americana (México) e Católica André Bello (Venezuela).
Dentro da igreja católica, a Opus Dei emplacou, na
última década, vários bispos e Cardeais na América Latina. O mais notável é
Juan Luís Cipriani, de Lima, no Peru, amigo íntimo da ditadura de Alberto
Fujimori. Em seu estudo "El totalitarismo católico em el Peru", o
jornalista Herbert Mujica denuncia que quando o Movimento Revolucionário Tupac
Amaru tomou a embaixada do Japão, em 1997, Juan Luís Cipriani, valendo-se da
condição de mediador do conflito, instalou equipamentos de escuta que
possibilitaram à polícia invadir a casa e matar os ocupantes.
Na Venezuela, a Obra teve papel essencial no
fracassado golpe de 2002 contra Hugo Chávez. Um dos articuladores da tentativa
foi José Rodríguez Iturbe, nomeado ministro das Relações Exteriores. Também
participou da articulação à embaixada da Espanha, governada na época pelo
neo-franquista Partido Popular (PP).
Após os reveses na Venezuela, as esperanças da Opus
Dei voltaram-se para Joaquím Laví, no Chile, e Geraldo Alckmin, no Brasil, hoje
seus quadros políticos de maior destaque. Joaquím Laví foi derrotado nas
últimas eleições presidenciais chilenas em Dezembro. Resta o Brasil, onde a
Obra tenta fazer de Geraldo Alckmin presidente e formar um eixo geopolítico com
os governos Álvaro Uribe (Colombia) e Vicente Fox (México), aos quais está
intimamente associada.
Entranhas mafiosas
Além das dimensões religiosa e política, a Opus Dei
tem uma terceira face: a de sociedade secreta de cunho mafioso. Em seus
estatutos secretos, redigidos em 1950 e publicados em 1986 pelo jornal italiano
"L´Expresso", a Obra determina que "os membros numerários e supernumerários
saibam que devem observar sempre um prudente silêncio sobre os nomes dos outros
associados e que não deverão revelar nunca a ninguém que eles próprios
pertencem à Opus Dei."
Inimiga jurada da Maçonaria, ela copia sua
estrutura fechada o que frequentemente serve para encobrir atos criminosos.
Entre os católicos, a Opus Dei é conhecida como
"Santa Máfia",Emilio J. Corbiere lembra os casos de fraude e remessa
ilegal de divisas nas empresas espanholas Matesa e Rumasa, em 1969, onde parte
dos activos desviados financiaram a Universidade de Navarra. Bancos espanhóis
são suspeitos de lavagem de dinheiro do narcotráfico e da máfia russa. A Opus
Dei também esteve envolvida nos episódios de falência fraudulenta dos
bancosComercial (Uruguai, pertencente à família Peirano, dona de "El
Observador") e de Crédito Provincial (Argentina).
Na Argentina os responsáveis pelas
desnacionalizações da petrolífera YPF e das Aerolineas Argentinas, compradas
por empresas espanholas, em dois dos maiores escândalos de corrupção da
história do país, tiveram sua impunidade assegurada pela Suprema Corte, onde
pontificava António Boggiano, membro da Opus Dei.
No Brasil, as pretensões de controlo sobre o
Judiciário esbarram no poder dos Maçons.
A Opus Dei controla, porém, o Tribunal de Justiça de
São Paulo através da manipulação de promoções. Segundo fontes do meio jurídico
paulista, de 25 a 40% dos juízes de primeira instância no estado pertencem à
organização - proporção que se repete entre os promotores, no tribunal, a
proporção sobe para 50 a 75%.
Recentemente, o tribunal, em julgamento secreto,
decidiu pelo arquivamento de denúncia contra Saulo Castro Abreu Filho, braço
direito de Geraldo Alckmin, acusado de organizar grupos de extermínio desde a
secretaria de Segurança, e contra dois juízes acusados de participação na
montagem desses grupos.
A fusão dos tribunais de Justiça e de Alçada,
determinada pela Emenda Constitucional n.º 45, foi uma medida da equipe do
ministro da Justiça, Mácio Thomaz Bastos, para reduzir o poder da Obra no
judiciário paulista, cuja orientação excessivamente conservadora,
principalmente em questões criminais e de família, é motivo de alarme entre
profissionais da área jurídica.
por Henrique Júdice Magalhães
Blog GeoSapiens leia Como a Obra faz sofrer a
família
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