Denis se converteu em uma
liderança comunitária depois de organizar uma caminhada pacífica; Bruno
diz que as coisas estão mudando, mesmo sem saber se para melhor ou pior.
E Lucio avalia que sua geração saiu da "sonolência" política.
Eles são alguns dos jovens que engrossaram as
multidões que tomaram as ruas do país na onda de manifestações que se
espalhou por todas as regiões do Brasil.Exatamente um mês atrás, em 17 de junho, os protestos alcançaram diversas cidades brasileiras e culminaram com a tomada do teto do Congresso Nacional pelos manifestantes de Brasília; poucos dias depois, em 20 de junho, a multidão que saiu para protestar foi estimada em mais de 1 milhão de pessoas em todo o país.
Mas até onde vai o impacto da mobilização vista em junho na vida dos jovens do país? E qual é o papel que eles veem para si nos rumos da política do país?
"Essa geração, que já é a maior parcela da população brasileira, assumiu um novo tipo de protagonismo, e acho que isso é irreversível", opina à BBC Brasil o cientista político Paulo Baía, da UFRJ.
"Eles não têm a obrigação de serem gratos pelo fim da hiperinflação como a geração anterior. Demandam reconhecimento, respeito, participação no processo decisório", diz Baía.
"Mas as instituições comuns não os representam neste momento. São pessoas que sabem o que não querem e estão abertas a possibilidades" - mesmo que essas possibilidades ainda não estejam totalmente claras, acrescenta o acadêmico.
A BBC Brasil conversou com cinco jovens de diferentes perfis e graus de militância política, em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília, e perguntou como os protestos mudaram suas expectativas em relação ao país - bem como suas próprias vidas. Confira:
- Denis, do RJ: 'Estou respirando política'
- Bruno, de BH: 'Não sei se melhorou, mas algo mudou'
- Lucio do RJ: 'Minha geração se redimiu'
- Maitê, de SP: 'Foi bacana ver tanta gente se mexer'
- Maria Claudia, de Brasília: 'Ainda é tudo meio incipiente'
"Fui nos dois primeiros protestos (de 17 e 18 de junho), no Centro do Rio, mas depois resolvi fazer algo diferente: um protesto com a pauta (das reivindicações) da Rocinha", diz o estudante de Design na PUC-RJ.
Da ideia saiu a caminhada que levou milhares de pessoas da Rocinha a um protesto diante da casa do governador Sérgio Cabral, no Leblon, em 25 de junho. "Com amigos, criei o evento no Facebook e fiquei surpreso quando 2 mil confirmaram presença. Quando a favela desce pro asfalto o pessoal acha que vai dar problema, mas a caminhada foi pacífica", conta.
O grupo conseguiu se reunir com Cabral e com o prefeito Eduardo Paes, levando demandas específicas: "O principal é o dinheiro do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), do qual um terço é previsto para ser gasto com um teleférico. A comunidade se divide quanto a se quer o teleférico, mas é unânime em uma coisa: temos outras prioridades, como saneamento, saúde", conta.
Denis conta que Cabral se comprometeu a finalizar obras do PAC 1, que ele diz estarem paralisadas, antes de debater o teleférico. Outro passo concreto foi a criação de uma comissão de fiscalização das obras, formada pelos próprios moradores da Rocinha.
"Valeu a pena protestar, porque estamos conseguindo ser consultados, mas estamos de olho", prossegue Denis, que se diz neófito no jogo da política.
"Passei a receber telefonema de deputados, sofri pressão política enorme, foi muita exposição e minha mãe ficou até preocupada. Mas quero me manter apartidário. Estamos aprendendo a quem recorrer (no caso de demandas populares), com quem conversar."
Denis diz que no momento tem "respirado política", mas não pensa em virar candidato e mantém seus planos de trabalhar na área de jogos eletrônicos. Ao mesmo tempo, suas perspectivas quanto ao Brasil mudaram.
"Antes dos protestos, não imaginava que isso pudesse acontecer. As pessoas veem os brasileiros como um povo acomodado, então dá orgulho de lutar pelos nossos direitos."
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