Publicado na Comunidade Josef Stalin
Por volta de setembro de 1942, a
soma das conquistas de Hitler era estarrecedora. O Mediterrâneo havia se
tornado praticamente um lago do Eixo, a Alemanha nazista e a Itália
fascista dominando a maior parte da costa setentrional, desde a Espanha
até a Turquia e a costa meridional da Tunísia até cerca de 100
quilômetros distante do rio Nilo.
Por Max Altman
As tropas da Wehrmacht mantinham
guarda desde o cabo setentrional da Noruega, no Oceano Ártico, até o
Egito; da ocidental Brest no Atlântico até a parte sul do rio Volga, às
bordas da Ásia Central. Regimes fascistas pré-existentes e governos
fantoches faziam o jogo do Reich nazista. França, Holanda, Bélgica,
Dinamarca, Áustria, Hungria, Tchecoslováquia, Polônia, os Bálcãs, a
Grécia e outras mais já haviam sido engolidas pelas Panzer Divisionen.
Em fins do verão de 1942, Adolf
Hitler parecia estar em esplêndida situação. Os submarinos alemães
estavam afundando 700.000 toneladas por mês de barcos britânicos e
americanos no Atlântico, mais do que se poderia substituir nos
estaleiros navais dos Estados Unidos, Canadá e Escócia, então em franco
progresso.
As tropas nazistas do 6º Exército do
marechal Friedrich von Paulus haviam alcançado o Volga, exatamente ao
norte de Stalingrado em 23 de agosto. Dois dias antes, a suástica tinha
sido hasteada no monte Elbruz, o ponto mais alto das montanhas do
Cáucaso (5.642 metros). Os campos petrolíferos de Maikop, que produziam
anualmente 2,5 milhões de toneladas de petróleo, haviam sido
conquistados em 8 de agosto.
No dia 25, os blindados do general
Kleist chegaram a Mozdok, distante apenas 80 quilômetros do principal
centro petrolífero soviético, nas imediações de Grozny e a cerca de 150
quilômetros do mar Cáspio. No dia 31 de agosto, Hitler ordenou que o
marechal-de-campo List, comandante dos exércitos do Cáucaso, reunisse
todas as forças existentes para o assalto final a Grozny, a fim de se
apoderar de todos os ricos campos petrolíferos da região.
Determinou que o 6º Exército e o 4º
Exército Panzer se lançassem para o Norte, ao longo do Volga, cercando e
sufocando Stalingrado, num vasto movimento envolvente que lhe
permitisse avançar de leste e de oeste contra o centro da Rússia,
tomando, finalmente, Moscou. Ao almirante Raeder, no final de agosto,
Hitler dizia que a União Soviética "era um 'lebensraum' (espaço vital), à
prova de bloqueio" o que lhe ensejava voltar-se para os ingleses e
americanos que "seriam obrigados a discutir os termos da paz".
Com essas conquistas vitais o "Reich
de mil anos" estaria garantindo sua subsistência e permanência: as
vastas estepes da Ucrânia, ubérrimas, a fazer brotar um infindável
celeiro dourado de trigais; os abundantes campos de ouro negro a
besuntar de energia a máquina bélica e industrial alemã.
As imagens mais longínquas de minha
meninice datam dessa época. Registram meu pai, cercado de amigos,
debruçados sobre um mapa da Europa estendido sobre a mesa, lupa em
punho, rádio em ondas curtas. Esta mesma cena provavelmente estaria se
repetindo em milhões de outros lares pelo mundo afora. Anos mais tarde,
meu pai, um jovem revolucionário imbuído de ideais socialistas, que no
começo dos anos 1930 tinha abandonado a Polônia de governo pró-nazi e
anti-semita para vir ao Brasil, relatava a agonia e o horror com que
acompanhavam a expansão irrefreável do império nazista.
Quando os cabogramas anunciaram que a
infantaria alemã havia atravessado o Don silencioso em direção a
Stalingrado, o assombro se instalou. E se a Alemanha nazista derrotasse a
União Soviética?
A ideologia da supremacia racial
ariana de Hitler se abateria sobre grande parte do mundo. Negros,
eslavos, indígenas, árabes, mestiços, mulatos, amarelos, sub-raças e
escória social, trabalhariam sob o tacão de ferro do nazismo, como
semi-escravos, para a glória da raça superior. Povos inteiros, judeus,
ciganos, seriam aniquilados em nome da limpeza étnica. Comunistas,
socialistas e liberais seriam confinados em campos de concentração e de
lá não sairiam vivos. O colonialismo na África e Ásia ganharia alento.
As liberdades seriam espezinhadas e governos lacaios em todos os
quadrantes se encarregariam de organizar gestapos em cujos porões um
elenco monstruoso de torturas ao som da Deutschland Über Alles seria
levado a cabo contra os inimigos do regime. As conquistas sociais dos
trabalhadores estariam esmagadas. O progresso, as artes, as ciências
sofreriam abalo.
Além do que, Werner von Braun e seus
assistentes em Penemunde estariam aperfeiçoando as mortíferas bombas
voadoras de longo alcance com ogivas nucleares e outras máquinas bélicas
de alta tecnologia a pender como espada de Dâmocles sobre qualquer país
que ousasse desafiar o Reich alemão. E se alguma nação pretendesse
enfrentar os interesses do Grande Império Germânico novas ondas de
panzers ou de bombas V1 e V2 desencadeariam 'blitzkriegs' preventivas
para aniquilar pelo terror qualquer tentativa.
Quando o jovem general Konstantin
Rokossovsky, levando a cabo as instruções táticas da Operação Uranus
ordenadas diretamente de Moscou e arquitetadas pelos generais Alexander
Vasilievsky e Vasily Volsky, conseguiu romper, em 19 de novembro, o anel
de aço que cercava Stalingrado, a esperança reacendeu. No entanto, a
cidade estava sitiada, os seguidos bombardeios da Luftwaffe haviam-na
reduzido a escombros. Dia após dia o cerco se apertava e em fins de
novembro a zona urbana era invadida. Veio a ordem terminante: defender a
todo custo as fábricas Outubro Vermelho e Barricadas que produziam os
carros de assalto, a Fábrica de Tratores que construía os blindados T-34
e a estação ferroviária central onde as matérias primas eram
desembarcadas.
Iniciou-se então a mais feroz, a
mais encarniçada, a mais renhida e sangrenta, a mais dramática das
batalhas militares que a História da humanidade conheceu. O terreno
coberto de destroços impedia qualquer ação de blindados, a proximidade
dos contendores tornava impraticável a cobertura aérea. Só restava calar
baionetas e passar a travar a luta casa a casa, corpo a corpo, em cada
centímetro de chão. Para ilustrar a tenacidade com que se combatia,
basta lembrar que a plataforma semidestruída da estação de trens mudou
de mãos sete vezes num único dia. Os operários da Outubro Vermelho
empunharam armas e estabeleceram uma muralha de fogo em torno da
fábrica. Jamais se havia visto tantas cenas de heroísmo, bravura e
coragem, de lado a lado, naquele cenário lúgubre das ruínas da cidade.
Nunca antes soldados haviam lutado com tanto denodo para conquistar e
defender.
Em 30 de janeiro de 1943, décimo
aniversário da subida de Hitler ao poder, o führer fazia uma solene
proclamação pelo rádio: "Daqui a mil anos os alemães falarão sobre a
Batalha de Stalingrado com reverência e respeito, e se lembrarão que a
despeito de tudo, a vitória final da Alemanha foi ali decidida". Três
dias depois, em 2 de fevereiro, o marechal-de-campo Von Paulus assinava
diante do general Vassili Chuikov, comandante das tropas do Exército
Vermelho em Stalingrado, a rendição do 6º Exército alemão. A transmissão
da capitulação foi feita em Berlim, através da rádio alemã, pelo
general Zeitzler, chefe do Alto Comando da Wehrmacht (OKW) precedida do
rufar abafado de tambores e da execução do segundo movimento da Quinta
Sinfonia de Beethoven.
A maior e a mais épica das batalhas
da 2ª Guerra Mundial que tivera início em 26 de junho havia chegado ao
fim. Foram feitos prisioneiros pelos soviéticos 94.500 soldados alemães
dos quais 2.500 oficiais, 24 generais e o próprio marechal Von Paulus.
Mortos cerca de 140.000 soldados da Wehrmacht e 200.000 homens do
Exército Vermelho. Os soviéticos tomaram do exército inimigo 60.000
veículos, 1.500 blindados e 6.000 canhões. A espinha dorsal do exército
nazista e do Terceiro Reich estava irremediavelmente quebrada.
Os mesmos milhões de lares que
tinham vivido momentos de apreensão e pavor explodiram de emoção. Hitler
havia mordido o pó da derrota. Corações e mentes voltaram-se para
glorificar os heróis combatentes do Exército Vermelho e honrar os que
tombaram no campo de batalha pela liberdade. A admiração pela
extraordinária façanha impunha a pergunta: o que levou aquele
contingente de centenas de milhares de jovens a lutar com tal fúria e
obstinação?
Certamente o apelo da Grande Guerra
Patriótica, livrar o solo pátrio do invasor. Havia mais. A leitura das
lancinantes cartas aos familiares escritas no front deixava evidente a
determinação de defender as conquistas da Revolução de Outubro por cuja
consolidação seus pais, 25 anos antes, haviam derramado sangue
enfrentando e derrotando o exército branco e tropas invasoras de catorze
países mobilizados para sufocar no nascedouro a revolução bolchevique.
A partir daí o Exército Vermelho
arrancou impetuoso rumo a capital do Reich nazista, abrindo em sua
passagem os portões macabros de Auschwitz-Birkenau. As tropas
anglo-americanas desembarcam na Normandia em 6 de junho de 1944. No dia 2
de maio de 1945, soldados do destacamento avançado do general Ivan
Koniev hasteiam a bandeira soviética no mastro principal do Reichstag.
Cinco dias depois, numa pequena
escola de tijolos vermelhos em Reims, França, na madrugada de 8 de maio
de 1945, o almirante Friedeburg e o general Jodl assinam, em nome do que
restou da máquina de guerra nazista, diante do general Ivan Susloparov
pela União Soviética, e do general Walter Bedell Smith pelos aliados, a
rendição incondicional.
Os canhões cessaram de troar e as bombas deixaram de cair. Um estranho silêncio pairou sobre o continente europeu pela primeira vez desde 1º de setembro de 1939. O mundo estava livre da sanha nazi-fascista.
Os canhões cessaram de troar e as bombas deixaram de cair. Um estranho silêncio pairou sobre o continente europeu pela primeira vez desde 1º de setembro de 1939. O mundo estava livre da sanha nazi-fascista.
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