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sexta-feira, 6 de julho de 2012

Entrada da Venezuela no Mercosul divide governo do Uruguai


Marcia Carmo
José Mujica, do Uruguai. Reuters
Mujica é de uma ala mais à esquerda da coalizão que seu vice e seu chanceler

A entrada da Venezuela no Mercosul dividiu a base do governo do presidente do Uruguai, José Mujica. O mandatário disse nesta quinta-feira que seu vice-presidente, Danilo Astori, está "equivocado" ao criticar a entrada da Venezuela no bloco enquanto o Paraguai está suspenso desta integração.
"Danilo (Astori) se equivoca ao dizer que o ingresso da Venezuela no Mercosul foi uma ferida letal. Não é nada letal. Letal é como estávamos antes", disse Mujica. Segundo ele, o Mecosul estava "paralisado' e é preferível criticá-lo a deixá-lo estagnado.
Astori havia afirmado que a forma como a Venezuela entrou no Mercosul, com o Paraguai suspenso, "é a pior ferida institucional" do bloco desde sua criação em 1991.
O ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Luis Almagro, também disse que discordava da maneira como foi definida esta adesão. Segundo ele, na reunião do Mercosul, semana passada, em Mendoza, a presidente Dilma Rousseff teria pedido que os chanceleres deixassem os presidentes sozinhos.
No encontro a portas fechadas, disse, Dilma, Mujica e Cristina Kirchner, da Argentina, teriam resolvido a entrada da Venezuela e marcado uma reunião no dia 31 deste mês a fim de formalizar esta integração.
Almagro havia garantido à oposição uruguaia que a inclusão da Venezuela não ocorreria com o Paraguai suspenso. As afirmações do ministro uruguaio foram criticadas pelo assessor internacional da Presidência do Brasil, Marco Aurélio Garcia. Almagro foi criticado dentro e fora do governo, mas Mujica declarou que ele "está mais firme que nunca" no cargo.

Frente Ampla

Mujica, Astori e Almagro fazem parte da coalizão de centro-esquerda Frente Ampla que governa o Uruguai desde 2005. Mujica é da ala mais à esquerda da legenda, o Movimento de Participação Popular (MPP). Astori, ex-ministro da Economia, é definido como social-democrata ou uma "esquerda mais moderada", segundo especialistas.
Na opinião do especialista uruguaio Marcel Vaillant, professor de comércio internacional da Universidade da Republica, de Montevidéu, as divisões podiam ser esperadas já que a entrada da Venezuela com o Paraguai suspenso é "questionável".
"A forma particular como a Venezuela entra para o bloco é questionável e muitos têm suas dúvidas. Pelos tratados do Mercosul, os quatro países deveriam aprovar esta integração e faltam apenas alguns meses para que o Paraguai eleja novos parlamentares. Teria sido razoável esperar a eleição paraguaia e ter ouvido os especialistas jurídicos do bloco", disse ele em entrevista à BBC Brasil.
Os paraguaios vão eleger presidente, vice e parlamentares em abril do ano que vem. A entrada da Venezuela no Mercosul dependia da aprovação do Senado paraguaio e foi aprovada pelos Congressos do Uruguai, da Argentina e do Brasil.
Segundo Vaillant, Mujica afirmou que o Uruguai deverá ter "compensações" por este apoio à Venezuela como a possibilidade de negociar diretamente com outros países ou blocos. Mujica disse ainda, nesta quinta-feira, que Mercosul e Unasul deveriam formar um único grupo integrado.

BBC Brasil

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